Prefeito Mauro Mendes (PSB) erra ao aceitar ser "fisgado" pelos vereadores


-- Prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes, que reage de forma dura às críticas da Câmara
Prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes, que reage de forma dura às críticas da Câmara
   Ao reagir em tom raivoso e escalar porta-vozes para bater, Mauro Mendes se igualou a João Emanuel. Ambos são líderes políticos, mas o primeiro é prefeito de uma Capital e acumula maior potencial político, eleitoral e representatividade nacional. Bastou jogar o anzol que logo Mauro foi fisgado. Errou. Mesmo que dê vontade de mandar para o inferno alguns parlamentares, que agem com chantagem, o prefeito precisa buscar o diálogo, a serenidade. Se iguala quando reage no mesmo nível.
   O prefeito deveria usar a estratégia de pescador experiente e saber esperar, ainda mais agora que se tornou vidraça. De um lado, está claro que a Mesa Diretora da Câmara quer aumento do duodécimo, o que é um absurdo. A Câmara já recebe R$ 2,7 milhões mensais. Como o prefeito, numa linha mais técnica e sem tanta paciência e traquejo político, não deu a mínima para o pleito dos vereadores, eles começaram a reagir contra o Executivo. Mas, para a sociedade, os parlamentares sustentam a tese de que ganham altos salários para fiscalizar os atos do Executivo e assim estão “fazendo”. É um argumento que deve ser considerado, por mais que o prefeito entenda que o recado implícito não seja esse.
   Aprovaram uma CPI para apurar suposta manobra do Palácio Alencastro para beneficiar empresas ligadas a amigos de Mauro. Essa decisão veio após o Ministério Público investigar o caso e nada constatar de irregular. Mesmo assim, um grupo de vereadores, incentivados pelo presidente João Emanuel, quer ir a fundo na investigação. Se o prefeito não repensar a estratégia pode até ser cassado, o que beneficiaria o próprio Emanuel com a cadeira de chefe do Executivo. Com vereador não se brinca. Basta a maioria fazer um complô que cassa o prefeito num piscar de olhos. Historicamente, se vê isso país afora. Prefeitos costumam virar reféns de vereadores.
   Mauro, que diz nada temer por estar convicto de que trabalha com transparência e honestidade, deveria ponderar que foi inocentado pelo MPE e que apoia a investida da Câmara, que está no papel de fiscalizar. Ele fez isso, mas cutucou os vereadores. E ainda se “mexeu” nos bastidores para aflorar a crise na relação com o Legislativo. Os dois lados precisam criar juízo. Tanto o prefeito quanto os parlamentares estão iniciando mandato agora. Ou buscam relação institucional respeitosa e pensando na sociedade ou vão continuar transformando o Legislativo na casa dos horrores e de escândalos e o Executivo num Poder da discórdia e sem rumo.

Romilson Dourado