O complicado arcebisbo da Paraíba, Dom Aldo Pagotto, volta e meia se encrenca com seus próprios nós. E confunde o rebanho católico, cada vez mais diminuto no Estado.
Inteligente, bom orador, Pagotto sempre se expressou muito bem e é capaz de debater sobre qualquer tema, inclusive sobre pedofilia, uma das manchas no seu currículo.
Por isso, olho de soslaio essa notícia que toda a imprensa hoje publica dando conta de que ele afastou dois religiosos por suspeitas de crime de pedofilia. A esmola, ao meu ver, é grande demais...
Prá qualquer cego desconfiar!
Nosso arcebispo declara num primeiro momento que os casos envolvendo seus subordinados estão sob investigação do Ministério Público e preserva os nomes dos tais “para não expor essas pessoas de forma indevida”. Sentencialmente, avança facilitando um trabalho que parece ainda não existir na esfera do MPPB:
- “As denúncias podem ser infundadas”, diz sem pestanejos.
Chamado a declarar alguma coisa sobre o que disse Dom Aldo, o Ministério Público revela por sua assessoria de imprensa que não localizou o processo em que aparecem as denúncias contra os padres.
O setor ainda explicou que, “caso as investigações estejam correndo em segredo de justiça não aparecem no sistema eletrônico do MPPB” - assim mesmo no condicional.
Então, conhecendo-se os antecedentes nada corretos do reverendo maior da Igreja Católica paraibana nesse item chamado “pedofilia”, dá para desconfiar. Estaria nesse caso o nosso antenado arcebispo querendo outra vez, como outrora feito em Sobral-CE, encobrir criminosos de batina que atacam adolescentes e criancinhas desse Brasil.
Afeito à mídia e aos holofotes reluzentes que ela proporciona, Dom Pagotto aparenta estar querendo ficar agora de bem na fita, pós-viagem de Francisco ao Brasil, o Papa que a todos nós conquistou por suas posições firmes, diretas e avançadas em todos os polêmicos assuntos que lhe foram postos à mesa de discussão.
E o Papa pede, sim, ação decisiva contra os abusos sexuais de crianças e adolescentes na Igreja que dirige. Pediu determinação para ajudar os menores e a adoção de procedimentos necessários para os culpados. Muito mais firme do que o antecessor, Bento XVI, que assumiu prometendo combater a pedofilia clerical e acabou acusado de fazer o mesmo que Dom Pagotto fez no sertão do Ceará - acobertar abusos e não ter protegido as crianças da ação de padres pedófilos.
Duvido, e tenho bons arquivos para fundamentar a questão, das boas intenções hoje reveladas pelo pastor católico paraibano.
Lembro que ao chegar na Paraíba para exercer sua missão pastoral em substituição ao ícone Dom José Maria Pires, o único órgão de imprensa do Estado a mostrar o histórico nada recomendável de Dom Aldo foi A PALAVRA. E olha que ficamos num verdadeiro fogo cruzado, com ácidas críticas, uma delas vindo através do vereador Pimentel Filho, nosso quase-padre em Campina Grande.
Mas, A PALAVRA não quedou-se. Fez, como sempre, a sua parte ofertando aos católicos um retrato em 3 x 4 do seu novo comandante. E o que se viu depois?
Anos atrás, no blog do confrade “maivado” Tião Lucena, ele abriu espaço para Deczon Cunha dizer o que muitos pretendiam, mas não tiveram competência jornalística para tanto.
“Nunca a Paraíba teve um religioso, comandante-em-chefe da Igreja Católica no Estado, tão contestado, tão questionado, e por que não dizer tão repudiado. Dom Aldo Pagotto chegou a Arquidiocese prometendo o céu e a terra. Com ele, os casamentos teriam que acontecer na hora certa, sem atrasar um minuto sequer. Além disso, não haveria nada de pompa nos enlaces matrimoniais”, assim principiou seu artigo o confrade pessoense.
Porque não foi apenas na questão da pedofilia que os problemas trazidos por Pagotto para a Paraíba afloraram.
Segue Deczon:
“Hoje acontece tudo ao contrário. Os atrasos nos casamentos e batizados dobraram de tempo, as igrejas estão cada vez mais ornamentadas. Outra balela que o novo arcebispo anunciou, assim que pisou no solo da Paraíba, era a proibição total dos padres, bispos, e demais membros da igreja se envolverem em questões de política partidária.
Novamente, tudo aconteceu ao contrário. O próprio Dom Aldo é um péssimo exemplo disso. Todos os dias ele está emitindo opiniões sobre isto ou aquilo, coisas que quase sempre não lhe dizem respeito, pois sua missão é evangelizar e procurar unir e harmonizar os fiéis dos quais ele é pastor.
A Paraíba, que era acostumada com um homem da estirpe, da grandeza, da respeitabilidade, da humildade, da seriedade, da liderança, da pureza, da inatacabilidade moral, ética, religiosa e da firmeza espiritual de Dom José Maria Pires, não pode jamais aceitar como substituto com comportamento, em todos os sentidos, exatamente oposto ao do seu antecessor.
Não sei qual o remédio jurídico, administrativo ou religioso pode se adotar para afastar um membro graduado da Igreja. Sei que padres de pequenas paróquias, como aconteceu recentemente em Arapiraca (AL), acabam afastados de suas funções pela cúpula da igreja por prática criminosas, a exemplo da Pedofilia.
Aliás, por falar em Pedofilia, consta que Dom Aldo já respondeu a processo no Ceará por cumplicidade indireta com atos praticados por outro sacerdote, a quem deu proteção através de ameaça às suas vítimas. Inclusive, o religioso acusado e protegido de Dom Aldo foi punido severamente, por Deus e pelos homens que o representam. Já Pagotto recebeu como penitência apenas transferência para a Arquidiocese da Paraíba”, estirou-se Deczon.
Premonitório, o jornalista prosseguiu:
“Já é hora de Dom Aldo se movimentar para solicitar, a quem de direito, a sua transferência, de forma espontânea e pacífica, antes que haja um movimento da comunidade católica com o objetivo reivindicatório de despejá-lo da Arquidiocese da Paraíba. Já existe em curso um movimento deflagrado por entidades populares.
De forma que Pagotto deve evitar este constrangimento que seria, na verdade, de todos os católicos da Paraíba, além de um fato inédito no mundo religioso paraibano. Não dá para continuar. Dom Aldo fala demais e a cada fala se complica ainda mais. Suas palavras já não encontram respaldo nem mesmo na Cúria Metropolitana. Que Deus o acompanhe!”, assim concluiu.
E o que viu depois disso?
Religiosos, dos mais organizados setores, pedindo a cabeça do arcebispo à CNBB.
Um manifesto, carta aberta, uma vergonha... Segue o texto que aportou na CNBB, para bem informar o leitor d’A PALAVRA:
“João Pessoa, 09 de setembro de 2010
Ao Sr. Núncio Apostólico no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri; Ao Sr. Presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha; Ao Sr. Presidente do Regional Nordeste II da CNBB, Dom Antônio Muniz Fernandes; Aos membros das instâncias colegiadas da Arquidiocese da Paraíba.
Srs. Bispos, nossos Irmãos,
Em carta aberta, nós, Leigos, Leigas, Religiosas, Religiosos, Diáconos e Presbíteros da Arquidiocese da Paraíba, abaixo-assinados, dirigimo-nos respeitosamente aos Srs. Responsáveis pelas diferentes instâncias eclesiais, inclusive as instâncias colegiadas da CNBB, da CNBB Nordeste II e da Arquidiocese da Paraíba, para externar-lhes nossas profundas inquietações em relação à situação comprometedora de nossa Arquidiocese, tendo em vista a já longa sequência de atos deploráveis REITERADAMENTE cometidos pelo Sr. Arcebispo da Paraíba, Dom Aldo di Cillo Pagotto, desde o primeiro ano de sua chegada a essa Arquidiocese (cf. documentos anexos), principalmente no tocante ao seu relacionamento sistematicamente desrespeitoso e preconceituoso em relação aos pobres, à maioria das pastorais sociais (que não apenas não têm contado com seu apoio, antes têm sido por ele hostilizadas). Atos dessa natureza se sucedem, sem qualquer sinal de mudança de atitude por parte de Dom Aldo. Entendemos chegada a hora de apelarmos a quem tem o dever de se posicionar claramente sobre tal situação, que só tende a agravar-se, caso continue prevalecendo o silenciamento ou a omissão diante da lista considerável de atitudes de desdém ou de humilhação a tudo que diga respeito, por exemplo, às CEBs, à CPT, aos leigos, leigas, religiosas ou até a padres e outros grupos pastorais comprometidos com a causa dos pobres, com igual atitude em relação aos movimentos populares, constantemente agredidos por suas palavras e atos, tratando aos pobres com arrogância e desprezo, enquanto trata com privilégio os ricos e poderosos e seus respectivos interesses. Para tanto, não hesita em apelar, quando lhe convém, e de forma unilateral, aos rigores do Código de Direito Canônico, como o fez em relação à suspensão de ordens do Pe. Luiz Couto.
Seu mais recente ato de desrespeito e de preconceito contra os pobres e suas legítimas demandas se deu por meio da imprensa local – na qual aparece com uma freqüência pouco recomendável a um pastor de quem se espera discrição e prudência. Desta feita, numa atitude de afronta a um pleito legítimo e justo como é o Plebiscito pelo limite do tamanho da propriedade da terra, no Brasil, medida já tomada inclusive por diversos países, inclusive a Itália, bandeira amplamente consensual entre as organizações de base da sociedade brasileira (pleito assumido pela CNBB, pelo CONIC e mais de cinqüenta entidades e movimentos populares) e que tem fundamento na própria Doutrina Social da Igreja e nos Documentos da CNBB.
Eis que, sem tomar em conta sequer os documentos que fundamentam a iniciativa, Dom Aldo Pagotto vai ao Correio da Paraíba, em coluna assinada pelo mesmo, em artigo publicado a dois dias do início do referido Plebiscito, e trata de questionar – já a partir do título capcioso de seu artigo "Limite à propriedade produtiva?" - a validade do Plebiscito, tecendo insinuações injuriosas– inclusive de roubo - contra os pobres e contra os movimentos populares. Não contente com a desfeita, volta à sua coluna semanal de Domingo, dia 5 de setembro, em pleno período de realização do referido Plebiscito, para reiterar sua posição.
Diante desses fatos graves, em que é o próprio pastor que se mantém intransigente em seu comportamento sistemático de semear o divisionismo em seu rebanho, vimos solicitar encarecidamente às diferentes instâncias eclesiais que os Srs. representam, a substituição do atual arcebispo, Dom Aldo Pagotto, convencidos que estamos, por fatos concretos de que ele não atende aos requisitos pastorais e pedagógicos de um pastor, no cuidado de seu rebanho.
Confiantes em sua prudência pastoral, e aguardando seu pronunciamento e as providências urgentes que o caso requer, expressamos-lhes nossas saudações fraternas.
Alder Júlio Ferreira Calado - Diácono
Elias Cândido do Nascimento – Leigo, Coordenador do MTC/NE-II
Genaro Ieno – Ex-Agente de Pastoral Leigo
Rolando Lazarte – Sociólogo, ex-professor da UFPB
Lívia Lima Pinheiro – Leiga, ex-Membro da Equipe Exec. Setor Juvent.
Romero Venâncio Júnior – Leigo, Professor Universitário
Genielly Ribeiro da Assunção - Leiga
José Brendan Macdonald – Leigo, Assessor na formação de jovens do meio popular
Eduardo Côrtes Aranha – Leigo
Antônio Alberto Pereira – Professor da UFPB
Ricardo Brindeiro - Animador das Pastorais Sociais
Arivaldo José Sezyshta – Coordenador do Serviço Pastoral dos Migrantes do Nordeste
Maria Angelina de Oliveira – Ex-Coordenadora da JOC (nacional e internacional)
José Gilson Silva Alves – Dirigente Sindical (SINTER – PB)
Luiz Lima de Almeida – Dirigente Sindical (SINTR - PB)
Renato Paulino Lanfranchi – Leigo, ativista de direitos humanos
Raimundo Nonato de Queiroz – Educador de Jovens Cristãos
Luciano Batista de Souza – Nós Também Somos Igreja
Luciano de Sousa Silva – Professor da UFPB
João da Cruz Fragoso – Leigo, membro do Grupo Nós Também Somos Igreja
José Marcos Batista de Moraes – Assessor da Past. Juventude/ C.G
Gilma Fernandes B. Madruga – Leiga, Educadora de Jovens Cristãos
Samantha Pollyanna M. Pimentel – Leiga, Educadora de Jovens Cristãos
Íris Charlene Lima de Abreu – Leiga, Educadora de Jovens Cristãos
Janaína Brasileiro Formiga – Leiga, Educadora de Jovens Cristãos
José Washington de Oliveira Castro Júnior - Leigo, Educador de Jovens Cristãos
Magdala Cavalcanti de Melo – Leiga, membro do Grupo Nós Também Somos Igreja
Valdênia Paulino Lanfranchi – Advogada de Direitos Humanos
Pedro Ferreira de Lima – Diretor do SINTRICOM
Luiz Muniz de Lima - Diretor do SINTRICOM
Maria José Moura Araújo – Projeto Sal da Terra
Erasmo França de Sousa – SINTRICOM
Josiana da S. Ferreira – SINDTESP
José Laurentino da Silva - SINTRICOM
Ednalva Costa da Silva - SINTRICOM
Rafaela Carneiro Cláudio – Leiga, Coord. Assembléia Popular
Adenilton Felinto da Silva – Leigo – Educador Popular
Rosa Lisboa – Leiga – Educadora Popular
Gleyson Ricardo A. de Melo – Leigo, Assembléia Popular
Dora Delfino - Leiga, Rede de Educadores do NE
João Batista da Silva - Leigo
José Santana – SINTRICOM
Eulina Pereira Ferreira – Projeto Sal Terra
Gilberto Paulino de Oliveira – CUT
Edmilson da Silva Souza – Leigo
Francisco D. H. dos Santos – Leigo
Eliana Alda de F. Calado – Leiga
Maria de Oliveira Ferreira Filha – Professora da UFPB”
É pouco? Não, não é. Dom Aldo ainda agora há poucos dias - em 25 de março numa entrevista ao programa Rede Debate, da RCTV, aos jornalistas Hermes de Luna, Heron Cid, José Vieira Neto e Lena Guimarães – pregou tudo em contramão ao pensamento de Francisco, o Papa que surgiu após a sua fala.
"A Igreja não aceita a homossexualidade. A Bíblia diz que o homem foi feito para a mulher e a mulher foi feita para o homem, então não acredito que a Igreja irá aceitar a homossexualidade algum dia", afirmou.
E especialmente em relação à pedofilia mostrou outra vez o seu lado complacente:
"Eu afastei alguns padres, mas não por pedofilia. Um ou outro foi afastado porque se uniu a uma outra pessoa. Por pedofilia, pela minha mão, ainda não passou nenhum caso".
E então, é suspeito ou não vir agora informar que afastou dois padres pedófilos (ou suspeitos de), sem que o MPPB consiga dizer que seu gesto seja verdadeiro?
Sei não, mas acho que há um pano de fundo descomunal nessa história.
Ou será que Pagotto vai repetir o ato de Sobral?
Lá, ele foi acusado de ameaçar, de coagir quatro adolescentes, das dezenove meninas que denunciaram abusos sexuais cometidos pelo Frei Luiz Thomaz, pertencente a sua então diocese.
A reportagem do Jornal O Povo, de Fortaleza, sobre as denúncias de pedofilia do padre Luiz Thomaz, e que teria sido acobertada por Dom Aldo Pagotto, recebeu um dos prêmios de reportagem regional publicado num livro pela Embratel (uma publicação dedicada aos prêmios e premiados da imprensa brasileira).
A matéria foi depois esmiuçada pela revista ‘Isto É’ e tornou-se nacional, deslustrando o nosso arcebispo.
Por mim, continuo com a mosca atrás da orelha.