Correio Braziliense
Nenhum dos quatro coroinhas que denunciaram o padre Edson Alves dos Santos nem sequer voltou a Alexânia.
As vítimas fazem de tudo para ninguém saber do passado delas. O único localizado pelo Correio é o do caso que levou o sacerdote à cadeia.
Aos 17 anos, o adolescente mora com os pais e os avós em uma chácara no Entorno. Largou os estudos no sexto ano do ensino fundamental porque temia ter a vida investigada pelos colegas.
Não arruma namorada pelo mesmo motivo. Não recebe apoio psicológico ou pensão. Só sai de casa para acompanhar o padrasto, com quem trabalha como servente de pedreiro.
Os avós e a mãe do garoto são os únicos da família a visitar a cidade que tiveram de deixar para trás e a conversar com o Correio.
Mas só vão a Alexânia em ocasiões especiais, como o aniversário, o casamento, o velório ou a formatura de algum parente distante.
A avó carrega uma culpa sem fim. “Fiz de tudo para ele (o neto) virar coroinha. Era daquelas que acreditava apenas no padre.
Vivia para ele e a Igreja”, lamentou. “Ele (o padre) condenava o jeito das pessoas se vestirem, a prostituta, a mãe solteira, a mulher desquitada. E era o pior de todos os homens. Hoje, para mim, ele é um monstro.”
Aos 71 anos, a avó disse não acreditar na superação do trauma. “Acabaram com a nossa família. Meu neto está revoltado, perdeu a alegria de viver. E parece que nós somos os bandidos. Não ganhamos nada com isso.
O que queríamos era só Justiça, só que o padre pagasse pelo mal que fez”, comentou, em um misto de indignação e vergonha, sob o olhar triste do marido. “Expulsaram a gente da cidade.
Gostava tanto de morar lá, era onde queria morrer. Levei 20 anos para construir a nossa casinha e aconteceu isso tudo com a minha família”, observou o aposentado de 73 anos.
Fé mantida
A mãe da vítima do padre E, ele, dois irmãos e o padrasto vivem em um barracão sem laje e sem reboco, nos fundos do terreno onde os avós moram em outra casa, também sem acabamento.
E, sobre móveis antigos e quebrados, eles conservam imagens e Bíblias. Todos continuam católicos, inclusive o rapaz abusado sexualmente em uma igreja e em uma casa paroquial.
“A diferença é que hoje não vamos à missa. Não acreditamos mais em padre, mas também não perdemos a fé. Acreditamos na palavra de Deus, não de alguém que diz representar alguém, alguém como nós, humano, que também erra”, explica a mãe.
Indenização
A família costuma rezar unida ao redor de um altar montado na sala da casa dos patriarcas. Ninguém fala em uma punição ao padre maior do que a prevista em lei.
Mas eles se incomodam com o fato de o pároco não estar em uma cela como os demais detentos de Alexânia. “Era para ele ficar preso, mas a gente soube que nem roupa de preso ele usa.
A gente não entende isso”, desabafou a mãe do ex-coroinha, a ex-diarista que virou dona de casa para sempre estar perto do filho traumatizado.
Ela nem sequer fala em reparação por danos morais. “Não sei desse negócio de lei, moço.”
Entre as poucas pessoas que auxiliaram a família da vítima e ainda a ajuda está o advogado D R, 36 anos.
Morador de Goiânia, ele cuida do caso desde o início, sem nunca ter cobrado um centavo. “A história do menino e da família me tocou muito. Virou minha causa social e pessoal”, afirma.
O defensor diz ter sofrido pressões de todos os lados. “Pessoas influentes, da cidade e da Igreja fizeram de tudo para o caso nem ser investigado”, conta.
Durante o processo, ele pediu (e conseguiu) que uma promotora se afastasse do caso. “Ela deixou a causa sob suspeição. Era amiga do padre, quem tinha celebrado o casamento dela.”
Agora, Rios busca uma pensão para toda a família da vítima. “Mantenho conversas constantes com representantes da Igreja em Goiás.
Primeiro, tento um acordo administrativo. Se não conseguir, apelarei à ação indenizatória para cada um dos integrantes dessa família”, contou, sem falar em prazos e valores.
Para saber mais
Resposta à omissão
O Vaticano divulgou, em 12 de abril de 2010, que os casos de padres pedófilos devem ser denunciados “sempre” à autoridade civil e que, nos casos mais graves, o papa pode rebaixar diretamente ao Estado laico os religiosos sem a necessidade de um julgamento canônico.
As informações estão em guia do Vaticano para os casos de abusos de menores. Constam no site da Santa Sé.
O documento, que não traz novidades ao que o próprio papa Bento 16 já havia pedido em carta aos fiéis da Irlanda, é a maior cartada do Vaticano até agora para responder às críticas de que a Igreja Católica se calou diante de centenas de casos semelhantes aos de Alexânia.






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