Polícia Civil e Ministério Público do Estado não se entendem, enquanto mãe adotiva diz que se sente desamparada e quer saber paradeiro da filha
|
Da Reportagem
Quatro meses depois do sequestro da filha adotiva, Ida Verônica Feliz, de 8 anos, Tarcila Gonçalves Siqueira, de 56 anos, reclama de falta de apoio e empenho dos órgãos de justiça na apuração do crime. Na esfera jurídica, o caso se transformou em um embate entre a polícia e Ministério Público do Estado(MPE).
A menina foi retirada da casa de Tarcila sob a mira de um revólver no dia 26 de abril deste ano. Verônica tomava banho no quintal da moradia, no bairro do Porto, quando um homem invadiu local e a levou. A ação, supostamente executada a mando dos pais biológicos, Élida Isabel Feliz, 35 anos, e o italiano Pablo Milano Escarfulleri, 46 anos, teve a cobertura de outro homem, que ficou dentro do veículo parada na porta da residência.
O casal perdeu a guarda da garota porque foi preso e condenado por tráfico e uso de drogas.
Tarcila conta que o Ministério Público do Estado não aceitou o pedido de prorrogação do prazo de investigações apresentado pela polícia, posicionamento esse acatado pela juíza substituta da Oitava Vara Criminal, Suzana Guimarães Ribeiro Araújo.
O delegado da Gerência de Combate ao Crime Organizado(GCCO), Flávio Henrique Stringueta, que presidia o inquérito, chegou a ser ameaçado de responsabilização civil, criminal e administrativa por não enviar o inquérito à Justiça aos final dos 30 dias, determinado à conclusão nos casos de crimes sem prisão em flagrante.
Stringueta extrapolou 10 dias o prazo das investigações. Quando pediu a prorrogação, o delegado Gianmarco Paccola Capoani, chefe da GCCO, explicou que considerava de extrema necessidade a quebra do sigilo de e-mails implicados nas investigações. O objetivo era apurar se os pais biológicos seriam mesmo os responsáveis pelo sequestro.
Em documento enviado à promotora de Justiça Fania Helena Amorim, que se posicionou contrária à dilação de prazo e pediu a responsabilização do delegado Flávio Stringueta, escreveu que seriam as diligências finais, imprescindíveis para a certeza da autoria ou mandantes do crime para não se precipitar ao dar como certa a autoria, sem antes esgotar essa diligência.
Essa investigação, observou no documento, não implicaria em nenhum prejuízo aos direitos dos investigados que, por sinal, se valeram de perigosa ação criminosa para subtrair uma criança dos braços da única família que ela já conheceu. “Queríamos chegar à localização da menina e comprovar que está bem ou pelo menos fora de perigo iminente”, completa.
Entretanto, a promotora entendeu que a “imprescindibilidade da apuração não ficou demonstrada e, ao contrário, o inquérito demonstrado que a mãe biológica estaria de posse da vítima”.
O delegado acusou a promotora de “se preocupar com pormenores”.
A verdade é que as investigações cessaram e o processo encontra-se com a promotora Fânia Amorim.
Tarcila Siqueira diz que dias atrás esteve no MPE e conversou com a promotora. Na ocasião, estava acompanhada da filha, Milka Siqueira Nogueira, e da irmã, Laisa de Siqueira.
Ela diz que saiu no MPE triste, desamparada, talvez por ser mãe adotiva de uma criança que supostamente foi sequestrada pelos pais biológicos. “A família de Verônica sou eu, minhas filhas e meus netos; Eu tenho a guarda dela, foi em minha casa que ela apreendeu a andar, falar e ser amada, enquanto a mãe usava droga e traficava. Mesmo assim, agora parece que está tudo bem porque sabem que a menina foi levada pelos pais biológicos. Quem garante isso?”, desabafou.