"Tem boi na linha da licitação", diz João Emanuel, que virou alvo de três CPIs
LAÍSE LUCATELLI
DA REDAÇÃO
O presidente da Câmara de Cuiabá, João Emanuel (PSD), negou que esteja pressionando o prefeito Mauro Mendes (PSB) por reajuste do duodécimo e o acusou de retaliação por estar "com medo" de ser investigado pela Câmara.DA REDAÇÃO
Segundo Emanuel, os pedidos de instalação de três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) para investigar sua gestão são uma tentativa de intimidação do prefeito.
Em entrevista ao programa "Folha Mix", da Rádio Mix FM, Emanuel disse que o "revide" foi motivado pela abertura da CPI dos Maquinários, que investigará contratos de R$ 9,5 milhões da prefeitura para locação de maquinários – entre eles, o contrato de R$ 3,6 milhões firmado com a Trimec Construções e Terraplanagem Ltda., empresa que pertence a um sócio e amigo do prefeito, Wanderley Torres.
"Eu estranhei o fato de a investigação em um único contrato estar causando toda essa celeuma. Acho que existe boi na linha nessa licitação. Por que o Executivo está com tanto medo de ser investigado? "
“O momento em que essas três CPIs foram propostas já mostra que é uma tentativa de tirar o foco da CPI dos Maquinários, pois foi logo em seguida. Eu estranhei o fato de a investigação em um único contrato estar causando toda essa celeuma. Acho que existe boi na linha nessa licitação. Me disseram que a eles vão ingressar na Justiça para tentar alterar membros da CPI. Por que o Executivo está com tanto medo de ser investigado? Tem gato na tuba”, disse.
O vereador também negou qualquer briga de bastidores com Mendes, e disse que a instalação da CPI dos Maquinários não ocorreu por pressão para aumentar os repasses de verbas, conforme afirmou o secretário de Comunicação, Kleber Lima.
“Eu não estou atacando uma pessoa do Poder Executivo com essa CPI, e sim um contrato. Quem não deve não teme. Quem não deve não manda recado, não coloca assessor recém-contratado para falar em nome do Poder Executivo, dizendo que o problema dos vereadores é dinheiro”, afirmou o parlamentar.
“A briga que existe não é de bastidores, ela está aberta. Eu acredito que o prefeito esperava um Poder Legislativo de joelhos, calado, que só recebesse os mandos e desmandos do Executivo. Mas a população não quer uma Câmara omissa. Houve uma renovação para que fizéssemos um contraponto mesmo, e não falássemos amém para todas as ações do Executivo”, disse.
"Quem não deve não teme. Quem não deve não manda recado, não coloca assessor recém-contratado para falar em nome do Poder Executivo, dizendo que o problema dos vereadores é dinheiro"
João Emanuel afirmou que existem “provas robustas” de irregularidades licitação para aluguel de maquinários, que embasaram a abertura da CPI – a primeira contra a gestão de Mauro Mendes.
“Existiam duas empresas funcionando no mesmo endereço. E após as delações, houve até a tentativa de uma das empresas de alterar o endereço na Junta Comercial. E uma das empresas vencedoras forneceu merenda escolar estragada, segundo o Tribunal de Contas (TCE). Algumas empresas vencedoras também não possuíam certidões da Sefaz. Isso tudo nos soou estranho e motivou a CPI. Há provas e documentos robustos”, afirmou.
Contrato de combustível
João Emanuel sinalizou, ainda, que abrirá outras investigações, para apurar mais denúncias contra a gestão de Mauro Mendes.
“A Câmara não pode ser um poder pequenininho, que só dá nome de rua e discute o sexo dos anjos. Temos que discutir os problemas da sociedade. Temos que nos preocupar porque as denúncias são muitas. Há denúncias em contratos de combustíveis de Cuiabá. Estamos investigando os senões dos contratos da Prefeitura para ver onde foi parar o valor de R$ 1 bilhão gasto neste ano”, disse.
CPIs
No total, os vereadores da base apresentaram, na quinta-feira (22), requerimentos para a instalação de três CPIs contra João Emanuel. A mais polêmica é que a diz respeito à gestão do vereador como secretário da Habitação, nas gestões de Wilson Santos (PSDB) e Chico Galindo (PTB), que foi chamada de CPI da Grilagem e que obteve 15 assinaturas.
A comissão investigará a denúncia dos moradores dos bairros Dr. Fábio II e Altos da Serra, de que João Emanuel teria autorizado duas pessoas, Juares Antonio Batista e Dorival Alves de Miranda, a venderem terrenos ilegalmente nesses bairros e que estavam em processo de regularização fundiária.
As outras duas CPIs dizem respeito ao processo legislativo, e os vereadores da base acusam João Emanuel e a Mesa Diretora de encaminharem para sanção leis com texto diferente do aprovado pela Câmara.
Uma das CPIs propõe investigar o processo legislativo de modo geral, e a outra investigaria somente o texto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
João Emanuel negou irregularidades em sua gestão e afirmou estar tranquilo com relação a essas investigações. Porém, ele disse que não pode ser o único alvo das CPIs.
“Eu sou favorável a todas as investigações, e gostaria que se investigasse mesmo a Secretaria de Habitação. Nessa pasta houve outros gestores e, agora que ela foi transformada em Secretaria de Cidades, temos outro titular [Suelme Evangelista – PSB]. É importante fazer a fiscalização de forma total, passar a limpo. Estou extremamente tranquilo com relação a isso”, afirmou.
No total, cinco CPIs foram propostas esta semana – o número máximo que o regimento interno da Câmara permite que tramitem ao mesmo tempo.
Na terça-feira (20), foram apresentadas a CPI dos Maquinários, já instalada, e a CPI da CAB, que será instaurada nos próximos dias e investigará o contrato de concessão de água e esgoto na capital.
Na quinta-feira, foram propostas as CPIs da Grilagem, do Processo Legislativo, e da LDO, que poderão ser instaladas nos próximos dias.