A área territorial gigantesca do Brasil, o quinto país mais extenso do mundo, também proporciona uma enorme região de fronteira com a maioria dos países continentais da América do Sul, com exceção apenas de Chile e Equador.
Argentina, Paraguai e Uruguai participam do Mercosul juntamente com o Brasil. A Bolívia também tem uma importante relação com a economia nacional graças à exportação de gás. Colômbia e Peru são dois dos destinos favoritos dos brasileiros no continente, enquanto o Brasil se tornou um refúgio para venezuelanos durante a crise econômica do país.
Mas e quanto a Guiana, Guiana Francesa e Suriname? Por que esses dois países e o território ultramarino da França têm pouca ou nenhuma ligação com o Brasil e o povo brasileiro?
De acordo com professores da UFRR (Universidade Federal de Roraima), são muitos os motivos pelos quais esses territórios, apesar de vizinhos, têm um enorme distanciamento do restante do continente.
Colonizados por França, Holanda e Inglaterra, a barreira linguística com a América do Sul, predominantemente luso e hispanófona, é um dos muitos empecilhos.
Segundo o professor de relações internacionais da UFRR Américo Alves de Lyra Júnior, as três nações ao norte do Brasil são mais próximas dos países caribenhos, apesar da barreira geográfica criada pelo oceano Atlântico.
“O olhar desses países está mais voltado para o Caribe. Basta lembrar que a sede da Caricom, a comunidade caribenha de nações, fica na capital da Guiana, que é Georgetown”, explicou Lyra Júnior em entrevista ao R7.
Boa parte da população desses territórios, que juntos somam cerca de 1,5 milhão de pessoas, reside na região litorânea, mais distante da fronteira brasileira e mais próxima do Caribe. De acordo com o professor do mestrado em Sociedade e Fronteiras, da UFRR, João Carlos Jarochinski Silva, a própria floresta amazônica é um fator que separa a região do Brasil.
“O primeiro elemento que leva esse desconhecimento é o fato de onde [os territórios] estão localizados geograficamente. Eles estão no norte da floresta amazônica, numa região de mata bastante densa e com pouca presença populacional”, explica.
A internet facilita o acesso à informação com o aprimoramento dos sites de buscas. À distância de um clique, os internautas podem se informar sobre o mundo, e isso inclui Guiana e Suriname, além do território ultramarino da Guiana Francesa.
Um levantamento exclusivo enviado pelo Google ao R7 mostra que as principais buscas dos brasileiros relacionadas aos três vizinhos do norte são: localização, capital e moedas. Há também pesquisas para saber se as Guianas e o Suriname são seguros.
Os estados que mais procuram informações sobre os territórios no Google são, consequentemente, os que fazem fronteira com a região. A população do Amapá pesquisa seis vezes mais sobre o Suriname e 30 vezes mais sobre a Guiana Francesa que o restante do Brasil. Já Roraima, vizinho da Guiana, busca até 51 vezes mais o país que a média brasileira.
Apesar de os habitantes desses dois estados do Norte serem os que mais fazem pesquisas sobre os vizinhos, o distanciamento entre a maior parte dos moradores da região é o mesmo do restante do Brasil, segundo Lyra Júnior.
“A percepção que os brasileiros da região Sul têm desse distanciamento também é nossa, na região Norte. Temos ali algo muito tímido, alguma coisa mais propositiva por parte do Suriname, em termos de cooperação educacional."
A pouca relação que a população brasileira tem com esses países se dá com os sacoleiros que atravessam a fronteira em busca de menores preços e os garimpeiros que se deslocaram da Amazônia brasileira para os três territórios mais ao norte nos últimos anos.
“Quando você tem uma diminuição da atividade do garimpo, um combate à ação garimpeira na região Norte do Brasil, parte dessa população que se dedicava a esse tipo de atuação acaba se dirigindo tanto para a Guiana, como para a Guiana Francesa e o Suriname”, explica Silva.
Uma ferramenta que poderia aproximar os brasileiros desses três territórios no norte do continente é o turismo. Entretanto, as praias da região não carregam a bela imagem dos litorais caribenhos.
“Não há um turismo muito forte porque há uma dificuldade de circulação, do ponto de vista estrutural. O turismo da região do Caribe está vinculado à questão de praias e [no norte da América do Sul] você tem uma predominância de um litoral com formação de mangues”, destaca Silva.
O R7 fez uma pesquisa para encontrar os voos mais baratos que saem de São Paulo para Caiena (Guiana Francesa), Georgetown (Guiana) e Paramaribo (Suriname) entre os dias 28 de julho e 28 de agosto. As passagens, que não incluem a volta, variaram de R$ 1.359 a R$ 14.100, com escalas em até dois países.
Para Georgetown, o voo mais barato custa R$ 4.289 e exige uma peregrinação de 35 horas e duas escalas. O passageiro decola do aeroporto de Guarulhos, pousa em Bogotá, na Colômbia, espera 12 horas e voa para Miami, nos Estados Unidos.
Após mais nove horas entre escalas, finalmente a jornada tem a perna final com a chegada ao Aeroporto Internacional Cheddi Jagan, na Guiana.
A viagem de quem sai de São Paulo para Paramaribo é mais fácil e barata. Com R$ 1.359, o passageiro decola de Congonhas e aterrissa em Brasília, onde aguarda por cinco horas o voo que o levará até Belém, no Pará. Mais uma hora de espera, e o turista faz a perna final da viagem, para o aeroporto internacional Paramaribo-Zanderij.
Usando a ferramenta do Google de busca de voos, o R7 não conseguiu encontrar voos para Caiena. Silva adverte que seria mais fácil viajar a turismo para a França, do outro lado do oceano Atlântico, do que para a capital da Guiana Francesa.
“Na França você consegue ingressar com o visto de turista, mas na Guiana Francesa não. Você tem um controle maior, é necessária uma autorização do Estado francês para poder residir lá ou até mesmo fazer turismo nesse espaço.”
As limitações geográficas causadas pela floresta amazônica, atreladas a disputas territoriais entre países, dificultam os esforços brasileiros para a construção de uma malha rodoviária que interligue mais facilmente a região.
“Temos o problema com a própria construção de estradas. Você tem uma área guianense que é contestada ainda pelos venezuelanos e em que diversas tentativas brasileiras de investimento em estradas de rodagem foram por terra pela postura do Estado venezuelano”, ressalta Lyra Júnior.
Uma das poucas ligações terrestres entre a última cidade de Roraima (Bonfim) e a primeira cidade da Guiana (Lethem) é a ponte Prefeito Olavo Brasil Filho, mais conhecida como ponte do rio Tacutu. A curiosidade dessa obra é que ela obriga os motoristas brasileiros a mudar para a faixa da direita no lado da Guiana, já que o país adota a mão inglesa, uma herança do passado colonizador britânico.
“A própria falta de um diálogo mais propositivo do ponto de vista da diplomacia faz com que esses locais não sejam atrativos para brasileiros e de alguma forma também para eles [do outro lado da fronteira]”, diz Lyra Júnior.
“A gente acaba se preocupando mais com os países que são vistos como mais poderosos, mais relevantes no sistema internacional, e, mesmo no âmbito da América do Sul, países com os quais a gente tem uma relação mais intensa, seja econômica, seja por disputas políticas”, conclui Silva.
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