Gazeta
Noventa e cinco mil, novecentos e oitenta e quatro multas foram aplicadas a motoristas de Cuiabá em 2012, totalizando quase R$ 12 milhões. Balanço da Secretaria Municipal de Transportes Urbanos (SMTU) aponta que a infração mais cometida nas ruas e avenidas da Capital, representando metade das punições, é a falta do uso do cinto de segurança. Na sequência, aparece o uso do celular com 14.959 multas e em terceiro lugar o avanço do sinal vermelho com mais de 6 mil infrações.
Professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e especialista em trânsito, Edelmir Pereira de Oliveira afirma que as multas são instrumentos que coíbem os abusos dos condutores.
“O motorista não obedece, mas quando tem fiscalização acaba obedecendo”. De acordo com o especialista, as multas são necessárias e é uma das formas para salvar vidas, pois o desrespeito às leis de trânsito é algo cultural. “Apunição no bolso dói, por isso coíbe”.
Oliveira também enfatiza que apesar do fator cultural ser forte, outros itens também podem causar o desrespeito às leis e a imprudência no trânsito. “Problemas pessoais, a condição social e até mesmo a sensação de poder que o veículo dá ao ser humano. As infrações também estão ligadas a questões psicológicas”.
Para diminuir os acidentes de trânsito nas cidades, além da fiscalização é preciso conscientização. O professor explica que a educação de trânsito deve começar pelas crianças, para que elas possam assimilar melhor a conduta correta quando se está dirigindo e levar isso para a vida adulta. Além da educação das crianças, as campanhas nos meios de comunicação também são uma maneira de conscientizar os condutores.
“Elas não têm que ser eventuais. Campanha de educação no trânsito deve ser permanente, para que a sensibilização do motorista se estenda por todo o ano e não apenas a algumas datas especiais”, enfatiza Oliveira.
Utilizar as campanhas publicitárias para educar os motoristas é um dos objetivos da SMTU para 2013. “Já estamos planejando a Campanha ‘Volta às Aulas’para trabalhar com as crianças nas escolas, que são grandes vítimas de atropelamentos. Também realizaremos uma campanha com os agentes de trânsito instruindo os condutores, sem notificação. Aeducação no trânsito é um dos focos da nova gestão”, afirma o secretário municipal de Transportes Urbanos, Antenor Figueiredo.
O secretário também informa que 130 agentes de trânsito serão chamados ainda em 2013, pois a necessidade de “Amarelinhos” para Cuiabá é de 320 trabalhadores, quase o dobro da atual equipe. O ideal é que a cidade tenha um agente para cada mil veículos.
Mesmo com a maior conscientização dos motoristas por causa das multas, quem as aplica também é alvo de reclamação. Os 130 agentes de trânsito da Capital e os 40 agentes de transporte têm seu trabalho parabenizado e também criticado.
Uma das principais reclamações é que os agentes não conscientizam os motoristas, apenas aplicando as multas. Para o taxista Dari Silva dos Prazeres, 45, a educação de trânsito é zero. “Eles abordam e multam, sem explicar nada”. Apesar da reclamação, o taxista reconhece que os “Amarelinhos” ajudam no trânsito. “Quando são fiscalizados, os motoristas tomam mais cuidado”.
Esse também é o ponto de vista do empresário Vanderlei Dias da Costa, 40. Ele afirma que há uma melhora no trânsito causada pelas multas, mas o trabalho dos agentes se resume à aplicar multas. “Eles não ajudam no trânsito e ficam na rua só para multar”.
O aumento dos cuidados no trânsito é uma consequência das multas vista pelos motoristas. A dona de casa Aparecida Marques, 55, percebe em seu cotidiano a contribuição dos agentes de trânsito na Capital. “As pessoas tomam mais cuidado quando tem Amarelinho e acabam respeitando mais, quando dói no bolso os condutores acabam obedecendo às leis”.
A estudante universitária Vanessa Ramos, 28, reclama que as multas não aumentam a consciência no trânsito dos motoristas. “As pessoas só estão sendo multadas, não existe um processo educativo, não há investimentos em educação para os condutores”.
Para o empresário Vanderlei Dias da Costa, 40, as multas criam uma consciência de trânsito artificial. “As pessoas obedecem pelo medo, não pela educação. Depois que passam do local onde tem fiscalização os motoristas deixam novamente de obedecer às leis de trânsito”.
Ainda que as multas sejam alvo de reclamações, para alguns motoristas elas são benéficas e um caminho necessário. O empresário Ney José Silva, 44, afirma que multar o infrator é a forma mais eficaz de melhorar o trânsito. “Quem é educado não é multado. Comparo Cuiabá com outras capitais e o trânsito aqui é péssimo, os amarelinhos são uma boa ideia para a cidade”.
O aposentado Edmilson Roberto do Carmo e Silva, 67, também apoia o trabalho dos agentes de trânsito. Como o ditado popular, Edmilson defende que quem não deve não teme. “O motorista que não faz nada errado não tem problema com amarelinho ou blitz”. Em 30 anos de direção, o aposentado se orgulha de nunca ter recebido uma multa. “Isso aconteceu porque eu dirijo para mim e para os outros, esse é o segredo”.
Apesar de ser favorável à aplicação de multas, Edmilson pede mais campanhas de conscientização. “Agente está pronto para colaborar, mas é preciso orientar o motorista, não só chegar e multar”.
Independente da maneira como é feita a conscientização dos motoristas o objetivo é sempre o mesmo: salvar vidas. Somente de janeiro a agosto de 2012, cerca de 5 mil pessoas foram socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Todos os dias, dão entrada no ProntoSocorro Municipal de Cuiabá vítimas de acidentes de trânsito com ferimentos que vão de lesões leves até gravíssimas. “Um comportamento inadequado no trânsito coloca em risco a sua vida e a dos outros, proteção à vida é investimento”, enfatiza o especialista em trânsito.