Crianças abusadas não se sentem violadas

Crianças abusadas não se sentem violadas
DHIEGO MAIA Da Reportagem
Diário de Cuiabá

Grande parte dos casos de violência sexual praticada contra crianças e adolescentes em Várzea Grande tem revelado um perfil de vítima extremamente trágico. Para a delegada Juliana Chiquito Palhares, da Especializada em Defesa da Criança, Mulher e do Idoso, “as vítimas não estão se sentindo violadas”, analisa.

Essa mentalidade errônea sinaliza que o abuso sexual tem sido encarado por parte das vítimas como um destino, uma sina em que elas seriam obrigadas a percorrer.  Vulneráveis socialmente, a maior parte das vítimas não tem sequer o que comer em casa. Nesse estágio, um prato de comida acaba se tornando mais valioso que a própria inocência. Palhares revela como vivem as vítimas. “Elas não frequentam a escola, não têm saúde adequada, se envolvem facilmente com o mudo das drogas, os pais são sem instrução e desempregados”.  Semana passada, duas adolescentes de 12 e 13 anos foram abusadas sexualmente pelo idoso Gerci Batista Dantas, de 77 anos, e pelo filho dele, Giovani Xavier Dantas, de 38 anos. Elas trocavam sexo por comida.  Pai e filho mantinham relação sexual com as vítimas há algum tempo. Eles já eram conhecidos da polícia em ocorrências anteriores pelo mesmo crime. Uma denúncia anônima levou a polícia à casa da dupla. Assim que chegou, a polícia encontrou o aposentado com o zíper da calça aberto e o filho dele se lavando no banheiro.  Eles estavam com as adolescentes em um casebre, sem luz elétrica e com grande mau cheiro. Investigadores da Polícia Civil disseram que encontraram até ratos circulando pela residência. A dupla está presa e responderá na Justiça por estupro de vulnerável com uma pena que varia de oito a 15 anos de prisão.  Assim que prestaram depoimentos à polícia, uma adolescente voltou para casa e a outra foi morar com um irmão mais velho. Na casa da família, os conselheiros tutelares encontraram uma triste realidade. A família das vítimas é extremamente pobre e sobrevive com o Bolsa Família, do governo federal.  Os pais não têm instrução suficiente para manter as adolescentes longe dos aliciadores. A polícia já sabe que outros homens já abusaram das meninas. Eles também estão sendo procurados. De acordo com os conselheiros, as adolescentes só voltaram para casa porque os principais aliciadores – Gerci e Giovani - foram presos. 

CICLO - Segundo o Conselho Tutelar do bairro Cristo Rei, em Várzea Grande, as vítimas de abuso sexual passam por um ciclo de aliciamento. A partir dos 10 anos, elas trocam sorvetes, balinhas e alguns centavos pela prática de atos libidinosos. “Os aliciadores praticam uma espécie de leilão sexual. Quanto mais a vítima faz o que pedem, mais ela ganha”, salienta o coordenador do órgão, Deodoro Santana. Cifras de R$ 10, R$ 20 representam muito na mão dessas adolescentes. Depois dos 14 anos, o sexo é inevitável.

Foi assim com outras três adolescentes de 13, 15 e 16 anos. Duas delas acabaram grávidas por um homem que prometia um mundo de sonhos. O aliciador Joel Teles Paulino Filho, de 31 anos, apelidado de “príncipe”, foi preso anteontem, também em Várzea Grande. Dentro de um carro, Joel encontrava as vítimas nas escolas, oferecia sorvetes e lanches, trocava telefones e, depois as levava para motéis na cidade. Com o caso de Joel, a Delegacia Especializada já levou à prisão apenas em janeiro 11 aliciadores.

Para Palhares, os casos de violência sexual expõem uma tragédia tanto para quem pratica o ato como para as vítimas. “Esses crimes são fruto de uma realidade social desprovida de valores”, salienta.

Ainda segundo a delegada, os órgãos responsáveis pela resolução da parte criminal dos casos estão em sintonia. O que falta, para a delegada, é a resposta efetiva do Estado para reparar os danos causados à saúde psicológica das vítimas. “Prender não é suficiente para resolver a situação”, salienta. Denúncias de abusos sexuais podem ser feitas pelo Disque 100. 

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