Campo Grande já registrou 135 casos de estupro entre janeiro e junho deste ano, de acordo com a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Mas o número pode ser ainda maior, porque mulheres e crianças não denunciam, por medo ou até mesmo por amor. Muitas vezes, o agressor está dentro da família.
A psicóloga Elenise Melgarejo atende mulheres e crianças que foram vítimas de violência sexual dentro ou fora de casa. Uma realidade diferente para os estupradores. "Normalmente eles detestam mulheres, não gostam de relação sexual e gostam da violência, de forçar aquela situação", comenta.
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Em abril deste ano, uma jovem estudante foi estuprada nas redondezas da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. A polícia prendeu um suspeito que confessou o crime. Outras vítimas reconheceram o estuprador, entre elas uma menina de 14 anos.
Já em junho, a polícia recebeu denúncia de um suposto pai de santo que estaria abusando de crianças entre três e sete anos em rituais macabros. Cinco crianças confirmaram o abuso. O homem está foragido desde que sua prisão foi decretada.
"Quem sofreu violência, quase sempre vai se tornar uma pessoa que vai causar violência a alguém", afirma Elenise.
A pena para esse tipo de crime é de até 15 anos de detenção. O estupro é um crime considerado tão cruel que nem os próprios presos aceitam. Em Campo Grande, todos os presos por estupro são levados para o Instituto Penal e ficam em alas separadas, como forma de protegê-los dos demais presos.
Até agosto de 2009, o caso só era considerado estupro se houvesse ato sexual consumado. Atualmente, qualquer tipo de carícia ou assédio libidinoso já tem o mesmo tratamento dado pela lei. Dados da Agência Estadual de Administração Penitenciária (Agepen) mostram que em todo o estado, 240 pessoas cumprem pena por estupro.
Um homem que prefere não se identificar conta que vive um drama dentro de casa. No ano passado, descobriu que a filha havia sido molestada pelo próprio cunhado, que também abusou das próprias filhas. Ele foi preso, mas as vítimas não esqueceram do trauma. "Do nada começa a chorar, ela às vezes se fecha, não quer ter amizade com ninguém e não se relaciona. Nós nos culpamos. Como não percebemos uma pessoa tão próxima?", relata o homem.
A psicóloga afirma que a recuperação do trauma é possível, tanto para crianças quanto para os adultos. "Ela é capaz de se refazer. Na criança, a gente consegue tirar o que é ruim para colocar o que é bom. E a mulher que consegue melhorar sua autoestima, criar um caminho fugindo disso, é como se fosse outra mulher", diz Elenise.
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