Com média de 7 registros de violência sexual por mês, a Delegacia de Atendimento à Infância, Juventude e Idoso (DAIJI) garante atendimento psicológico às vítimas. Os profissionais que atuam na DAIJI se dedicam, mais recentemente, ao apoio à família de uma adolescente, de 14 anos, que durante quatro anos foi abusada sexualmente pelo próprio pai. O caso chegou esta semana ao conhecimento dos policiais.
De acordo com a delegada Priscila Anuda Quarti Vieira, o caso só chegou ao conhecimento da DAIJI porque houve a denúncia no Disque 100. "A DAIJI recebeu a denúncia do Disque 100 e uma equipe de investigação foi até a casa e trouxe toda a família para a Delegacia. Aqui, separamos os familiares, sendo cinco crianças, além do pai e da mãe. Depois de muito tempo, conseguimos o relato de que o pai, de 37 anos, abusava da filha mais velha. Ele foi detido preventivamente e deverá ser indiciado por estupro de vulnerável e por abuso sexual, pois o crime ocorreu durante quatro anos, na transição da infância para a adolescência da vítima. Esse caso é delicado. O pai era a pessoa que dava o sustento da família e também que ameaçava todos de morte. Ele dizia que se alguém denunciasse, ele mataria a vítima, que é a filha mais velha, além dos quatro irmãos, a mãe e se mataria depois. Essa pressão psicológica, é que não deixava ninguém denunciar e é o que ocorre na maioria dos casos", explicou a delegada a este Diário.
Para obter a quebra desse vínculo afetivo e de dependência, que muitas vezes cerca a família, é necessário o apoio psicológico já dentro da Delegacia. A DAIJI de Corumbá é a única no Estado a ter uma brinquedoteca para auxiliar as vítimas de crimes, tanto para extração de relatos que comprovem a violência, quanto para tratamento dessas vítimas de abuso.
"A brinquedoteca da delegacia foi feita a partir de um projeto chamado DAIJI Cidadã, que visa atender as vítimas infantis de violência, num ambiente mais favorável, para que as crianças se sintam mais a vontade em dar seus relatos, que consigam verbalizar de uma forma mais clara, pois, dependemos que a vítima verbalize. A brinquedoteca serve para que o psicólogo aplique seus testes e suas técnicas para obter as provas necessárias que confirmam ou não o abuso da vítima", explicou a delegada Priscila.
Atendimento humanizado. Assim é chamado o trabalho e acolhimento da vítima e da família, feito pela psicóloga. Em Corumbá, esse serviço é feito pela psicóloga Amanda de Amorim, cedida pela Secretaria Municipal de Assistência Social para atendimento na delegacia e auxilio às vítimas de abuso sexual.
Atendimento humanizado. Assim é chamado o trabalho e acolhimento da vítima e da família, feito pela psicóloga. Em Corumbá, esse serviço é feito pela psicóloga Amanda de Amorim, cedida pela Secretaria Municipal de Assistência Social para atendimento na delegacia e auxilio às vítimas de abuso sexual.
Denúncia demora porque agressor geralmente é próximo à família.
"Aqui na DAIJI as vítimas de abuso sexual recebem o atendimento humanizado e contamos com o apoio da brinquedoteca para conseguir ouvir o que esta criança tem a dizer, quais foram as violências sofridas por ela e auxiliá-la a retomar a vida, a superar esse fato. Um dos maiores problemas enfrentados é o fato que a maioria dos abusadores é do seio familiar e ninguém desconfia que eles seriam capazes de tal ato. As denúncias demoram pois em cerca de 80% dos casos o abusador é próximo à família, é alguém que a criança confia e usa essa relação de poder para praticar o ato. Devemos entender que essa criança não entende o ato como abuso, ela entende que é um carinho, um sinal de afeto e só depois de muito tempo é que ela passa a entender que foi abusada, que teve sua inocência retirada de uma forma criminosa. Por isso, o atendimento psicológico é necessário, desde a hora da denúncia até o tempo suficiente que a vítima necessita para se recompor", destacou a psicóloga Amanda.
Anderson Gallo/Diário Online
Crianças vítimas de abuso sexual recebem atendimento específico e auxílio de psicóloga
Ela apontou que 90% dos casos demoram anos até a denúncia ser feita e quando se tratam de familiares, como pai, padrasto, avô, há a situação do medo, pois, a maioria deles, para manter o abuso, usa da ameaça. Como no caso mais recente, em que o pai ameaçava toda a família de morte.
"Quando o abusador é o provedor dos recursos financeiro da família, todos enfrentam outra questão, além da dor da violência, que é como vamos nos sustentar? Como a família irá ficar após a denúncia? É uma questão bem complexa. A dinâmica do abusador intrafamiliar é essa, a mãe muitas vezes sabe dos fatos, porém, é coagida e acaba não denunciando. Há um conflito emocional muito grande. Aqui fizemos todo o acolhimento e a vítima recebe todo o atendimento psicológico. As vítimas recebem acompanhamento de saúde, pois, as práticas de abuso que sofreu, podem estar envolvidas com algum tipo de doença sexual. Depois, essa família recebe o encaminhamento para conseguir os benefícios necessários para sustento, como auxilio reclusão, e outros auxílios necessários e emergenciais, como doação de cestas básicas, roupas e locais que forneçam alimentação, caso seja necessário ficarem fora da residência", reforçou a psicóloga da Delegacia de Atendimento à Infância, Juventude e Idoso.
As denúncias devem ser feitas à Delegacia ou pelo Disque 100, orienta a delegada titular da DAIJI, que alerta para que todos os familiares estejam sempre atentos às crianças, pois, as práticas de abuso sexual infantil, demoram algum tempo para serem identificadas. "Não há uma receita para identificar as agressões. A criança dá diversos indícios, como mudanças bruscas de comportamento, alterações fisiológicas, como xixi noturno, excesso ou perda de apetite. O importante é a família conhecer quem está no seio familiar, estar sempre atenta e cuidar ao máximo de suas crianças e não ter medo de denunciar, pois a Polícia fornece todo suporte necessário para denúncia dos casos de reestruturação dessas famílias", completou a delegada Priscila Vieira.





