Em escuta, bandidos da Rocinha dizem que PM ‘tem que apresentar corpo’ de desaparecido


Em escuta, bandidos da Rocinha dizem que PM ‘tem que apresentar corpo’ de desaparecido

Bandido citou Amarildo em ameaça
Bandido citou Amarildo em ameaça Foto: Reprodução
Rafael Soares
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Um diálogo entre dois traficantes da Rocinha, no último dia 24, dez dias após o desaparecimento de Amarildo de Souza, cita um sobrenome igual ao de um soldado da UPP da Rocinha como sendo o do responsável pela morte do pedreiro. Na conversa — relatada nos autos do inquérito que investigou o tráfico na Rocinha e terminou com a denúncia de 16 pessoas — um dos bandidos “parece dizer que Vital ou Vidal é quem tem que apresentar o corpo”. Eles falavam sobre “o desaparecimento de um homem”. O soldado Douglas Vital, conhecido como Cara de Macaco, fazia parte da equipe de PMs que abordou Amarildo no dia do desaparecimento.
No relatório encaminhado à Justiça pelo ex-delegado assistente da 15ª DP (Gávea), Ruchester Marreiros, responsável pela investigação, a versão é outra. No texto, ele descreve que os bandidos “comentam sobre a entrega da morte de ‘Boi’ (apelido de Amarildo), tendo sido o mesmo inicialmente espancado e queimado e que a responsabilidade pelo aparecimento seria de Djalma”. Ao EXTRA, Ruchester explicou a discrepância.
— Antes de concluir o relatório, o responsável pela escuta entendeu que os bandidos falavam do traficante Luiz Jesus da Silva, o Djalma. Depois que entreguei, ele mudou a versão — afirma.
Bandido citou Amarildo em ameaça
Num depoimento datado de 8 de agosto e anexado aos inquéritos da 8ª Delegacia de Polícia Militar Judiciária e da Divisão de Homicídios, uma testemunha revela que o traficante Thiago Silva Mendes Neris, 24 anos, o Catatau, teria procurado a mulher para dizer que“se ela não saísse da Rocinha, ele faria a mesma coisa que tinha feito com Amarildo”.
No documento, a que o EXTRA teve acesso, a mulher — mãe de um menor infrator expulso pelo tráfico da Rocinha por suspeitas de que ele seria informante da polícia — afirma que conhecia Amarildo e que ele fazia parte do tráfico de drogas da favela e ajudava na endolação da droga. Ela afirma ainda que, há dois anos, o pedreiro teria chamado seu filho e oferecido R$ 50 “para que ele quebrasse a câmera do major, ou seja, a câmera utilizada pela UPP”. A proposta, que ela afirma não ter sido paga, teria sido feita a pedido do traficante John Wallace da Silva Viana, o Johnny — que passou a controlar o tráfico na Rocinha após a prisão do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem.
Explicação
O coronel Frederico Caldas, comandante das UPPs, explicou por meio de nota o trajeto da viatura que levou Amarildo à UPP. “A viatura foi mandada para seu posto de baseamento no Largo do Boiadeiro. Depois de alguns minutos no posto, foi orientada a ir abastecer no Batalhão de Choque. Os policiais seguiram pelo Túnel Rebouças e entraram pelo caminho errado — eles são de fora da cidade”, afirmou.
O policial Sidney Félix Cuba, natural de Itaperuna, no Noroeste Fluminense, informou, ontem, à Delegacia de Polícia Judiciária Militar que “foi deslocado pela Sala de Operações para o abastecimento no BPChoque, já que não havia combustível no 23º BPM (Leblon). Erraram o caminho algumas vezes, abasteceram, e receberam por telefone — a ligação será checada na investigação — a ordem de ir ao Hospital Central da PM, no Estácio, buscar um outro policial e deixá-lo no 23º BPM”.
Procurado, o PM Douglas Vital disse que não está autorizado a dar entrevistas.


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