Pai de bebê com órgão exposto faz apelo em SP


Pai pede ajuda para cuidar de bebê que nasceu com órgãos expostos

Criança foi diagnosticada com gastrosquise apenas na hora do parto.
Ela passou por cirurgia e ficará internada por cerca de 50 dias.

Pedro Carlos LeiteDo G1 Mogi das Cruzes e Suzano
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A pequena Ludymilla nasceu com o abdômen aberto e precisou passar por cirurgia (Foto: Wellington Ferreira/Arquivo Pessoal)A pequena Ludymilla nasceu com o abdômen aber-
to e precisou passar por cirurgia. (Foto: Wellington
Ferreira/Arquivo Pessoal)
Um casal de Biritiba Mirim tem se desdobrado para cuidar da bebê recém-nascida, que está internada em São Paulo, e busca ajuda para o transporte diário até o hospital. A criança nasceu no dia 12 de agosto com uma má-formação chamada gastrosquise, em que o abdômen não se fecha por completo e os órgãos ficam fora do corpo.
Desde então, a pequena Ludymilla Vitória está hospitalizada e precisa de acompanhante por 24 horas, segundo a família. "A gente está com muita dificuldade porque é longe e a gente gasta R$ 20 por dia com o transporte. Minhas tias estão se revezando, mas é muito difícil. Eu não consigo ir porque preciso trabalhar”, afirma o pai da bebê, Wellington Aparecido Ferreira.
A condição foi descoberta apenas no momento do parto, apesar de a mãe ter feito pré-natal e exames de ultrassonografia em duas etapas da gestação. “Queremos saber onde aconteceu o erro. O pessoal do hospital onde a minha filha fez a cirurgia para consertar o problema disse que quando a criança nasce com isso todo mundo já fica sabendo antes e ela é operada logo em seguida. A minha filha teve que ser transferida para outro hospital e só foi fazer a cirurgia no dia seguinte.”
Segundo a mãe, a dona de casa Paloma Hikaru Kamimura, de 19 anos, a gestação foi tranquila. “Fiz o pré-natal no posto de saúde e não teve nenhum problema. O médico me pediu ultrassom quando a bebê estava com três meses e meio e depois com seis meses. Deu tudo normal. Na minha última consulta de pré-natal, uns 14 dias antes de ela nascer, eu pedi para o médico para fazer o ultrassom morfológico porque minhas amigas e outras mulheres da minha família tinham feito e falaram para mim que era importante. Ele disse que estava tudo bem e não precisava”, conta a jovem mãe.
Cirurgião pediátrico e professor do curso de Medicina em uma universidade de Mogi das Cruzes, Kleber Sayeg afirma que normalmente o ultrassom morfológico é pedido quando as imagens do ultrassom comum captam indícios de que algo está fora do normal. "O morfológico normalmente é um exame auxiliar que é pedido quando o médico detecta alguma alteração no ultrassom comum. O morfológico pode dizer se há outras más formações associadas", explica.
Paloma e Wellington com o boletim de ocorrência que registraram sobre o caso e a certidão de nascimento da filha (Foto: Pedro Carlos Leite/TV Diário)Paloma e Wellington com o boletim de ocorrência que registraram sobre o caso e a certidão de nascimento da filha. (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
O médico explica que o ultrassom comum normalmente já consegue detectar a gastrosquise. "O ultrassom normal já detecta. O morfológico é mais específico. Esta má-formação é relativamente comum, acontece mais ou menos em um a cada 4 mil nascimentos e não tem uma causa específica", explica.
Sayeg analisou as imagens da última ultrassonografia feita por Paloma. "Pelas imagens eu não consigo ver uma gastrosquise. Pode ser que o corte da imagem não favoreça. Às vezes o ângulo em que a criança está não permite uma imagem clara", afirma.
Último ultrassom de Paloma não apresentou nenhuma anomalia, segundo professor de medicina (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)No último ultrassom de Paloma não foi possível
identificar nenhuma anomalia, segundo professor
de medicina. (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
A criança acabou nascendo um pouco antes da hora. Com oito meses e dez dias de gestação, Paloma sentiu as contrações e foi internada na Santa Casa de Mogi das Cruzes. “Estava programado que eu iria fazer parto normal, mas enquanto me preparavam os médicos viram que a neném tinha feito cocô dentro de mim. Aí fizeram a cesárea e foi a salvação, porque senão eu e a bebê podíamos correr risco”, afirma Paloma. A criança nasceu com 2,375 quilos.
Paloma afirma que pediu ao médico que fez o pré-natal que o ultrassom morfológico fosse realizado (Foto: Pedro Carlos Leite/TV Diário)Paloma afirma ter pedido ao médico que fez o pré-
natal que o ultrassom morfológico fosse realizado.
(Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
A família acredita que houve erro e fez uma denúncia ao Conselho Regional de Medicina, além de ter registrado um boletim de ocorrência na Polícia Civil.
Transporte
A criança foi transferida no dia seguinte ao nascimento para um hospital do bairro de Itaquera, na capital. Lá, ela passou por cirurgia e seu quadro é estável. Porém, a família ainda enfrenta problemas. “Ela deve ficar lá por cerca de 50 dias e é preciso ficar alguém lá com ela 24 horas acompanhando", conta Wellington, que aos 21 anos trabalha como pintor de carros.
A família procurou a Prefeitura de Biritiba Mirim em busca de transporte para São Paulo. “Na Secretaria de Saúde eles reconheceram que é obrigação da Prefeitura fornecer o transporte quando não tem o serviço específico na cidade, mas disseram que não podiam fazer nada porque o carro deles que fazia isso foi roubado. Falaram para a gente procurar a Assistência Social mas até agora ninguém nos atendeu”, afirma Andréia Aparecida Ferreira, que é irmã de Wellington.
G1 entrou em contato com a Prefeitura por telefone e aguarda uma posição sobre o transporte e sobre os exames oferecidos durante o pré-natal.