Marinho Saldanha
Do UOL, em Porto Alegre
Kelen Giovana Ferreira, Juliana Oliveira dos Santos e Lauriani Salapata foram juntas a boate Kiss, em Santa Maria (a 286 km de Porto Alegre), na noite de 27 de janeiro para aproveitar a festa e encontrar a amiga Gabriele Stringari, que trabalhava na casa noturna para ter uma renda extra. Do quarteto de jovens estudantes de Terapia Ocupacional da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), porém, só duas sobreviveram. Com auxílio de amigos, Kelen e Gabriele se salvaram e ainda lutam pela vida em um hospital de Porto Alegre. Juliana e Lauriani não tiveram quem as carregasse.
Gabriele já estava na boate. A jovem de 20 anos, natural de Alegrete, trabalhava na casa como atendente para aumentar a renda mensal. Encontraria as três amigas ali, e poderia unir trabalho e diversão.
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No meio da confusão, Gabriele chegou a ser pisoteada, desmaiou, e só escapou pois um amigo a carregou para o lado de fora da casa. Sabrina, irmã de Gabriele, acompanhou o trajeto da garota no hospital de Santa Maria e está em Porto Alegre, para onde foi transferida.
"Nossa mãe faleceu há pouco mais de um ano. Fui eu que tomei as rédeas da família. Ela só lembrava do meu número. Estava consciente, mas precisou ser sedada. Fico aliviada em saber que ela está viva. Mesmo em estado grave, é estável, não está piorando", disse ao UOL.
Namorado herói
No auditório que recebe os familiares das vítimas transferidas para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Sabrina encontrou familiares das colegas de sua irmã. Kelen Ferreira, 19, era colega de classe de Sabrina no curso de terapia ocupacional da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e também sobreviveu.
Tirada da casa noturna pelo namorado, já desmaiando, a jovem chegou consciente ao hospital da cidade. Antes de ser sedada devido a intoxicação por fumaça, ela tentou tranquilizar sua família. "Fiquem firmes, sou forte, vou conseguir", disse.
"O que nos conforta é saber que poderia ter acontecido algo pior, mas não aconteceu", disse o pai de Kelen, José Mauri Ferreira. Kelen mora com os tios, pois também é natural de Alegrete. Roque Ferreira e Lica são os responsáveis pelo dia-a-dia da menina longe de casa. "O quadro estável já é uma glória. Ela está lutando, e vai conseguir", disse a tia, conhecida como Lica.
"Graças ao namoradinho dela, um anjo, é que ela está viva hoje. Ele havia saído para ir ao banheiro, mas quando começou a confusão, resolveu voltar para o local onde elas estavam. Encontrou a Kelen desmaiando, e graças a Deus a tirou de lá", revelou a tia.
A mãe, Marlene de Medeiros Ferreira, não consegue falar. A tristeza é evidente no rosto, mas o conforto por manter a esperança de recuperação estão expostos no semblante da senhora.
A menina foi uma das primeiras a chegar ao hospital de Santa Maria para atendimento após o incêndio. Cerca de 30 minutos depois do resgate ela já estava com os médicos, mas, mesmo assim acabou em estado grave. Atualmente respira com auxílio artificial.
"Foi uma tragédia muito dura. Mas todos estão sendo solidários. Tanto aqui quanto em Santa Maria. Foi uma cena de filme de terror no hospital. Pessoas chegando, leitos terminando, muitos ficaram pelo chão mesmo. Horrível. Algo que jamais vamos esquecer", disse Lica.
Duas vezes por dia as visitas estão liberadas. Por isso, a família de Kelen se mantém no Hospital de Clínicas, aguardando novas informações. "Todos aqui estão sendo muito solidários. O hospital tem nos dado todo apoio", finalizou.
A mesma sorte não tiveram as outras duas. Juliana e Lauriani não tiveram quem as carregasse, sem conhecidos ou amigos próximos, acabaram morrendo com outras 229 pessoas de Santa Maria na tragédia da madrugada de domingo.
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