Nova Iorque, 6 de Março de 2013 – Katherine Starr de 44 anos não nasceu com esse nome, e nem a adquiriu por via de casamento. Ela nasceu Annabelle Cripps mas devido às circunstâncias da vida teve que mudar o seu nome em 2006.
Filha de emigrantes britânicos nos Estados Unidos, Starr foi violada pelo seu treinador de natação quando tinha 14 anos, dois anos antes de competir pelo Reino Unidos no primeiro de dois Jogos Olímpicos da sua carreira. O acto traumatizou-a bastante ao ponto de ter tido um desempenho desportivo desastroso nos jogos de 1984 e 1988.
O que parece um paradoxo é o facto de que os colegas dela sabiam do que estava a acontecer mas ninguém vinha em seu apoio. Foi mais tarde que ela teve a coragem para falar abertamente das repetidas violações mas a sua vida tinha tomado um rumo para o pior.
Starr começou a encontrar consolo no álcool, teve uma relação difícil com o falecido pai devido aos segredos que guardava. Finalmente conseguiu lidar com o álcool, mudou o seu nome para “começar” uma nova vida.
Hoje ela é uma mulher imponente com cerca de 1m85 e pesa por aí uns 80 quilos. Dirige uma organização cuja missão é fazer advogacia para o bem-estar de atletas, e consciencializar a comunidade desportiva sobre a necessidade da criação de um ambiente seguro para os atletas, principalmente os do sexo feminino.
A estória de Starr não é singular. Talvez a sua singularidade resida no facto de que teve a coragem de quebrar o silêncio sobre o que acontecia longe do olhar dos espectadores. A própria Starr diz que “existem muitos outros atletas na mesma situação com os seus treinadores.”
Por exemplo, uma pesquisa na República Checa obteve resultados chocantes: 45 porcento de atletas femininas sofreram assédio sexual ao longo das suas carreiras.
O ponto é que essas possíveis vítimas de abuso sexual fecham-se em copas devido a vários factores, entre os quais o facto de não quererem que as suas vidas sejam na boca do povo dado o alto perfil. Por isso mesmo, é possível que muitos treinadores fiquem impunes.
Sendo que, é necessário que haja programas inovadores visando tornar o ambiente desportivo num lugar onde atletas possam se sentir seguros. A experiência que a República Checa encontrou foi de primeiro fazer uma pesquisa para desenvolver conhecimento que pudesse elevar a consciência sobre as dinâmicas do género no mundo desportivo.
Como fruto do estudo, foi possível aumentar o número de treinadoras em quase todas as áreas desportivas, através de programas específicos. Além disso, começou-se uma iniciativa com vista a ter-se mais mulheres em posições de tomada de decisão – as mulheres perfaziam apenas cinco porcento.
Há que também se educar as atletas no sentido de conhecerem os seus direitos e leis de modo a que não sejam sujeitas à casos de assédio e abuso sexual.
No caso de atletas abusadas que decidem quebrar o silêncio, é preciso que sejam acarinhadas e apoiadas porque quanto mais atletas falarem, elas acabam inexoravelmente empoderando e dando vozes às outras.
“Precisamos de consciencializar estas pessoas, e não perpetuar a teoria de ‘culpabilizar a vítima’ porque a equipa precisa do treinador,” disse Yolanda Jackson. Não importa se o treinador produz ganhadores, o que importa é que os atletas que entregam toda a sua vontade aos treinadores não sejam abusados.
As autoridades desportivas, organizações desportivas e clubes devem criar uma estrutura para o aconselhamento das vítimas de abuso, programas educacionais e recomendações sobre como se contactar as autoridades adequadas para se reportar os abusos e iniciar-se investigações criminais.
O envolvimento dos pais é também crucial. Muitas vezes, os pais confiam os seus filhos ainda menores aos treinadores e fingem que não vêm quando há suspeitas de abuso porque querem que o seu educando seja um bom atleta.
“O que acontece é que as pessoas fora do ambiente desportivo não percebem porque os atletas, principalmente, os menores, não são capazes de denunciar quando são assediados,” disse Jackson. Mas sem orientação sobre comportamento adequado, muitos comportamentos desviados dos treinadores continuarão a ser considerados normais.
Infelizmente, se a cultura no mundo desportivo continuar sem mudanças visando tornar o ambiente seguro, corre-se o risco de o sistema produzir mais Katherine Starr; abusadas, traumatizadas e sem auto-estima para enfrentar o mundo.
Bayano Valy é o Editor do Serviço Lusófono da Gender Links. Este artigo faz parte da cobertura especial da GL da CSW 57
http://www.genderlinks.org.za/article/internacional-criar-ambiente-livre-de-abusos-sexuais-para-atletas-2013-03-07
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