Ironicamente, o título interno, “Inocência violada”



O duplo estupro da criança de Quirinópolis

Reprodução
A capa do DM, sem as fotos: tem mesmo de ser mostrado? Qual a relevância jornalística da exposição visual de um abuso contra uma criança?


Antes de chegar a a­marelar, esquecida em alguma prateleira, a capa do “Diário da Manhã” da quinta-feira, 14 de março de 2013, já terá entrado e ocupado lugar na sala VIP da história negativa do jornalismo goiano. O motivo está ali, logo acima do título do jornal (na “cabeça”, como se diz no jargão): “Monstruoso, repugnante, inqualificável. Mas tem que ser mostrado”.

Esse é o título que serve como uma defesa prévia pelo cometimento da absurda arbitrariedade que vem logo abaixo dele: ali estão três fotos em sequência, capturadas de um vídeo que mostra um homem abusando sexualmente de um garoto de 3 anos em uma praça de Quirinópolis.

A capa do DM consegue, assim, uma maligna proeza: sendo condescendente, ela se torna tão monstruosa, repugnante e inqualificável quanto o ato do criminoso. Jogando a condescendência de lado, pode-se dizer que a capa é um segundo estupro da criança. Com a notícia em uma página de jornal, registra-se “ad eternum” a violação de sua intimidade e a de sua família. Depois de tudo o que o agressor real já lhes tirou, a criança e sua família perdem ali, naquela exposição em capa de jornal, o direito de sorver o fel de tal violência de forma privada.

Se em seu círculo mais próximo todos já sabiam e se em Quirinópolis a população teve notícia do crime ocorrido, com a divulgação no jornal todos da cidade e do Estado puderam também assistir como tudo ocorreu. A pergunta que fica é: qual a necessidade de alguém ver a abominação sendo cometida?

Não satisfeitos com o des­taque na capa, os responsáveis pela edição abrem a página 3, a mais nobre entre as internas de uma publicação, com quatro imagens de reprodução do vídeo ocupando dois terços da página. A reportagem de Marcelo Tavares — o que sobra de ético e informativo em toda a história — fica espremida no pé da página, concorrendo com uma foto da praça onde o crime ocorreu.

Ironicamente, o título interno, “Inocência violada”, tanto diz respeito ao estupro quando às imagens divulgadas pelo jornal. Para cavar uma vendagem minimamente maior, o DM mais uma vez passou dos limites éticos. Pode ser que o jornal tenha querido parecer audacioso. O que conseguiu foi somente satisfazer o lado mórbido de uns poucos e obter a reprovação da maioria que tem o mínimo de humanidade.

Um veículo histórico na im­prensa goiana, o DM precisa reencontrar o ponto para sua ousadia outrora saudável e depois perdida em algum lugar já distante do passado. Não pode deixar os valorosos profissionais que lá trabalham serem submetidos a esse tipo de pecha profissional a troco de um salário que nem sempre chega em dia. A responsabilidade social do jornal, que se envolve em boas campanhas — como a do replantio de árvores, juntamente com a Rádio 730 —, é destruída, ani­quilada e negativada com uma simples decisão editorial.

Não obstante, o jornal no dia seguinte soltou nota divulgando que a edição teria se esgotado nas bancas. Triste a situação do “Di­ário da Manhã”, que, para vender, precisa ser vendido assim. O DM poderia ser tanto, mas se deixa ser menos por muito pouco.

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