Carlos Henrique foi julgado por duplo homicídio qualificado e diz ter sido agredido pela PM
MARCIO CAMILO
DA REDAÇÃO
O técnico em informática Carlos Henrique da Costa Carvalho, de 25 anos, foi condenado a 44 anos de prisão em regime fechado, pela morte de Ryan Alves, de 4 anos, e de Admárcia Alves, de 44 anos. O julgamento ocorreu nesta terça-feira (20), no Fórum de Cuiabá. DA REDAÇÃO
As vítimas foram mortas em novembro de 2012 e eram filho e mãe da ex-namorada de Carvalho, Thassya Alves, 24. O Tribunal do Júri foi presidido pela juíza Mônica Catarina Perri Siqueira.
O veredito dos jurados provocou comoção no plenário do tribunal e muitos familiares se abraçaram.
"A sensação é de que a Justiça foi feita, mas gostaria que a sentença fosse maior", declarou o repórter-fotográfico Luiz Alves, avô de Ryan e ex-marido de Admárcia.
Negativas
Carvalho negou, durante o julgamento, que tenha matado Ryan e Admárcia.
Em seu depoimento, ele afirmou que foi agredido na Penitenciária Central do Estado por policiais militares. Ele também disse que foi pressionado para confessar os assassinatos.
“Fizeram uma pressão psicológica. Disseram para eu assinar a confissão, pois havia um monte de provas contra mim que indicavam que eu estava no local do crime. Também me disseram que eu iria ser morto no presídio, pois bandido não aceitava o tipo de crime que eu fiz”, relatou Carvalho.
A juíza então perguntou por que ele não denunciara as agressões dos policiais militares. “Havia promotores no local e seus advogados de defesa. Por que o senhor não relatou as agressões?”, perguntou a magistrada.
Sobre o questionamento, Carvalho declarou: “Prefiro não responder a essa pergunta”, disse o réu.
Ele também afirmou que, na hora dos assassinatos, estava no bar Gerônimo West Music, no Centro de Cuiabá, que depois foi para casa e, em seguida, para o trabalho.
O réu também disse que chegou ao bar por volta das 23h30 e que foi embora por volta das 4h. “Em casa, eu esperei o dia amanhecer e fui trabalhar. Eu bati ponto às 7h da manhã”, afirmou.
Nesse momento, Carvalho caiu em contradição quando foi perguntado pela juíza onde estava depois de ter saído da festa.
“Primeiro, você disse que tinha ido para casa. Mas os policiais que atenderam a ocorrência encontraram apenas os seus pais na casa”, afirmou a juíza.
Nisso, Carvalho mudou sua versão, dizendo que, na verdade, estava no serviço.
“Então, eu estava no serviço quando o meu pai me ligou dizendo que havia policiais lá em casa e que era para eu retornar. Eu voltei pra casa e fui ver o que estava acontecendo, até porque não estava devendo nada”, declarou.
Depoimentos das Testemunhas
As três testemunhas oculares do crime afirmaram, durante o júri, que Carlos Henrique Carvalho foi o homem que jogou Ryan da ponte do Rio Cuiabá.
Porém, o trio disse que não viu nitidamente o rosto do assassino, e que reconheceram Carvalho pelas vestimentas e pelo porte físico.
A única que afirmou ter reconhecido o réu foi Selma Borba. À juíza, ela confirmou que era o acusado que estava na ponte com Ryan, mas que viu o rosto só de perfil.
Na hora do crime, a testemunha passava de carro, junto com o seu marido, seguindo pela ponte Rio Cuiabá. Muito emocionada, ela disse que se arrependeu por não ter parado o carro e verificado a situação melhor.
“Eu devia ter prestado socorro, mas meu marido me disse na hora para não me meter, que se tratava de briga de marido mulher e o pai estava levando o filho. De qualquer forma, a gente resolveu ligar para o serviço de emergência e relatar a situação”, disse, aos prantos.
Já o vendedor Darcy Braz do Nascimento caiu em contradição quando foi perguntado se havia reconhecido Carvalho no local do crime.
No primeiro depoimento à juíza Siqueira e ao promotor de Justiça, José Augusto Veras Gadelha, Nascimento disse que reconheceu o rosto do acusado na ponte.
Já no segundo momento, quando interrogado pelo advogado de defesa, o vendedor disse que não havia visto o rosto do suspeito.
“Nos autos, consta que no seu depoimento na delegacia, o senhor afirmou que não reconheceu o rosto do suspeito. O senhor sabe que pode responder a processo, se estiver mentido, não sabe? Então eu vou fazer a pergunta novamente: no momento do ocorrido você viu todo o rosto do suspeito?“, perguntou Godoy.
Darcy, visivelmente nervoso, fez uma pausa, deu um suspiro e respondeu: “Não, eu não vi o rosto dele”.
“Obrigado. Sem mais perguntas”, disse o advogado Godoy.
Já a terceira testemunhar ocular, o técnico em informática Marlos Dobre Sobrinho, disse que ficou chocado com a cena que viu. “Nunca vi tanta crueldade”.
À juíza, ele relatou que viu Carvalho chegar à beira da ponte, “olhar para um lado e para o outro” e depois jogar a criança no rio Cuiabá.
Depois disso, Sobrinho afirmou que tentou perseguir de moto o suspeito, que correu pela ponte no sentido Várzea Grande. “Eu acabei perdendo ele de vista”, lamentou, durante o depoimento.
Sobrinho disse ainda que estava a cerca de 30 metros de distância de Carvalho.
As três testemunhas oculares afirmaram que Ryan estava sem roupa, no colo do padrasto, com a cabeça recostada em um dos ombros do acusado.
Estratégia da defesa
Durante os depoimentos, a estratégia da defesa foi desqualificar os relatos das testemunhas.
A todo instante, Godoy fazia perguntas no sentido de comprovar que as testemunhas não reconheceram o réu no dia do crime. Dessa forma, não seria possível afirmar que ele era o assassino de Ryan.
No final dos depoimentos, Godoy acusou o vendedor Darcy Nascimento e Selma Borba de prestarem falso testemunho.
“Gostaria de pedir à senhora [juíza] que ficasse registrado que essas duas testemunhas estão mentindo, pois disseram na delegacia que não reconheceram Carvalho e, agora, estão dizendo em juízo que reconheceram o rosto do réu. Os dois estão prestando falso testemunho”, disse.
Depoimento do policial
Outro depoimento que chamou atenção foi o do comandante da Polícia Militar da unidade do bairro Costa Verde, em Várzea Grande, Ronaldo Reiners.
Foi ele, juntamente com a sua equipe, que foi até a casa de Carvalho, momentos depois de Ryan ter sido jogado no rio.
Ele relatou que os policiais encontraram apenas os pais de Carvalho na casa. Mas, segundo Reiners, o que realmente chamou a atenção dos PMs policiais foi uma fala do pai do acusado.
“Ele dizia repetidas vezes à sua esposa: 'Eu não falei pra você que isso ia acabar acontecendo?'”, relatou o policial.
Pai de Ryan
Durante o depoimento do acusado, um dos mais inconformados com a situação era o pai de Ryan, Lauro Pereira Camargo.
A cada contestação do réu, Camargo balançava a cabeça, discordando das afirmações.
Familiares tentavam consolar Camargo, que estava visivelmente abalado e com os olhos vermelhos.
O pai de Ryan chegou a dizer que esperava que o réu pegasse a pena máxima. “Espero que a Justiça não seja branda com ele”, ressaltou.
Ele disse que o receio da família é que Carvalho encontre brechas na lei e tenha a pena amenizada.
“Foi inadmissível o que ele fez. Esse cara não pode ficar apenas 5 anos preso depois ser liberado, como acontece muito na justiça brasileira”, afirmou.
Segundo Camargo, Carvalho possui histórico de violência doméstica. “Ele foi denunciado pelo próprio pai, que disse que ele tentou matar uma ex-namorada, antes de ter cometido esses assassinatos”, acusou.
Quando Ryan foi morto, Camargo estava separado há um ano de Thayssa Alves, mãe do garoto. Eles tinham a guarda compartilhada do filho.
O crime
Consta da denúncia do Ministério Público do Estado que Carvalho entrou na casa das vítimas por uma das janelas sem trancas que ficava escorada com um guarda-roupa, por volta das 5h do último dia 11 de novembro.
O acusado, então, começou a discutir com Admárcia e a acusou de ter influenciado Thassya a terminar o namoro. Carvalho, então, teria começado a agredi-la e a esfaqueou no abdôme.
Depois, ele jogou álcool no corpo e ateou fogo. Nesse momento, Ryan acordou e presenciou o crime.
Carvalho pegou o menino, que estava sem roupa, e colocou ele no carro. O técnico em informática se dirigiu até a Ponte Júlio Muller, no Porto, e jogou Ryan no rio Cuiabá.
O menino ainda tentou se agarrar no réu, mas ele não deixou, e ele morreu afogado.





