“O que mais me marcou foi a fala do seu Rocha (ex-presidiário, quatro vezes em reclusão, hoje em regime aberto-domiciliar). Ele nos deixou a vontade. Sua humildade, as pequenas coisas de seu depoimento. O vídeo é encerrado com ele”, declara com brilho nos olhos Ana Regina, 17. Ela e sete estudantes de Publicidade e Propaganda da Universidade de Cuiabá (UNIC) fizeram, em junho de 2013, um curta sobre o processo de reintegração social e profissional de ex-presidiários. Rejeição, medo e preconceito são temas do vídeo que traz depoimentos de ex-detentos e do juiz a 2ª Vara Criminal de Cuiabá, Geraldo Fidelis.
De acordo com Ana Regina, a ideia não foi inicialmente de trabalhar com reeducandos e sim com mulheres presidiárias. Pela falta de uma autorização para entrar no presídio desistiram, mas conseguiram um novo projeto, como narra Regina. “Minha mãe trabalha com ex-presidiários e sugeriu, então, que fizéssemos sobre eles”.
A quebra de paradigmas esteve presente durante toda a produção do vídeo. As estudantes contam que o semblante do grupo no início era de receio. “Ficamos assim até no momento da gravação”, confessa Ana Regina, porém, no final, “aprendemos a não julgar mais, não sabemos o que eles viveram”, conclui Isabella Lorrayne, 20.
Um dos grandes momentos foi o encontro com Dilton, dono da Fábrica Esperança, que é uma espécie de marcenaria que oferece oportunidades de empregos para presidiários, com possibilidade de extensão após a pena. Com o atraso de Dilton, a ansiedade tomou conta das estudantes.
“Achávamos que era um ‘bonitão’, ficamos procurando-o em meio ao público”, revela Isabella.
Dilton apareceu. Queda de expectativa, não era o “bonitão”, mas um senhor humilde. Santiago e Regina declaram que Dilton chegou pedindo desculpas pelo atraso. Ele estava no Pronto Socorro e seu braço acabara de ser fraturado. “Mas mesmo assim ele veio, foi muito humilde”, acrescentou Lorrayne.
A produção contou ainda com a participação dos estudantes Bruno Dias, Willian Candido, Amanda Araújo, Luan Tolentino, Webson Campos e Rodolfo Willian. Na ocasião todos estavam no 1º semestre ainda.
A equipe de técnicos da Faculdade de Comunicação Social (Facs) auxiliou na edição e foi utilizada uma câmera profissional. “Mas não tínhamos experiência, estávamos cru. Saiu como se fosse amador”, declara a estudante Isabela Santiago.
O vídeo foi criado para a disciplina de Comunicação Empresarial, ministrada pela professora Inara Fonseca. O objetivo do trabalho era que os alunos desenvolvessem uma campanha para uma ONG fictícia de Direitos Humanos.
