Mãe denuncia que suicídio da filha foi motivado por abuso sexual


“Eu não poderia continuar vivendo com essa dor dentro de mim.” Essa frase é a mais emblemática da carta deixada para a mãe pela jovem Ana Carolina Marega Araújo, que cometeu suicídio no dia 22 de outubro desse ano, saltando do edifício Geraldino Rodrigues da Cunha. A mãe da jovem, a dona de casa A.M.S.M. recebeu a Reportagem do JORNAL DE UBERABA (JU) em sua casa, no bairro Manoel Mendes, quando abriu seu coração sobre a dor de perder uma filha de forma tão trágica. 
Segundo A., sua filha fazia tratamento psicológico já há algum tempo para tentar se libertar do trauma de ter sido abusada por um tio, cunhado de A., até os 11 anos de idade. Sua filha já havia tentado se matar em outras oportunidades e as tentativas começaram exatamente aos 11 anos. A jovem passou longo tempo internada, sendo que, no último ano, ela precisava de vigilância 24 horas por dia para não tentar novamente contra a própria vida.
A. conta que ficou extremamente revoltada quando soube dos abusos cometidos pelo cunhado E.F.Q. e procurou sua irmã para pedir que ela tomasse providências, tendo ouvido como resposta a afirmação de que nada poderia ser feito já que se tratava de um velho. “Quando descobri o caso, estava muito revoltada e meu filho F.M. perguntou quem era o responsável pelo abuso. Para evitar danos maiores, a minha família não quis dizer. Aí, aconteceu o pior. Ele simplesmente me disse: ‘mãe, eu sei que é o tio E., pois também passei por isso nas mãos dele. Não lembro quando começou, eu era bem pequeno, mas ele só parou quando eu tinha dez ou onze anos’”, revelou.
A. conta que perguntou à filha o porquê de não ter contado quando tudo começou e ela disse que não o fez porque o tio disse a ela que se contasse para alguém a sua mãe morreria.
No último dia 4 de novembro, após a perda da filha e tomada pelo desespero, A. resolveu finalmente procurar a delegacia de crimes contra a mulher e registrar queixa contando toda a história. A Reportagem do JU tentou falar com a delegada Ludmila Perfeito, responsável pelo caso, porém, ela não pode nos atender, o que deve acontecer na próxima semana. Procuramos também o filho de A., F.M., que disse assinar embaixo de tudo o que sua mãe contou.
Ainda segundo A., sua filha Ana Carolina tentou levar uma vida normal, estudou e pensava até em prestar vestibular, mas, ultimamente, tudo o que ela mais buscava era a cura para o mal que tanto a atormentava. Ana Carolina não conseguia levar uma vida normal. Aos 21 anos, não conseguia namorar, pois dizia que todo homem que a tocava se transfigurava no tio abusador. O trauma tirou muito da vida normal que a jovem poderia ter.
Sua filha, por conta do trauma, desenvolveu o transtorno de Borderline: um transtorno de personalidade que traz sérias consequências para a pessoa, seus familiares e seus amigos próximos. O termo “fronteiriço” se refere ao limite entre um estado normal e um quase psicótico, assim como às instabilidades de humor.
A causa provável é uma combinação de vivências traumáticas (reais ou imaginadas) na infância, por exemplo abuso psicológico, sexual, negligência, terror psicológico ou físico, separação dos pais, orfandade, vulnerabilidade individual ou estresse ambiental, que desencadeiam o aparecimento do comportamento Borderline.
Para A., o desfecho fatal do caso de sua filha pode ter tido como estopim a morte do pai da jovem, proprietário de conhecida casa de carnes, que faleceu em um acidente de carro há pouco tempo. Segundo ela, Ana Carolina havia dito à psicóloga ela tinha esperanças de que o pai, ao saber do caso, fizesse justiça por ela.
Questionada sobre o motivo que a leva, agora, a divulgar esses fatos, A. disse que tem esperança de que, com a divulgação, outras vítimas de seu cunhado apareçam e o denunciem. Segundo ela, ele é uma pessoa conceituada na cidade e faz parte de certo grupo religioso, do qual está, inclusive, afastado em virtude das últimas denúncias já terem chegado ao conhecimento das pessoas. “Cheguei a pensar em matá-lo, mas tive medo de que ele continuasse infernizando a vida de minha filha do outro lado, como fez aqui. Temo por todos que convivem com ele. Hoje, nós, eu e meu filho, nos distanciamos, mas tem muita gente que não tem noção do perigo que seus filhos podem estar correndo convivendo com um ser como esse”, finalizou.
 
Mozart Jr.