Técnica e travesti, Gretchen dá aulas para meninos carentes


Gretchen comanda há 11 anos uma escolinha de futebol para crianças de 10 a 15 anos, no bairro do Pacheco, em Jaboatão dos Guararapes

Publicado em 24/03/2013, às 09h56

João de Andrade Neto

Gretchen diz se inspirar no técnico da seleção brasileira, Felipão / Rodrigo Lôbo/JC Imagem

Gretchen diz se inspirar no técnico da seleção brasileira, Felipão

Rodrigo Lôbo/JC Imagem

A inspiração vem do técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari. Mas também da cantora, bailarina e musa sexual dos anos 1980, Gretchen, de quem herdou o apelido. “Quando estou no campo, sou exigente como o Felipão. Mas toda travesti tem que ter nome de mulher. O meu é Gretchen”, se apresenta Nerivaldo Eretiano da Silva, de 48 anos, que comanda há 11 anos, por conta própria, uma escolinha de futebol para crianças de 10 a 15 anos, no bairro do Pacheco, em Jaboatão dos Guararapes. Atividade que lhe rendeu o respeito dos moradores da comunidade.
Atualmente, 48 meninos treinam duas vezes por semana sob a batuta da professora Gretchen, que comanda também o time de pelada do bairro, com jogadores entre 17 e 28 anos. Durante todo esse tempo, a travesti garante que nunca sofreu qualquer tipo de preconceito.
“Sei que o futebol é um mundo muito machista. Mas nunca senti nada ofensivo. Os pais dos garotos me conhecem e pedem para os meninos treinarem comigo”, disse ela, que faz questão de comandar a escolinha sempre de calça, camisa e boné. É o único momento no dia que não está vestida com roupas femininas. “Gosto de separar as coisas. Nunca dei liberdade dentro de campo. Até porque, se fizer isso, perco o respeito”, explica Gretchen, que, no entanto, garante ser bastante vaidosa. Já fez, inclusive, implante de silicone nos glúteos e pretende futuramente também colocar nos seios.

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Planos adiados por enquanto. Atualmente, Gretchen está desempregada e mora de favor na casa de uma amiga. O pouco que recebe vem graças ao auxílio do programa Bolsa Família, do Governo Federal. Mesmo assim, cobrar pelas aulas na escolinha de futebol nunca passou pela sua cabeça.
“O que eu tenho é muita boa vontade. Nesses 11 anos da escolinha, ninguém nunca teve que pagar nada. Até porque ninguém tem dinheiro para isso. A comunidade é carente. Tudo aqui é na base da cotinha. Meu sonho é ter a minha casa para poder dar um suporte maior aos garotos da escolinha”, diz. “Tentei ser cabeleireira. Mas o meu negócio é futebol. Fui até goleiro do juvenil do Santa Cruz e do América. As minhas amigas até reclamam dizendo que eu sou muito homem, porque só quero saber de futebol”, brinca Gretchen.
“Ela só pensa em futebol e na escolinha. Se tivesse dinheiro, gastava tudo aqui”, arrisca o amigo Leandro Alisson, de 28 anos, que nas horas vagas é o lateral-direito do time do Pacheco comandado por Gretchen. “Entrei na escolinha com oito anos e nunca vi, nem ouvi, nada de mau da Gretchen. É claro que quando vamos jogar em outro bairro o pessoal solta piada. Mas aqui no Pacheco todos a respeitam muito. Ela leva esse trabalho muito a sério”, completa Leandro.

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