Alexandra Campos
Os responsáveis do banco privado reagiam desta forma ao esclarecimento divulgado quinta-feira pelo IPST, que questiona a utilidade clínica deste procedimento para uso autólogo (do próprio), tendo em conta a probabilidade de uma criança ser afectada por um problema que justifique um autotransplante de sangue do cordão umbilical. O potencial benefício para a própria ou para um irmão é “quase residual” no momento actual, referia o esclarecimento, que alertava para a publicidade enganosa feita por alguns bancos privados.
Depois de ter pedido uma opinião a peritos externos, o IPST concluiu que as indicações para autotransplante em pediatria são muito limitadas – a probabilidade “rondará os quatro transplantes por cada milhão de unidades conservadas”. O esclarecimento do IPST surgiu uma semana depois de ter sido divulgado um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida elaborado em conjunto com o Comité de Bioética de Espanha e que é muito crítico da actuação dos bancos privados de sangue do cordão umbilical. Estes bancos fazem “promessas de aplicações irrazoáveis” e usam “estratégias de marketing agressivas e pouco transparentes”.
Outra empresa a operar no sector, a Bebé Vida, reagiu também nesta sexta-feira ao esclarecimento do IPST, lembrando, em comunicado, que “sempre transmitiu aos pais informação objectiva sobre as limitações” da utilização do sangue de cordão umbilical relativamente ao uso, pelo próprio, no âmbito das doenças hemato-oncológicas. Mas, no que se refere à medicina regenerativa, a Bebé Vida diz ser “muito mais realista [do que o IPST] sobre a possibilidade de uma utilização futura”, particularmente em doenças como a diabetes tipo I ou para a regeneração de tecidos, porque “existem inúmeros ensaios clínicos a decorrer, com resultados preliminares promissores”. Sublinhando que o esclarecimento “não desaconselha a criopreservação em bancos privados”, a Bebé Vida considera “injusto” que englobe, “de uma forma generalista, todos os laboratórios”. E apela a “um papel mais interventivo da entidade que tutela esta actividade”.
Já a Crioestaminal defende que o esclarecimento do IPST contém “imprecisões e lacunas”, além de ignorar “os dados científicos mais recentes”. “Prova da real utilidade das células estaminais do sangue do cordão umbilical é o facto de o maior banco de sangue do cordão norte-americano, Cord Blood Registry, ter libertado, desde 1993 e até ao final de Outubro de 2012, 201 amostras de sangue do cordão umbilical, 134 para uso autólogo, 66 para utilização entre irmãos e um para utilização na mãe da criança a quem pertencia”, avança a empresa, sublinhando que esta informação se baseia “em dados actuais, até 2012, e não apenas referentes a um ano, o 2008, como referido pelo IPST”.
A Crioestaminal diz ainda que o documento do IPST critica a criopreservação em bancos privados “com base em dados apresentados quanto ao uso autólogo de células estaminais em contexto pediátrico, quando é conhecido que os bancos privados têm carácter familiar” e que as células podem ser utilizadas na idade adulta. Salienta, a propósito, que “a probabilidade de se encontrar um dador compatível entre irmãos é de 1:4, quando a probabilidade de encontrar um dador compatível não relacionado é muito baixa”, e acrescenta que, segundo dados de 2011, “mais de 500 crianças com doenças hematológicas foram transplantadas com sangue de cordão umbilical de um dador familiar na Europa com resultados favoráveis”.
Mais de 120 mil portugueses recorreram já aos bancos de criopreservação de células do cordão umbilical existentes em Portugal, com a maior parte das amostras a ser deixada em bancos privados. No único banco público (o Lusocord) a funcionar no país, as colheitas e o armazenamento são gratuitos.
Fonte: http://m.publico.pt/Detail/1578912