Homem faz seguro de vida para amigo e planeja sua morte para ficar com dinheiro
Dois amigos se unem para dar um golpe numa empresa de seguro de vida. O plano é mirabolante: um deles tomaria cloreto de potássio, substância que induziria uma parada cardíaca. Levado ao hospital, a vítima seria dada como morta, mas conseguiria sobreviver. De posse da certidão de óbito, o falso morto dividiria a quantia com o amigo. A trama com jeito de ficção deixou uma vítima: o motorista Luciano di Carlantonio Teixeira, encontrado morto em 19 de fevereiro de 2012, na Avenida Brasil, altura de Deodoro. Para o Ministério Público estadual, Luciano foi asfixiado por dois amigos, que queriam ficar com a indenização de R$ 2,2 milhões.
O relatório de investigação da Divisão de Homicídios revela que o plano foi apresentado a Luciano pela dupla André Luis Coquemala Moinhos e Rodolpho Faria Lopes, que conheciam a vítima há um ano. “Luciano aceitou porque conhecia André e estava afundado em dívidas”, afirmam policiais da DH.
Entretanto, o que a vítima não sabia é que, desde o início, os dois amigos planejavam sua morte. A real, não a fraudada. Tanto que até o transporte para o hospital foi tramado para não levantar suspeitas. Segundo as investigações, em janeiro Rodolpho entrou em contato com o PM Thiago de Jesus Filho e acertou que ele e seu companheiro de viatura, Anderson Suisso de Souza, fariam o traslado do corpo, já que “Thiago poderia alegar que encontrou alguém na rua passando mal e levou até o hospital para ser atendido”, conforme relatou Rodolpho à polícia.
Na noite marcada para que o plano fosse levado a cabo, eles se encontraram numa festa de carnaval em Valqueire, na Zona Oeste. André levou para Luciano “uma bebida azul, com 40 comprimidos de roupinol”. Não demorou para que o motorista perdesse os sentidos e André o levasse para seu carro. Dentro do veículo, de acordo com Rodolpho, André tentava aplicar uma injeção em Luciano, sem sucesso, porque a vítima “despertava sempre que a agulha chegava perto”. Mesmo sem a aplicação, a dupla fez contato com os PMs, que levaram Luciano para o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo.
Em menos de uma hora, o motorista saía do local. À sua espera, no estacionamento, estavam André e Rodolpho. Já longe do hospital, os dois “iniciaram luta corporal com Luciano, na qual foi aplicada uma gravata até sua completa asfixia”, segundo a denúncia do MP. Os quatro acusados estão presos e aguardam julgamento.
A DH ainda não tinha pistas dos suspeitos do assassinato até três semanas depois do crime, quando André foi à especializada. Ele afirmou aos agentes que queria o registro de ocorrência da morte para pedir a indenização à seguradora. A justificativa? Ele teria um romance homossexual com Luciano e cada um dos “namorados” teria feito um seguro em nome do outro.
A história do romance era mentira, como o próprio André confessaria a agentes uma semana depois. Entretanto, é fato que os dois seguros foram feitos, cada um beneficiando um dos amigos. Só que apenas um foi pago: o de Luciano, que beneficiava André. Na DH, um funcionário da seguradora afirmou que procurou André depois da morte de Luciano para perguntar o motivo da falta do pagamento. Por e-mail, ele respondeu que “caso recebesse o valor do sinistro ia confiar na empresa e, aí sim, confirmar o outro seguro”.
- O Luciano conheceu o André um ano antes de morrer. Nunca gostei muito dele. Na época, meu filho tinha perdido a Kombi em que trabalhava e estava passando por dificuldades financeiras. Dava para perceber que eles estavam tramando alguma coisa e o Luciano sabia que podia morrer. Dois dias antes do assassinato, ele me ligou e pediu para anotar um nome e um endereço. Os dados que anotei eram de André. Depois que tomei nota, meu filho explicou: se ele morresse, a culpa seria dessa pessoa. Fiquei assustada, mas quando fui perguntar por que ele estava fazendo aquilo, ele desligou - contou a mãe de Luciano Teixeira.
Contradições na DH
Em seus depoimentos à DH, André e Rodolpho confessam o plano para matar Luciano, mas divergem sobre a autoria do golpe final. André afirma que “Rodolpho aplicou uma gravata em Luciano”. Já Rodolpho diz que “André apertou Luciano até ele perder a consciência”.
Na DH, André mudou sua versão três vezes. No primeiro depoimento, disse que sabia de ameaças a Luciano, mas não tinha informações sobre o crime. Na segunda ocasião, confessou o plano, mas afirmou que Rodolpho havia matado Luciano sem a sua presença. Por último, disse que estava no carro, mas Rodolpho asfixiou a vítima.
Para os advogados de André, “não há provas nos autos que comprovem que André tenha realizado, contribuído ou participado dos fatos”. A defesa de Rodolpho afirma que “os fatos articulados na denúncia restaram improvados”. Já a defesa de Thiago sustenta que o acusado “não tinha nem notícia” dos crimes. Por fim, os advogados de Anderson alegam que ele “não tinha conhecimento de qualquer golpe que terminaria em homicídio”.
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