Cresce a pedofilia, inclusive a cultural

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Só em 2010, 70 mil abusos contra crianças de 0 a 12 anos

ZeniyPor Mirko Testa
 Por um lado, as redes sociais estão cada vez mais atentas à praga da pedofilia, mas, por outro, estão aumentando exponencialmente o fenômeno da “pedofilia cultural”, favorecida por novos “paraísos da pedofilia” como Tuvalu e a Líbia.
O dado consta no Informe 2010 sobre a pedofilia e a pedopornografia, divulgado pela Associação Méter, fundada e presidida pelo padre italiano Fortunato di Noto para combater os abusos contra menores. O informe foi apresentado nesta quarta-feira em entrevista coletiva na sede da Rádio Vaticano, em Roma.
O evento contou com a presença do diretor da assessoria de imprensa e da emissora pontifícia, Federico Lombardi, que afirmou: “Sabemos como foi debatido o abuso sexual contra menores, como a Igreja se viu envolvida pelos motivos que já conhecemos. A atividade da Associação mostra que a Igreja está comprometida contra os abusos sexuais, em todos os âmbitos, inclusive as novas formas desse terrível drama na nossa sociedade”.
Vítimas com rosto
O informe reúne os dados de 2010, levantados mediante um atento monitoramento da internet feito graças ao acordo de cooperação assinado em 2008 entre a Associação e a Polícia Postal italiana, que permitiu investigações na Itália e no mundo e resultou em numerosas prisões por exploração sexual de menores.
Os números apontam 69.850 vítimas de abusos durante 2010. Todas são crianças em idade pré-púbere, de no máximo 12 anos de idade, contadas pela primeira vez uma por uma durante o monitoramento da rede e a partir das denúncias de sites pedopornográficos.
O informe aborda também o problema ainda mais alarmante da infantofilia, do qual, observa Di Noto, “a imprensa fala raramente, ou quase nunca”. Este fenômeno tem como alvo crianças de 0 a no máximo 2 anos. A denúncia abrange material fotográfico e de vídeo em que menores são gravados em cenas de forte caráter erótico ou mesmo em atos sexuais explícitos.
“As violências sexuais perpetradas são trágicas, indescritíveis, e são detectáveis com frequência em contextos familiares e criminais. Há casos de sets fotográficos montados de propósito, até dentro de barracos. Detectamos também violências a que as crianças são submetidas junto com animais. Tudo isso atrás dessa absurda violência sexual, cega e bestial”.
O alarmante fenômeno se reflete em números que indicam alto crescimento. Entre 2003 e 2010, foram identificados 689.394 sites. Só em 2010, foram 13.766, entre sites, redes sociais, serviços de troca de arquivos de foto e de vídeo e listas de e-mail com envio de conteúdo de pedofilia. Em 2009, tinham sido 7.240. O aumento foi praticamente de 100%.
96% do tráfego desse material ocorre em sites, enquanto os 4% restantes se valem de redes sociais (2,28%), serviços de troca de fotos e vídeos (1,51%) e listas de e-mail (0,16%).
“O site pessoal”, explica Di Noto, “ainda é o instrumento preferido pelos pedófilos, que em geral usam domínios genéricos (80% dos casos), como .info, .com, .net. Domínios aparentemente inócuos, mas que escondem fotos e vídeos de crianças violentadas. Nos outros 20% dos casos, temos domínios específicos, procedentes de áreas geográficas muito determinadas”.
Se as denúncias diminuíram na comparação com 2009, aumentou o número de sites denunciados. As referências italianas, inscritas em redes sociais e similares, eram 51: agora são 65. Crescem também as denúncias através do fórum da Méter, que passaram de 560 para 889, indicando “uma consciência mais desenvolvida, uma sensibilidade nova dos cidadãos da rede”.
“Pedofilia cultural”
Cresce, além disso, a “pedofilia cultural”, ou a proliferação de sites em que o abuso e a violência sexual contra os menores são mostrados como se fossem uma “livre escolha” que “ajuda as crianças a crescerem”, ideia que tenta escusar-se num assim chamado “retorno aos nobres costumes da Grécia antiga”.
Nesta quarta-feira, 16 de março, após anos de contínuas denúncias da Associação Méter, começou a primeira operação internacional contra os “pedófilos culturais”, expressão cunhada por um lobby que procura fazer a pedofilia passar por fato “natural e normal”.
Sobre o tema, manifestou-se também Antonino D’Anna, que, junto com Di Noto, escreveu Corpi… da gioco (Corpos... para brincar, ainda sem tradução em português), publicado pela LDC em 2010. O jornalista citou como exemplo o nascimento em 2006 do partido holandês “Amor ao próximo, liberdade e diversidade” (NVD), primeiro partido declaradamente pedófilo, que conseguiu concorrer em eleições políticas antes de ser dissolvido em 2010 e que propunha em seu programa diminuir a idade do consentimento sexual para os 6 anos.
Também foram mencionados na entrevista a “Jornada do orgulho pedófilo”, celebrada em 25 de abril juntamente com o Alice Day, dedicado ao “amor pelas meninas”, e o Boylove Day, que é dedicado ao “amor pelos meninos” e celebrado em 23 de junho e em dezembro.
“O problema”, afirmou Antonino D’Anna, “é que cresce em muitos pedófilos a presunção da impunidade, que chega a virar uma certeza”, tanto que em 2010 a Associação denunciou fotos e vídeos com 32 abusadores (mulheres incluídas) que não se intimidaram em mostrar o rosto.
“O pedófilo”, explicou D’Anna, “é um doente lúcido, que tem a capacidade de viver essa experiência achando-a normal”.
Se em 80% dos casos as vítimas são as meninas, em 78% dos casos os abusadores são homens. E, contrariamente ao que se afirma, a maior parte deles não tem um passado de abusos sexuais.
“Isto muda a perspectiva”, afirma o fundador da Associação Méter. “Deveríamos fazer um discurso a céu aberto sobre o homem e sobre como ele é educado: qual é a sua relação com a mulher? Qual é a sua relação com o sexo e com a sexualidade?”.
Redes sociais mais seguras
Boas notícias sobre outras frentes: diminuem as denúncias contra as redes sociais, que passam de 851 para 315. “Neste caso – prosseguiu Di Noto – a diminuição se deu graças ao controle que os gestores das redes sociais realizaram”.
Caem também as fotos e vídeos: em 2009, os pedófilos se serviram das redes sociais para carregar 29.250 fotos; em 2010, foram 9.750. Os vídeos passaram de 2.607 em 2009 para 896 no ano passado.
Peer-to-peer
Frequentemente, no entanto, os criminosos fazem uso do file sharing, o peer to peer, quer dizer, a troca interpessoal de material. Foram denunciados 209 arquivos que continham 111.692 entre imagens (99%) e vídeos (1%) de crianças abusadas. “Produtos rápidos, velozes de comercializar e entregar – explicou Di Noto –. O peer-to-peer é cômodo para os pedófilos e também rentável: 70% das investigações se referem à posse, produção e divulgação de material pedopornográfico”.
Líbia, oásis da pedopornografia
Em relação à localização dos servidores que gerenciam o tráfego de material pedopornográfico, 57% dos casos se encontram em países europeus, 38% na América, 4% na Ásia, 0,4% na África e 0,27% na Oceania. Na África, 100% dos domínios denunciados estão na Líbia. Na América, 94% são nos EUA.
“Na Europa – ilustrou Di Noto – 99% dos domínios estão na Rússia. Na Ásia, 50% estão em Hong Kong.”
Isso demonstra que onde não existe uma legislação adequada para lutar contra a divulgação de material deste tipo, o único instrumento em que se pode confiar é pedir ao provedor de servidores que escureça as imagens criminosas. Este trabalho se complica na Rússia e nos EUA, por exemplo, que oferecem plataformas de serviço de anonimato, para onde confluem milhares de sites capazes de escapar dos controles.
A resposta
Em 2002 a Associação do padre Fortunato Di Noto criou na Itália um disque denúncia nacional, que desde então até 2010, recebeu 21.035 ligações de emergência, além de oferecer consultas telefônicas. Quem ligou obteve informações sobre adoção, custódia, denúncias suspeitas, mas também assistência psicológica, jurídica, denúncias, assistência espiritual.
A Associação apoia também projetos no Paraguai, Congo e Romênia, pagando advogados e psicólogos para dar uma identidade às chamadas “crianças invisíveis” e assegurar-lhes uma via terapêutica. Na Itália, também auxilia na parte civil dos processos, oferecendo apoio econômico, já que as vítimas não contam com a assistência gratuita de um fundo.
Existe também um centro de escuta e de primeira acolhida, que em 2010 acompanhou e proporcionou ajuda concreta a 862 crianças, aceitou também pedidos de conversas da parte de pedófilos, e enfrentou novos problemas emergentes como a perseguição online.
Também é importante o aspecto ligado à prevenção, formação e informação que a Associação tem levado adiante, mediante 68 congressos e encontros centrados principalmente em fenômenos ligados à internet, mas também através da presença em escolas.
Entre 2002 e 2009, a Associação visitou 184 institutos. Em 2010, falou com 1.722 alunos, para conhecer seus costumes no uso do computador. Dessas pesquisas, soube-se que 62% dos jovens já tinham recebido convite para se encontrar com pessoas conhecidas por meio da internet.
Junto da Igreja
Segundo Di Noto, a Associação está “ao serviço da Igreja, do Papa, dos bispos e das dioceses, no que concerne à pastoral com os pré-adolescente, os jovens no âmbito educativo e no acompanhamento nas novas formas de exploração e abuso”.
Entre 2009 e 2010, a Associação foi convocada pela Conferência dos bispos de língua inglesa no Vaticano, em representação da experiência associativa como modelo de serviço à infância contra a pedofilia.
Vigário episcopal para as crianças
Durante a conversa com a imprensa, Di Noto falou de sua proposta de instituir um “vigário episcopal para as crianças” dentro das dioceses, para dar um “sinal claro e evidente de como a Igreja ama as crianças”.
“Frequentemente me pergunto – confessou – por que nos conselhos pastorais das paróquias, ou nas dioceses, existe a pastoral juvenil, mas não a das crianças. Portanto, deveríamos reinventar nossa forma de realizar o trabalho pastoral”.
Para Di Noto, o verdadeiro desafio é permitir “às vítimas que tinham perdido a esperança sair do túnel do silêncio e voltar a encontrar sua dignidade. Dignidade que foi obscurecida precisamente por aqueles que mais que qualquer outro deveriam protegê-las e amá-las: pais e educadores”.
Nessa problemática, “ninguém deveria ficar em silêncio. Todos deveriam sair e fazer uma revolução cultural”, disse.

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