O prefeito do município de Coari, a 363km de Manaus , Adail Pinheiro ( PRP ), prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nesta terça-feira (27), em Brasília. Após ouvir Adail e outras pessoas suspeitas de integrarem uma rede de exploração no Amazonas, a comissão decidiu voltar ao estado para levantar informações com novas testemunhas do caso. Segundo a presidente da CPI, deputada federal Érika Kokay ( PT -DF), há contradições nos depoimentos prestados até agora.
Adail Pinheiro prestou depoimento durante quatro horas em sessão reservada, na Câmara dos Deputados. De acordo com Érika Kokay, o prefeito se negou a falar sobre questões da Operação Vorax, que investiga irregularidades na execução de convênio firmado entre a Prefeitura de Coari e a União , por meio do Ministério do Meio Ambiente, para a construção de um aterro sanitário no município. Segundo o Ministério Público Federal no Amazonas (MPF/AM), foram desviados recursos públicos provenientes de convênios federais e de royalties pagos pela Petrobras pela exploração de petróleo e gás natural no município.
Adail teria admitido a prática de nepotismo e o desvio de funções de empregados da Prefeitura de Coari, mas não se pronunciou sobre a suspeita de exploração sexual de menores de idade, porque, segundo ele, são infundadas. "Lamento profundamente que a gente tenha que conviver com esse tipo de situação. São acusações levianas que não têm nenhum fundamento e que eu vou estar sempre à disposição para prestar qualquer esclarecimento para a comissão aqui da Câmara dos Deputados", disse o prefeito.
A relatora do processo, Lilian Sá (PR-RJ) rebateu as declarações do prefeito. "Nós temos os autos do inquérito, que corre em segredo de Justiça, e que foi periciado e identificado que a voz, a fala, é dele", afirmou.
Na segunda-feira (26), foram ouvidos assesores e ex-assesores do prefeito de Coari, apontados pela Polícia Federal como suspeitos de participar de uma suposta rede de exploração sexual, chefiada por Adail Pinheiro.
De acordo com a presidente da CPI, os parlamentares identificaram contradições no depoimento de Adail e de outras pessoas citadas no processo. A comissão deve voltar ao Amazonas em setembro deste ano para ouvir novas testemunhas. "Os depoimentos colhidos até agora foram importantes e esclarecedores, mas sentimos a necessidade de chamar outras pessoas para depor, não como suspeitas, mas como testemunhas", disse a deputada Érika Kokay ao G1 .
Integrantes da CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes estiveram pela primeira vez em Coari em junho de 2013, mas, segundo a assessoria, não conseguiram ouvir o prefeito Adail Pinheiro e outras oito pessoas envolvidas nas denúncias. Por isso, o prefeito e os assessores dele foram convocados a depor em Brasília .
Por se tratar de pessoas processadas pela Justiça e a ação penal correr em segredo judicial, os depoimentos foram em sessão reservada, com acesso somente aos deputados-membros da CPI, advogados e assessores.
Segundo a CPI, Adail começou a ser investigado pela Polícia Federal em 2006 por suposto desvio de recursos públicos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) repassados ao município. As denúncias de pedofilia começaram a aparecer no decorrer das  investigações, em escutas telefônicas judicialmente autorizadas, realizadas pela PF. As investigações culminaram na chamada Operação Vorax, cujo relatório foi divulgado em 2008. Do relatório resultou a prisão de Adail, em 2009.
Denúncia em campanha 
A CPI também investiga uma denúncia de maio do ano passado, quando Adail Pinheiro estava em campanha para retornar à Prefeitura de Coari. Na ocasião, uma senhora registrou boletim de ocorrência na Delegacia Interativa de Polícia de Coari, denunciando que a filha, de 12 anos, vinha sendo constantemente aliciada pela prima, também menor de idade, para "ficar" com o prefeito.