Mauro Mendes X João Emanuel


É impressionante o talento do prefeito em cometer falhas de articulação política

É impressionante o talento e a insistência do prefeito Mauro Mendes em errar e cometer falhas em sua articulação política. Refiro-me ao embate entre a Prefeitura de Cuiabá e a Câmara de Vereadores, deflagrada na última semana, por conta da “CPI dos Maquinários”.

Para começar, Mendes tem muito mais a perder com esta peleja, que tomou ares de insanidade. Ele quer ser candidato a governador em 2018, enquanto o vereador João Emanuel, ao que consta, se reeleger em 2016.
"Ao partir para ataques pessoais contra o vereador, e tentar plantar a teoria de que a Câmara quer lhe dar um golpe, para afastá-lo do Palácio Alencastro, o prefeito revela imaturidade política e falta de senso de ridículo"

A reação histérica de Mendes à CPI dos Maquinários foi tamanha, e sem lógica, que podemos até dizer que foi uma espécie de “batom na cueca”.

Ao partir para ataques pessoais contra o vereador, e tentar plantar a teoria de que a Câmara quer lhe dar um golpe, para afastá-lo do Palácio Alencastro, o prefeito revela imaturidade política e falta de senso de ridículo (a ponto de até mesmo críticos contumazes de João Emanuel saírem em sua defesa, como foi o caso do jornalista Enock Cavalcante).

Duas coisas chamam a atenção neste embate. A primeira é o fato dos secretários de Mendes dirigirem suas criticas somente ao presidente da Câmara, pois, o estranho, é que foi o vereador Toninho de Souza (PSD) que fez o requerimento da CPI (que teve assinatura até mesmo do vereador Onofre Júnior, que pertence ao mesmo partido do prefeito).

Porque será que a trupe de Mauro, incluindo Antero Paes de Barros, que lamentavelmente “rifa” sua história política ao se alinhar aos seus ex-algozes, está poupando o verdadeiro autor da CPI? Seria medo, pelo fato de Toninho ser apresentador do programa de maior audiência da TV Gazeta, do empresário Dorileo Leal?

A segunda questão pertinente é o fato dos vereadores governistas também exigirem mais recursos para o Legislativo, tendo vários deles assinado a ação que tenta derrubar a decisão da desembargadora Maria Erotides, que limita a verba de gabinete em dois mil reais. Por enquanto nenhum parlamentar da base do prefeito veio a público declarar que abre mão de seu salário e de sua verba de gabinete. Para mim, Mendes humilhou não só João
Emanuel, mas a todos os vereadores. Ou seja, ele chamou todo o Poder Legislativo para a briga.

Mauro Mendes perdeu a eleição para a Mesa Diretora da Câmara por erro exclusivo seu e, ao tentar consertar o erro, erra mais ainda.

Se voltarmos um pouco no tempo, na pré-convenção, Mauro tinha tudo para compor um amplo arco de aliança, que o levaria a uma eleição fácil, sem grandes comprometimentos empresariais. E sem, claro, ter que pedir arrego ao então prefeito Chico Galindo.

Seu primeiro erro foi na escolha do vice: ele deveria ter batido o pé e não aceitar a imposição de segmentos do PR. Seu segundo erro foi fazer pouco caso do apoio do PMDB. Esse erro lhe custou caríssimo, literalmente. Mendes teve que se comprometer de tal forma com alguns grupos, e com Galindo, que engessou sua gestão, e gastou pelo menos o triplo em sua campanha eleitoral.

Era de se esperar que ele aprendesse com esses dois erros, pois ele não me parece ser uma pessoa desprovida de bom senso. Que nada... Logo depois de assumir a prefeitura, cometeu seu terceiro, e definitivo erro, ao não fazer uma composição para Mesa Diretora. A partir daí, o prefeito teria que fazer uma reflexão, e restabelecer o diálogo político, ou que designasse alguém com tal habilidade. Mas não, Mauro continuou forçando a barra.
Na composição de seu secretariado, ele mostrou que não sabe montar time. Escalou atacante na defesa, meio campo na ponta, e até goleiro jogando de centro-avante. Deu no que deu.

Tentou mexer, corrigir, mas a troca de membros de sua equipe foi fraca, sem resultado imediato, principalmente na articulação política. Sua gestão lembra muito aqueles dinossauros imensos, de uns trinta metros que, quando tacam fogo no seu rabo, leva uns quinze minutos para a informação chegar ao cérebro, mais um tanto para processar, e mais quinze de volta, e ainda assim mexe o rabo para lado errado (o que me leva a crer que, como os dinossauros, logo ele poderá estar extinto).
"Pelo andar da carruagem e o tamanho do barulho, Mauro já molhou o dedinho. E ao escalar o senador Pedro Taques para defendê-lo, comprometeu até mesmo seus companheiros"

O economista Gustavo Franco, um dos idealizadores do Plano Real, e, ex-presidente do Banco Central, relata em um de seus livros, suas primeiras impressões ao ir morar em Brasília. Em uma ocasião, já tarde noite, Franco ainda estava na sede do Banco Central, e chamou em sua sala o mais antigo funcionário da instituição, um senhor já de idade avançada que gozava de excelente reputação.
Franco lhe fez uma pergunta direta: “Como funciona Brasília?”. O velho funcionário fez uma pausa, olhou nos olhos do presidente e lhe disse: “Doutor Gustavo, aqui em Brasília polícia é polícia e bandido é bandido. O dia que o senhor molhar o dedinho lá, o senhor não é mais polícia.”

Pelo andar da carruagem e o tamanho do barulho, Mauro já molhou o dedinho. E ao escalar o senador Pedro Taques para defendê-lo, comprometeu até mesmo seus companheiros. O senador hipotecou total e irrestrito apoio a Mendes, achando muito natural a “coincidência” de um sócio do prefeito, Wanderley Torres, da Trimec, ter ganhado uma licitação milionária (assim como um dos coordenadores de campanha do atual prefeito, chamado Gustavo Oliveira – nada a ver com o homônimo do Diário de Cuiabá-, ter ganhado outra, também milionária).

Se, após as investigações da CPI dos Maquinários, ficar comprovado que houve irregularidades, Pedro Taques, que articula desesperadamente para se candidato ao Governo de Mato Grosso, também não será mais “polícia”.

RODRIGO RODRIGUES é jornalista e analista político