Perícia comprova problema no coração; família relembra preconceito por suspeita de estupro
Quase três meses após a morte da menina Rafaela Pollo, 5 anos, a família dela busca ajuda psicológica para recomeçar. A menina morreu no dia 29 de outubro, após ficar internada um dia no CTI (Centro de Tratamento Intensivo) do Hospital Paulo Sacramento. Depois de uma parada cardiorrespiratória, ela não resistiu.
Ela foi internada por apresentar quadro de desmaio e convulsão e, após a morte, os médicos teriam detectado um relaxamento anal na criança. Como a equipe médica suspeitou de estupro, a polícia foi chamada e o caso registrado.
Após 50 dias “morrendo aos poucos”, como relatou nesta segunda-feira (21) à tarde a mãe, Ines Aparecida Batista Pollo, 42 anos, o laudo do exame necroscológico ficou pronto e aponta que não houve abuso algum, para alívio da família que procurou o BOM DIA para relatar o sofrimento. “Além da morte da minha filha, ainda fomos acusados de negligência. Meu marido foi apontado nas ruas como o autor de abusos. E o laudo mostra o contrário. Não houve nada disso”, afirmou Ines.
Professora, ela está afastada desde outubro e junto do marido, José Eduardo Pollo, 46, e da filha de 14 anos do casal, faz tratamento com psicólogo para superar a perda da caçula e as “terríveis consequências” após a denúncia de estupro.“Estamos todos traumatizados. Nossa família foi destruída e nada vai substituir a Rafa. Estamos sofrendo de uma causa que não provocamos.”
A mãe da menina contou que até a escola onde Rafaela estudava foi procurada por outros pais de alunos que cobravam providências contra ela e o marido. “Chamaram a diretora de negligente e até falaram que um funcionário teria abusado da minha filha, coisa absurda.”
Alívio/ Com o laudo da perícia em mãos, a professora conta que sente um certo alívio, mesmo não se conformando com a perda da filha. “Vivemos em uma sociedade que nos cobra, que duvida da nossa integridade. Saber que não aconteceu nada com a Rafa dá um certo conforto. Mas não me conformo com a perda dela e não vou me conformar nunca.”
Infecção/ O resultado do laudo aponta que a menina morreu por “endocardite bacteriana” (inflamação nas válvulas cardíacas que impede o perfeito fluxo de sangue). E essa infecção teria provocado as convulsões.
Na época da morte da menina, o BOM DIA ouviu o neurologista Gilberto Vieira, que confirmou a hipótese de que o remédio anti-convulsivo pode causar relaxamento anal. “E o laudo apontou exatamente isso”, explicou a mãe.
Recomeço/ Apesar de estar afastada do trabalho, por recomendações médicas, Ines deverá voltar a atuar na rede de ensino municipal. “Mas o médico recomendou restrições. Não sei se consigo lidar com crianças ainda porque penso na minha filha toda hora. Além disso, se acontecer algo com alguma criança sob minha responsabilidade, acho que enlouqueço”, conta emocionada.
O marido dela, que é motorista de transporte escolar, sofre atualmente pela desconfiança das pessoas. “Tenho de me explicar toda hora. Esses dias estava conversando com uma conhecida em uma loja e uma funcionária ouviu quando contei que minha filha tinha morrido. Ela na hora lembrou da repercussão por conta da suspeita de estupro”, diz José.
Com metade dos clientes que tinha no ano passado, ele voltará para a rotina do transporte escolar na próxima semana.
“A gente precisa tentar recomeçar nossas vidas”, contou o motorista.
“Foi uma fatalidade. Ainda não sabemos como a Rafa pode ter pego essa endocardite, mas não podemos ser apontados por uma coisa que não fizemos”, ressaltou Ines.
A cama da menina permanece no quarto que dividia com a irmã mais velha. “Não consigo me desfazer dela. Às vezes, deito lá e abraço o travesseiro dela para sentir o cheirinho. É uma forma de mantê-la aqui, mesmo sabendo que ela não vai voltar”, diz a mãe, que mantém poucas fotos da filha caçula no apartamento da família. “Ainda não consigo acreditar que isso tudo aconteceu com a gente. Acho que um dia vou acordar desse pesadelo. Agora só Deus para me dar forças.”
Esclarecimento
“Devo esse esclarecimento à integridade da minha filha. Só assim acredito que ela vai descansar em paz. Nossa família está pagando caro por um erro que não cometeu. Por isso, não se pode acusar ninguém sem
ter certeza”
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Ines Aparecida Batista Pollo,
professora
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