Mendes mostra pulso firme, mas peca por falta de articulação

Prefeito adotou posicionamentos que causaram desgastes desnecessários 

Prefeito precisa aprimorar capacidade de diálogo. (Foto: Tchélo Figueiredo, Secom Cuiabá).

Passados quase dois meses desde a sua posse, o prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB), já percebeu que terá de melhorar sua capacidade de diálogo se quiser desempenhar uma boa gestão à frente do Executivo Municipal.

Talvez por falta de experiência política, Mendes, num primeiro momento, adotou posicionamentos desnecessários, causando já um certo desgaste perante alguns setores.

O novo prefeito anunciou, de cara, um salgado reajuste do IPTU, chegando a afirmar que a construção do novo Pronto Socorro – uma de suas maiores promessas de campanha – ficaria comprometida, caso o aumento não fosse aprovado pela Câmara Municipal.

Mendes, acostumado a dar ordens no mundo empresarial, teve que escutar do presidente do Legislativo Municipal, o também estreante João Emanuel (PSD), “que a Câmara não será subserviente ao Executivo”, ao rechaçar a proposta de reajustar o IPTU.

O prefeito, por sua vez, numa clara estratégia de tentar boicotar os planos dos vereadores de aumentar os próprios salários, como consta em um projeto de lei, vetou o aumento de seus subsídios. Mesmo assim, os vereadores derrubaram o veto de Mendes e aumentaram os salários do prefeito, além dos seus.

Mauro Mendes também comprou uma briga feia com o meio cultural, ao divulgar que faria a fusão da Secretaria de Cultura com a de Turismo. Sob forte pressão, recuou, pelo menos por agora, da proposta.

O prefeito também não ficou bem visto entre os usuários do transporte público. Aprovado pelo ex-prefeito Chico Galindo (PTB) ao final de sua gestão, o aumento da tarifa (que saltou de R$ 2,70 para R$ 2,95) não foi contestado por Mendes, que ainda ironizou aqueles que se mostraram contrários, como os estudantes.

“Achei estranho ver estudantes protestando contra o aumento, porque eles não pagam passagem de ônibus em Cuiabá. Quem paga é a prefeitura, que gasta mais de R$ 15 milhões por ano para transportar os estudantes”, disparou, na ocasião.

Mendes também não teve habilidade para administrar questões envolvendo o seu arco de alianças. No mesmo dia em que tomou posse, o prefeito perdeu seu vice, João Malheiros (PR), experiente articulista político que, não se sentindo prestigiado, abandonou o projeto.

Malheiros alegou que não assumiria porque serviria melhor a Cuiabá como deputado estadual. Nos bastidores, no entanto, a renúncia de Malheiros é atribuída ao fato de Mendes não o ter deixado participar da escolha de nomes para compor os cargos comissionados.

Bolas dentro

O prefeito tem demonstrado que não será complacente com indícios de corrupção em seu governo.

Por determinação de Mendes, 10 servidores municipais suspeitos de envolvimento em fraudes no sistema tributário da prefeitura foram afastados de suas funções. O esquema, que já teria causado prejuízos superior a R$ 3 milhões, conforme a Polícia Civil, foi desarticulado no ano passado, na Operação Impostor.

Mendes também determinou o recadastramento de todos os servidores da prefeitura, no intuito de se livrar de “funcionários fantasmas” – aqueles que ganham sem comparecer ao trabalho.

A medida culminou, até o momento, no bloqueio de salários de, nada menos que 221 “funcionários”.

Mendes ainda terá tempo para amadurecer politicamente, porém, ainda precisa aprimorar sua desenvoltura política. Não é de hoje que a fama de arrogante o acompanha.