PEDOFILIA MT:Menina é estuprada e morta


No mesmo dia em que um grupo de mulheres realizava a Marcha das Vadias, em Campinas/SP, a pouco mais de 100 km dali, uma jovem de 13 anos era estuprada e morta. Até o momento, nenhum outro veículo de comunicação demostrou preocupação social com o caso. No máximo, talvez, ela seja transformada em índice estatístico.


Aline Rodrigues
criança estuprada
Enquanto mulheres marchavam contra a violência sexista, uma menina era estuprada e morta.

Conheci Maria (nome fictício). Não tinha pais, vivia com um parente mais velho. Diz-se que tal pessoa a seviciava – com inaceitável constância. Por conta dessa história, não era bem aceita no grupo das meninas. Era acolhida, e nada mais, entre os meninos; mesmo entre os mais novos do que ela.

Revoltada, Maria era violenta. Xingava as meninas, falava palavrões, arrumava brigas com os garotos. Largada, não se cuidava. Vivia suja, mal arrumada. Mas usava acessórios que as garotas gostam de usar. Perdida, não sabia como trabalhar o próprio corpo. Vivia a expô-lo, talvez como forma de obter alguma aceitação. Tinha 13 anos. Era uma garota meiga, não tinha sonhos, só queria viver em comunidade.

A comunidade era seu único respaldo, embora não soubesse e, nos recolhimentos, não aceitasse. Pessoas que, como eu, gostam de Maria, travavam uma luta com as autoridades. Insistiam com as assistentes sociais para tirá-la dessa falsa proteção e colocá-la num abrigo público. Era a única forma de a isolar de uma convivência danosa. Sempre que conseguiam, passava-se algum tempo e o tal parente convencia a justiça a deixá-la voltar para casa, e o ciclo se repetia.

Este ano, Maria não foi à escola, a família não quis, o Estado não fez nada. Só a comunidade tentou, em vão.

A última vez que a vi, morava no abrigo. Encontrei-a na rua. Alegre, arrumada e menos arredia. Bonita como toda criança aos 13 anos. Ontem, recebi um telefonema. Maria morreu. Uma juíza havia permitido que ela deixasse o abrigo. De volta às ruas, a criança foi estuprada e assassinada com requintes de violência e crueldade.

O motivo? Ser mulher.

Agildo Nogueira Junior

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