Número de casos pode ser ainda bem maior, já que a comprovação é difícil, afirma Promotoria
Estudar, morar com a família e trabalhar.
Atividades corriqueiras para a maioria das pessoas são o sonho da jovem Margarida (nome fictício), de São José dos Campos, que chegou aos 18 anos depois de passar quatro anos vivendo nas ruas, explorada sexualmente.
Ao invés de uma boneca, de um livro ou do afago da mãe, ela tinha a companhia de homens mais velhos, de drogas e do álcool. Vendeu o corpo para comer e dormir sob um teto.
"Eles me obrigavam a deitar com vários homens, bem mais velhos, para ter o que comer. Eu não sabia bem o que estava acontecendo comigo", diz ela, confessando a falta de consciência sobre o próprio corpo.
Para especialistas que atendem casos de aliciamento e exploração sexual de menores, que estão aumentando em São José, o primeiro desafio é fazer com que a vítima se reconheça como um ser humano, com direitos e autoestima.
"Tentamos mostrar que há um outro lado que não seja o da violência", explica a assistente social Rosângela Lima, do programa Aquarela, ligado à Fundhas (Fundação Hélio Augusto de Souza) e à Secretaria de Desenvolvimento Social de São José.
É no Aquarela que chegam os casos de exploração encaminhados pelo Conselho Tutelar e pela Vara da Infância e Juventude de São José.
Os profissionais do programa, que perpassa por diversas secretarias, acolhem e tentam tirar as vítimas da violência.
Casos.
Os casos de exploração que chegam ao Aquarela vêm aumentando nos últimos anos. Saltaram de 12 em 2009 para 31, no ano passado. Em 2013, já foram 35 situações.
Segundo Evânia Teixeira, presidente da Fundhas, todos os casos são acompanhados para que se faça uma confirmação das denúncias de exploração sexual e, consequentemente, o rompimento desse círculo de violência.
O serviço atende 48 famílias. Destas, 10 têm casos confirmados de exploração e as outras são averiguadas.
"É muito difícil comprovar os casos. As pessoas não admitem o problema e, infelizmente, os jovens deixam-se levar pela ilusão do dinheiro", diz Silvia Máximo, promotora da Vara da Infância e Juventude de São José.
Drogas.
Segundo Mara Souza, coordenadora do Aquarela, quase a totalidade das meninas e meninos explorados sexualmente têm envolvimento com drogas.
O vício acaba sendo um dos elos da corrente que prende os menores aos aliciadores e exploradores. Oriundos de famílias desestruturadas, na maior parte das vezes, eles dependem do corpo para sobreviver.
"Acompanhamos uma menina que começou a ser explorada aos 13 anos, por causa das drogas", conta Mara. "Ela está com 17 e não saiu dessa vida".
Margarida, que tenta se reconstruir como ser humano, sabe: a luta não é nada fácil.
Margarida (nome fictício) foi explorada nas ruas durante quatro anos
Foto: Claudio Vieira
Vítima tenta esquecer abusos na infânciaValdirene (nome fictício) mora no Vale do Paraíba desde que se casou, em 2002. Aos 43 anos, ela quer se esquecer da juventude que passou em Santos. “Era obrigava a ter relações sexuais no porto para conseguir comer.”
Durante os três anos que se prostituiu para sobreviver, Valdirene não ficou com nenhuma marca visível no corpo. As cicatrizes estão na alma.
“Sofri muito para conseguir ter uma vida normal. Foram anos de terapia antes de me casar e ter filho”, diz ela, que tem uma filha de sete anos.
Dalka Chaves Ferrari, psicóloga e diretora do Instituto Sedes Sapientiae, explica que os traumas deixados pela exploração sexual são intensos, e levam muito tempo para serem “curados”.
“A terapia convencional não funciona nesses casos”, diz ela. “É preciso ir além”.
Para a psicopedagoga Kátia Medeiros, do programa Aquarela, que atende um grupo de 10 meninos e meninas que foram explorados sexualmente, a meta é mostrar o que eles ainda não viram na vida. “Eles desconhecem o lado bom deles mesmos. Só tiveram contato com o lado ruim.”
Durante os três anos que se prostituiu para sobreviver, Valdirene não ficou com nenhuma marca visível no corpo. As cicatrizes estão na alma.
“Sofri muito para conseguir ter uma vida normal. Foram anos de terapia antes de me casar e ter filho”, diz ela, que tem uma filha de sete anos.
Dalka Chaves Ferrari, psicóloga e diretora do Instituto Sedes Sapientiae, explica que os traumas deixados pela exploração sexual são intensos, e levam muito tempo para serem “curados”.
“A terapia convencional não funciona nesses casos”, diz ela. “É preciso ir além”.
Para a psicopedagoga Kátia Medeiros, do programa Aquarela, que atende um grupo de 10 meninos e meninas que foram explorados sexualmente, a meta é mostrar o que eles ainda não viram na vida. “Eles desconhecem o lado bom deles mesmos. Só tiveram contato com o lado ruim.”
Denúncia pode ser anônimaAs denúncias de aliciamento ou exploração sexual de crianças e adolescentes podem ser feitas de forma anônima por meio do telefone 100, o 'Disque 100'. A ligação é gratuita. O serviço é ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que repassa as denúncias para as cidades. Em São José, são cerca de 20 por mês.





