A nau dos desesperados


CPI dos Maquinários é uma questão de interesse de toda a sociedade

É realmente triste e desolador assistir às últimas cenas do embate entre o prefeito Mauro Mendes e o presidente da Câmara de Vereadores de Cuiabá, João Emanuel.

Em outro artigo, pontuei que essa reação desproporcional contra a CPI dos Maquinários cheirava mal.

Ninguém, com o mínimo de inteligência, vai entender esse desespero todo para barrar a CPI.

O absurdo é tamanho que vários vereadores estão jogando no lixo seus mandatos e se portando como reles e submissos servidores, atentando contra a a imagem do Parlamento e suas próprias biografias, conseguindo superar o desgaste de legislaturas anteriores. 
"Ninguém, com o mínimo de inteligência, vai entender esse desespero todo para barrar a CPI"


O prefeito Mauro Mendes, em nove meses de gestão, não fez nada de conceitual. Parece que já se ”esqueceu” de suas promessas de campanha e se envolveu numa série de casos que nos remete àqueles sombrios tempos, que tínhamos quase certeza que jamais retornariam.

É denuncia de funcionários fantasmas, nepotismo, supostos favorecimentos ilícitos...

Tudo nos leva a crer que o prefeito não é muito de fazer cerimônia quando o assunto é subestimar a inteligência de nós, pobres mortais.

Depois de recusar sentar-se com o setor da Cultura, com argumento de que faria a fusão da Secretaria de Cultura com a de Turismo, por economicidade, do nada nomeou um cantor sertanejo, sem vinculo qualquer com o segmento. E, pior, sem nenhum projeto que justificasse sua indicação.

Mas, segundo Mendes, ele foi nomeado por ser um “empreendedor”, mesmo sabendo que Beto Dois a Um responde a diversos processos por calote, e que sua competência, como empresário, é bastante questionada.

O fato é que, ao nomear o Beto do “Dois a Um”, Mauro ganha um “mix” para divulgar suas ações, enquanto nós ficamos no “zero a zero”.

Como somos todos de inteligência limitada, ninguém vai lembrar que o novo secretário é arrendatário do jornal Folha do Estado e de rádio FM do mesmo grupo.

Mas, voltando à Câmara, o que realmente está parecendo é que, ao partir para ataques pessoais, Mauro Mendes tacou fogo nas pontes e, não tendo como voltar, a saída é bater na tecla de que a Câmara quer tirar-lhe o mandato.

Escalou um grupo de articulistas para tentar dar ênfase e credibilidade à sua história, no afã de comover a sociedade. Em minha opinião, esta tática é quase uma confissão.

Sabendo que o resultado das investigações pode detectar erros e fraudes, que poderiam incorrer em improbidade administrativa, a turma do Palácio Alencastro busca uma “vacina”.

Na remota hipótese de um possível afastamento, o TRE chamaria uma eleição em trinta dias. Portanto, não tem fundamento querer dizer que o presidente da Câmara quer seu cargo. E, se quiser, vai ter que disputar no voto, e não no tapetão.

Em política, não se pode queimar as caravelas, obstruir as saídas, não deixar opções honrosas de recuo. Portanto, foi erro de principiante amador.

Eu, sinceramente, achei que o prefeito e sua equipe tinham caído na real. Mas, não, eis que o senhor Mauro Mendes ressuscita o “Comitê da Maldade”.

Logo ele, que tanto criticou esses métodos abomináveis. Isso, por si só, já é deveras lamentável.

Mas, não para por ai: deprimente mesmo foi ver o ex-senador Antero Paes de Barros, que travou históricos debates na Câmara Alta de nosso país, encarnar, agora, o papel de “bate-pau”, correndo de um lado pro outro, nos bastidores da Câmara de Vereadores.

A cena entra para história como exemplo de decadência e apego ao poder. Antero enterra, de vez, sua trajetória política, sem deixar saudades.

Aliás, ele se se filiou há dias ao PSB de Mendes, em um evento na chácara do ex-vereador e ex-presidente da Câmara de Cuiabá, Lutero Ponce, que foi afastado acusado de desviar R$ 5 milhões. Por certo, foi beber na fonte.

A CPI dos Maquinários, a esta altura, se torna uma questão de interesse de toda sociedade, e não mais de um grupo de vereadores.

Todas as pessoas com quem conversei querem que a licitação seja investigada e escancarada, por que não?

O que haveria de se esconder? Qual o real motivo de tantas manobras, a ponto de praticamente implodir o Poder Legislativo, causando danos à sociedade?

Se o Ministério Público Estadual, que tanto lutou para defender o direito de investigar, não reabrir imediatamente esta investigação, que foi arquivada a toque de caixa (num lance suspeito, aliás), correrá um sério risco de ser desmoralizado pela “desmoralizadíssima” Câmara de Vereadores de Cuiabá.

A partir da semana que vem, começará um grande movimento em prol das CPIs.

Vamos para frente da Câmara, da Prefeitura e do Ministério Público.

Primeiramente, queremos a apuração do caso dos Maquinários. Na sequência, a CPI da CAB e, depois, a apuração de possíveis atos ilegais do presidente da Câmara.

Por final, a CPI que passe a limpo não só a Secretaria de Habitação, mas toda gestão Chico Galindo, nesta ordem.

Para finalizar, só uma observação. Somente duas coisas, na minha opinião, justificam essa sanha alucinada, e quase suicida, dos vereadores da base de Mauro Mendes de se sujeitarem a essa manobra de baixo nível: paixão tresloucada ou muito dinheiro.

RODRIGO RODRIGUES é jornalista e analista político em Cuiabá.