Sem planejamento, o trânsito de Cuiabá vira um caos


Capital cresce de forma desordenada e já não suporta a frota atual de veículos

MidiaNews
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Congestionamento já se tornou algo comum no cotidiano dos cuiabanos
LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Longas filas de congestionamento e o som das buzinas ecoando pelas ruas já se tornram uma triste rotina – que demanda paciência – na vida dos cuiabanos.

Os especialistas em engenharia de tráfego são taxativos ao afirmar que o sistema de trânsito de Cuiabá e Várzea Grande está sobrecarregado e próximo ao colapso, caso medidas efetivas visando ao replanejamento urbano não sejam tomadas pelo poder público.

Dados de fevereiro de 2013, divulgados pelo Departamento de Trânsito de Mato Grosso (Detran-MT) apontam que, atualmente, a frota em circulação na Grande Cuiabá já alcançou o número de 462.882 veículos – sendo 338.636 na Capital e 124.246 em Várzea Grande.

Porém, enquanto o número de veículos em circulação aumenta a cada ano, o mesmo não se pode dizer da capacidade viária da cidade.

"Se em 10 ou 15 anos não for feita a aderência do planejamento urbano com a Lei de Uso e Ocupação do Solo, a situação tende a piorar"
Um estudo realizado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em parceria com a Secretaria Municipal de Trânsito (SMTU), aponta que a malha viária da Capital comporta apenas 100 mil veículos, o que equivale a um terço da frota cadastrada no Município.

Isso, sem levar em conta os veículos com placas de outros municípios que também trafegam, diariamente, pelas ruas de Cuiabá.

O engenheiro civil Eldemir Pereira de Oliveira ressalta que os dados da pesquisa que esses dados valem, principalmente, para a área central e demais regiões de conflito da cidade, onde a sobrecarga é maior em relação à capacidade de escoamento do trânsito.

Mestre em Planejamento de Trânsito e doutor em Logística de Trânsito, Oliveira se diz convicto de que a maior razão para o problema viário da Capital é a falta de planejamento urbano.

“Cuiabá ainda não percebeu que deve colocar em prática o que está estabelecido no Plano Diretor da cidade. A gente percebe que as medidas que estão ali regulamentadas não são executadas. Não há aderência entre o que está na lei e o que é autorizado pelo Município. A cidade continua crescendo de uma forma desordenada”, disse.

Falta de planejamento


Em entrevista ao MidiaNews, o engenheiro argumenta que a falta de gestão do poder público se arrasta durante anos, mas que o trânsito começou a dar sinais de que chegaria ao “colapso” no início dessa década.

Ele explica que um dos principais desrespeitos à Lei de Uso e Ocupação do Solo em vigência na Capital, por parte do Município, se trata da aprovação de construções imobiliárias sem que haja um projeto de escoamento do tráfego na região da obra, visando o aumento do fluxo na via no futuro, para acesso ao empreendimento.

"A Avenida Miguel Sutil foi concebida para ser um anel viário, uma via de fluxo rápido, mas hoje está uma via entupida, por conta da atração comercial que foi gerada em torno dela"
“Por que esses novos loteamentos que são autorizados não incorporam vias de maior capacidade de fluxo, sistemas bem planejados de tráfego? Eles limitam a visão à área de construção e relegam a segundo plano o escoamento, sendo que na hora que essa área comercial ou residencial for ocupada, vai usar essa pista para acesso”, afirmou.

“Não há uma visão preventiva. E com isso, os loteamentos estão sendo autorizados pelo Município de uma forma que vai maximizando a capacidade de lucro de venda do espaço, em detrimento da capacidade de fluxo das pessoas que vão usar esse espaço”, acrescentou.

O engenheiro ressalta ainda que o poder público fica refém da economia gerada pelos investimentos imobiliários e, com isso, libera projetos sem uma avaliação rigorosa.

“O poder público não quer briga e vai liberando os loteamentos sem um casamento daquele empreendimento com o planejamento da cidade”, criticou.

Oliveira acredita que, se nada for feito em breve para organizar o trânsito na cidade, os pontos de “estrangulamento” – vias com capacidade menor do que o fluxo que comporta – irão aumentar consideravelmente.

“Se em 10 ou 15 anos não for feita a aderência do planejamento urbano com a Lei de Uso e Ocupação do Solo, a situação tende a piorar”, avaliou.

Obras da Copa

Para o engenheiro, as obras de mobilidade urbana que estão sendo executadas ao longo das principais vias da Grande Cuiabá – entre trincheiras, viadutos e pontes – já eram necessárias para aliviar o trânsito mesmo se a Capital não houvesse sido escolhida como sede da Copa do Mundo de 2014.

Thiago Bergamasco/MidiaNews
"Tudo é falta de planejamento urbano", diz o engenheiro Eldemir Oliveira
Na visão do especialista, se o crescimento de Cuiabá houvesse sido planejado, o impacto causado pelas obras – com o uso de desvios estreitos e improvisados – não seria tão grande e elas surgiriam realmente como uma solução para o trânsito da cidade.

“Da forma como essas soluções que estão sendo trazidas pelo Governo do Estado, elas serão apenas obras emergenciais, que vão aliviar o trânsito no local por poucos anos, mas não são definitivas”, afirmou.

Ele cita como exemplo a construção da Avenida Miguel Sutil que, quando concebida, tinha uma destinação diferente da forma como é usada atualmente.

“A Avenida Miguel Sutil foi concebida para ser um anel viário, uma via de fluxo rápido, mas hoje está uma via entupida por conta da atração comercial que foi gerada em torno dela. O Município tem que pensar que a cidade vai crescer”, disse.

O mesmo ocorre com a construção da Via Parque do Barbado, via que deverá interligar as regiões do Coxipó e CPA, margeando o córrego de mesmo nome e passando pelas principais avenidas.

“A via, em si, resolve parte do problema de tráfego. Mas e as ruas que dão acesso à avenida? Elas são estreitas, não têm capacidade de fluxo”, afirmou.

Ele ressalta que construir novas vias de forma desordenada, sem visão do futuro, não resolve o problema.

“Devem-se criar ruas e avenidas com capacidade para suportar a ampliação de veículos no futuro, com a chegada dos investimentos imobiliários. Porque, da forma como é feito, se trata de soluções pontuais que não resolvem o problema por muito tempo. Não fica crítico como está hoje, gera certo alívio, mas é temporário, porque que cidade continua crescendo”, explicou.

Transporte coletivo: um agravante

"O aumento de veículos nas ruas é consequência de um transporte coletivo em péssimas condições"
Oliveira defende que, se há um aumento preocupante da frota de veículos na cidade, a razão para tanto é a falta de um transporte coletivo em condições de atender, com qualidade, à demanda da população.

“Se o sistema de transporte coletivo fosse bom, muita gente não compraria motos, por exemplo, ou deixaria seu veículo em casa. As pessoas estão melhorando o ganho e ter um veículo hoje, não é luxo, é utilidade. A facilidade de aquisição contribui muito para deixar o trânsito da forma como está. E eu digo que o aumento de veículos nas ruas é consequência de um transporte coletivo em péssimas condições”, afirmou.

O engenheiro acredita que a construção do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) deve servir como um problema paliativo ao sistema de transporte coletivo vigente na Capital, mas que é necessário um planejamento eficiente de integração com o modal.

“O VLT vai resolver o problema ao longo dos dois eixos em que vai transitar, por ser uma via expressa, com frequência de horário. Mas como fica a captação e distribuição desse fluxo de passageiros? Deve-se pensar nisso tudo”, disse.

Solução

Oliveira acredita que ainda há tempo para melhorar o trânsito da cidade, caso o Plano Diretor do município seja seguido à risca pelo gestor atual e haja uma descentralização da ocupação urbana, hoje concentrada na região central da cidade.

"Hoje, o local de maior conflito é o Centro, porque suas vias são estreitas, tortuosas e não possuem capacidade para suportar o fluxo de trânsito"
“A solução é criar, por exemplo, um corredor de transporte coletivo, que ajuda a descentralizar as atividades urbanas, levando para outras áreas as escolas, hospitais, bancos, possibilitando que o trânsito seja disperso pela cidade. Você tem que replanejar o sistema viário de maneira que você possa descentralizar o fluxo de trânsito”, afirmou.

Ele explica que há muitos espaços vazios na cidade em áreas como Coxipó, Distrito da Guia e Estrada de Chapada, que poderiam suportar a construção de vias de grande capacidade de fluxo e ajudariam a descentralizar as atividades urbanas, com a ocupação habitacional e comercial sendo bem distribuída.

“Desse, jeito, você terá a região central relegada às visitas turísticas. Hoje, o local de maior conflito é o Centro, porque suas vias são estreitas, tortuosas e não possuem capacidade para suportar o fluxo de trânsito e não permitem excessos de vibrações. As construções de lá não têm estrutura para suportar ruídos, poluição do ar e vibrações”, argumentou.

Ele acredita que, caso a fiscalização da execução dos investimentos imobiliários seja mais rigorosa, com planejamento sempre feitos a médio e longo prazo e continuidade administrativa, o trânsito na Capital poderá melhorar significativamente.

“Eu sempre falo que o problema da gestão urbana é a efetividade. Ou seja, fazer com que as coisas saiam do papel”, disse.

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