Às vezes, ela demora, mas, mesmo tardia, a verdade vem à tona. Pelo menos, no caso especifico do prefeito
Mauro Mendes não demorou nada. No dia seguinte à sua pose, já podíamos identificar que suas “verdades” não correspondiam aos fatos.
Ele negou, publicamente, que tinha o apoio do ex-prefeito Chico Galindo. Antes mesmo de assumir, na transição, já se derretia em elogios à gestão Galindo.
Manteve parte do secretariado e assumiu que o apoio do ex-prefeito foi "fundamental" para vencer as eleições.
Em vários debates, reuniões e, até mesmo, no programa eleitoral, Mauro se comprometeu que, se eleito fosse, recontrataria os cobradores de ônibus imediatamente, no dia seguinte de sua posse. Seis meses já se passaram e, agora, o nobre prefeito veta um projeto de lei que prevê o retorno dos cobradores.
A qualidade do sistema público de transporte de Cuiabá é, mundialmente, reconhecida pela alta tarifa e a péssima qualidade. Em todas as eleições municipais, o tema é alvo de promessas e debates.
No ultimo pleito, Mendes prometeu que, em seu primeiro ano de Governo, faria a licitação para contratar as empresas responsáveis por transportar a população. Agora, diz que não a fará mais, usando um argumento que não convence nem aos seus bajuladores alienados.
"De forma firme e até um pouco arrogante, Mendes dizia, em seus programas eleitorais, que instituiria a meritocracia, priorizando o perfil técnico. De todos os seus secretários, talvez apenas Kamil Fares, por ser médico, e mais um ou dois, têm perfil técnico"
De forma firme, e até um pouco arrogante, Mauro Mendes dizia, em seus programas eleitorais, que jamais admitiria o compadrio, o cabide de emprego, o loteamento de cargos - e que instituiria a meritocracia, priorizando o perfil técnico, pois era assim que fazia em sua empresa.
De todos os seus secretários, talvez apenas Kamil Fares, por ser médico, e mais um ou dois, têm perfil técnico.
Desenterrou pessoas que estão mamando nas tetas da Prefeitura de Cuiabá há mais de 20 anos, com grande responsabilidade no que tem de ruim por aí.
Nomeou filhos e enteados de companheiros de partido, sem a menor qualificação. E pior, esses, ao que tudo indica, nem dão expediente conforme determina a lei.
Na Secretaria de Cidades, o titular é historiador, funcionário da Secretaria de Educação do Estado; na Secretaria de Serviços Urbanos, é um professor da rede municipal; e na Secretaria de Educação, um ex-funcionário da Fiemt que é administrador de empresa e pós- graduado em sistema de Saúde.
As secretarias de Cultura e Turismo foram ocupadas como "prêmio de consolação" para um candidato a vereador que não foi eleito; no Meio Ambiente, um professor universitário especialista em políticas de Educação; no Desenvolvimento Urbano, que deveria ter à frente um arquiteto ou engenheiro, está nas mãos de um sobrinho de Galindo. E muito mais. Se nos aprofundarmos no segundo escalão, teria que ser, no mínimo, uns cinco artigos.
Eu, pessoalmente, não vejo nada de grave nisso. Só não acho correto, e ético, o candidato passar quatros meses buzinando no ouvido de todo mundo, dizendo que, com ele, seria diferente, para depois fazer tudo igual, ou pior.
Mauro Mendes, em 2008, quando se candidatou pela primeira vez a prefeito, tinha um discurso raivoso e agressivo. Repetidas vezes, se dirigia ao ex-prefeito Wilson Santos como mentiroso, dando lhe o apelido de "Pinóquio".
Mas, eis que o mundo dá volta, e no momento em que Wilson é consagrado pela divulgação do IDHM, que colocou Cuiabá em primeiro lugar entre os municípios de Mato Grosso, Mauro caminha a passos largos para entrar para história como o maior de todos os mentirosos que já passaram pelo Palácio Alencastro.
Seu critério fisiologista para escolha de seus assessores, seus laços com a gestão passada de Chico Galindo, seu compromisso com os empresários do setor de transporte e as licitações - que, “coincidentemente”, foram vencidas pelos seus sócios, amigos e coordenadores de campanha - não deixam dúvidas: batom na cueca.
Mauro mentiu para população. Talvez a única verdade nisso tudo é o que os adversários diziam sobre ele.
RODRIGO RODRIGUES é jornalista e analista político em Cuiabá.





