Passione foi abusada e desafiou regras do folhetim

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Passione foi abusada e desafiou regras do folhetim No final de Passione, o bígamo Berilo foi premiado com a paz entre suas mulheres. (R7.com) Clique para ampliar a imagem
Com 52 pontos e a sintonia de 73% dos televisores ligados na Grande São Paulo, segundo dados preliminares, o último capítulo de Passione, exibido ontem à noite da Globo, foi um dos grandes momentos da teledramaturgia nacional recente.

Pode-se argumentar, com razão, que a novela de Silvio de Abreu teve problemas. A heroína romântica (Diana/Carolina Dieckmann), por exemplo, não colou, uma falha grave para um produto de entretenimento que, como tal, deve seguir a cartilha do folhetim e do cinema clássico, com seus heróis incorruptíveis e de penteados impecáveis.

Porém, é justamente no desafio a algumas regras e numa bem costurada trama policial que apresentam os principais méritos da novela.

O telespectador que não gostou de ver a assassina Clara (Mariana Ximenes) terminar impune, enquanto Fred (Reynaldo Gianecchini) pagava pelos crimes dele e dela, está tão acostumado ao maniqueísmo das telenovelas e dos filmes de Hollywood que talvez seja incapaz de enxergar que a ousadia do autor foi calculada, uma vez que a vilã era movida por uma vingança justificável, vítima de pedofilia que foi.

Como disse Silvio de Abreu, Passione não foi uma novela convencional. De fato, não foi a moral cnservadora que se viu no desfecho da octogenária Brígida (Cleyde Yáconis), casada com o motorista e amante do jardineiro, nem do bígamo Berilo (Bruno Gagliasso), premiado com a paz entre Agostina (Leandra Leal) e Jéssica (Gabriela Duarte, que, enfim, se redimiu dos pecados da Maria Eduarda de Por Amor).

Passione teve, desde o início, um roteiro primoroso para o padrão da TV aberta brasileira, movimentado, com ganchos e viradas em quantidades provavelmente inéditas no gênero.

O último capítulo repetiu clichês como casamentos, nascimentos e felicidade geral para a turma do bem. Mas sua trama policial o colocou acima da média.

As revelações de que Clara, ainda menina, sofreu abuso sexual por parte de Saulo (Werner Schüneman), de que Saulo envenenou o próprio pai, Eugênio (Mauro Mendonça), e de que Clara matou Saulo não devem ter surpreendido o telespectador que passou meses queimando neurônios com os mistérios propostos por Silvio de Abreu. Simplesmente porque foram coerentes com os personagens. E convincentes.
No balanço geral, Passione teve mais pontos altos do que baixos. Foi, enfim, boa teledramaturgia.
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