Wallace vai bater “de porta em porta”

Para prefeito eleito de Várzea Grande, o município – inadimplente – terá recursos se todos os governos e parlamentares forem acionados


Nome: Wallace Santos Guimarães
Idade: 50 anos
Estado civil: casado
Filhos: 2
Profissão: médico 
RENATA NEVES
Da Reportagem

Eleito com 47.338 votos, o deputado estadual Wallace Guimarães (PMDB) assume a prefeitura de Várzea Grande no dia 1º de janeiro de 2013 com as promessas de dar prioridade à valorização do funcionalismo público e tirar o município da inadimplência.

Para isso, o peemedebista afirma que colocará em dia os salários dos servidores e vai valorizá-los com o aumento e oferecimento de cursos de qualificação. Para tirar o município do “vermelho”, pretende cortar despesas e aumentar a receita, buscando recursos junto aos governos federal e estadual.

O fato de estar “alinhado” com ambos – o governador Silval Barbosa também pertence ao PMDB, que, por sua vez, faz parte da base aliada da presidente Dilma Rousseff (PT) - é, para ele, fator facilitador para a conquista de benefícios da cidade. 



Atualmente, o futuro prefeito tem acompanhado a transição que sua equipe realiza em conjunto com a do atual prefeito, Maninho de Barros (PSD), para se interir sobre a realidade do município, ao mesmo tempo em que planeja a composição de seu secretariado. Os nomes, no entanto, serão anunciados somente em dezembro. A única garantia dada pelo gestor é de que contemplará todos os partidos que o apoiaram e que serão escolhidas pessoas com perfil técnico-político.



Diário de Cuiabá - Como está sendo feita a transição entre a gestão do atual prefeito e a do senhor?

Wallace Guimarães – Está sendo bastante tranquila. O atual prefeito tem demonstrado total desprendimento. Estamos consultando através das normativas do Tribunal de Contas do Estado e as duas equipes de transição, tanto a minha quanto a do atual prefeito, estão comungando bem. Agora, lógico que os números são, de certa forma, preocupantes. Mas já sabíamos disso antes. Já fui vereador pelo município e conheço bastante as particularidades da cidade e também da prefeitura. Várzea Grande é uma cidade que vai exigir muita dedicação, muita competência para que a gente consiga promover as transformações estruturais e sociais de que a cidade tanto precisa.



Diário – O senhor já tem conhecimento dos números exatos?

Wallace – Não vou te dizer com exatidão, mas aproximadamente, sim! Os gastos com folha de pagamento chegam hoje a aproximadamente R$ 13 milhões por mês. A dívida é de mais de R$ 300 milhões.



Diário – De uma forma geral, o que já foi possível detectar sobre a realidade do município?

Wallace – A realidade é que o município tem uma receita relativamente pequena, uma arrecadação em torno de R$ 20 milhões, com uma folha altíssima e com demanda estrutural social bastante grande. Um município em que não há 80% de regularização fundiária e cuja situação da saúde é extremamente precária. A cobertura de atendimento dos PSFs, que era de 22%, caiu para cerca de 16%. É um município cujos recursos do Fundo de Participação dos Municípios estão retidos pela Receita Federal por conta de uma dívida com o INSS de aproximadamente R$ 50 milhões, que tem uma dívida com a Rede Cemat de aproximadamente R$ 120 milhões e, automaticamente, um município que precisa de um gerenciamento bastante eficiente para que possamos realmente promover transformações.



Diário – Entre todos os setores, o senhor diria que o principal problema do município hoje é a saúde?

Wallace – Quando se diz que praticamente 75% da população não tem água de qualidade em casa, não se pode pensar só na saúde. Agora, a saúde é realmente problemática. Os postos de saúde hoje estão precisando de médicos, de enfermeiros, de especialistas. As policlínicas ainda não estão funcionando 24h e no pronto-socorro muitos profissionais estão sem receber. As empresas da UTI Neonatal Infantil, da Neuropediatria, a equipe de cirurgia geral também estão sem receber. Isso acaba gerando descontentamento, instabilidade e, mediante isso, automaticamente começam a ocorrer outras situações preocupantes, como a falta de capacidade de investimento e de pagamento. A partir do dia 1º de janeiro temos que trabalhar de maneira bastante enxuta, fazer uma prefeitura com bastante coerência para melhorar a receita e diminuir as despesas para que possamos sanar essa inadimplência do município e buscar os recursos necessários para a cidade.



Diário – Quais serão suas primeiras ações à frente da prefeitura?

Wallace – A primeira coisa que temos que fazer é realmente assumir a prefeitura e buscar saná-los na medida do possível.



Diário – O que será prioridade?

Wallace – Evitar as cisões. Vamos dar continuidade àquilo que é bom. Depois, vamos criar uma equipe de pessoas para buscar efetivamente os programas dos governos federal e estadual, seja na educação, na saúde, na promoção social, na infraestrutura ou na questão do PAC 2. Trabalhar em cima de projetos para buscar recursos federal e estadual, mas, para isso, a primeira coisa que temos que fazer é tirar o município da inadimplência.



Diário – Como fazer isso?

Wallace – Criando receita, contendo despesas e aplicando corretamente os recursos públicos.



Diário – Quais projetos que já existem e aos quais o senhor pretende dar continuidade?

Wallace – Os projetos do PAC 1 que já estão sendo licitados agora, das casas populares, dos conjuntos habitacionais que estão em fase de elaboração e construção, os projetos do PAC 2, que muitos já estão cadastrados no Ministério das Cidades, o projeto de licitação do saneamento básico e uma coisa muito importante que vamos fazer e acreditamos que irá ajudar a tirar o município da situação que vive hoje: a valorização dos profissionais. Vamos buscar isso através da capacitação continuada, porque na verdade quem toca a administração pública são os funcionários. Precisamos motivá-los a abraçar a cidade. Pensar em uma campanha de conscientização da população de Várzea Grande para investir na cidade. Pensar na construção de um novo polo industrial através de incentivos em um projeto conjunto com o governo estadual para gerarmos emprego e também divisas para o município.



Diário – Em relação aos diversos servidores que estão sem receber salários e/ou verbas indenizatórias há cerca de seis meses, o senhor tem o compromisso de quitar essa dívida caso os pagamentos não sejam efetuados durante a atual gestão, que se encerra em dezembro?

Wallace – Com certeza! Aquilo que for da minha responsabilidade eu vou fazer. Se eu estou assumindo a prefeitura, não posso assumir só as benesses. Farei tudo o que estiver ao alcance da prefeitura e dentro das possibilidades, principalmente a questão do funcionalismo. Eu disse e repito: vou valorizá-los e capacitá-los, afinal é o funcionalismo que toca a máquina administrativa. Precisamos dos servidores. Eles precisam ver no prefeito um líder e admirá-lo. Jamais temê-lo. É isso que nós queremos. Queremos ser um líder admirado pela população e pelo funcionalismo. Não se esquecendo de que eu sou funcionário público de Várzea Grande, concursado por duas vezes. Tenho 20 anos de concurso no município, então não tenha dúvidas de que não vou medir esforços para quitar o que estiver atrasado, para valorizá-los e capacitá-los. No entanto, também serão estabelecidas metas. Afinal, cada um tem que cumprir sua missão.



Diário – Quando o senhor fala em valorização está se referindo também ao aumento de salários?

Wallace – Sim! Valorização em todos os aspectos. Um PCCS decente, condições salubres de trabalho, ambientes adequados e valorização profissional. Valorização, PCCV e, logicamente, salários em conformidade com os dissídios.



Diário – O senhor já definiu quem irá assumir as secretarias durante sua gestão? Quais partidos ocuparão quais secretarias?

Wallace – Com certeza, vamos contemplar todos os partidos que nos apoiaram, desde que tenham pessoas capacitadas. Porém, ainda não há nada definido sobre essa composição. Vou sentar para discutir isso a partir do dia 1º de dezembro. Primeiro, nós estamos cuidando com total dedicação da transição.



Diário – O perfil do secretariado será técnico ou político?

Wallace – Técnico-político!



Diário – O senhor mantém a decisão de não integrar o ex-secretário extraordinário da Copa do Mundo, Eder Moraes, à sua equipe?

Wallace – Eu tenho uma admiração pelo Eder. Considero-o bom, competente e preparado, mas não fez parte do nosso projeto político para Várzea Grande, por isso não vai fazer parte da minha equipe. Ele é uma indicação exclusiva do prefeito Maninho de Barros. Acredito que vai ajudar muito o Maninho nesse período de dois meses, mas sua permanência não está nos nossos planos, até porque acredito que ele deva assumir algo em nível de Estado.



Diário – Como o alinhamento com os governos estadual e federal irá contribuir para sua gestão?

Wallace – Primeiro, que o alinhamento é importante pela facilidade da tramitação. Eu encontro as portas abertas para conversar e negociar oportunidades para a cidade. Esta semana mesmo eu estive conversando sobre os problemas de Várzea Grande com o deputado federal Wellington Fagundes, do PR, com representante da Secretaria de Cidades e com o governador Silval Barbosa. Tenho facilidade de trânsito no governo do Estado, na Assembleia Legislativa. Afinal, sou deputado de segundo mandato. Tenho convivência com o Legislativo federal, afinal tive o apoio do senador Blairo Maggi, dos deputados federais Wellington Fagundes, Carlos Bezerra e Valtenir Pereira. Embora este não tenha feito parte da nossa equipe, já estive conversando com ele e vamos buscar todas as oportunidades. Mas a campanha acabou no dia 7. A partir de agora o Dr. Wallace está alinhado com todos os partidos. Primeiro, porque eu nunca fiz oposição incoerente ou radical a ninguém. Faço sempre oposição a favor do povo. Acabou esse período, você tem que buscar todas as alternativas de investimento para a cidade e dentro dessas alternativas vai estar o Dr. Wallace batendo de porta em porta.



Diário – O senhor foi eleito com menos de 40% dos votos. Como fará para conquistar mais da metade da população que não votou no senhor?

Wallace – Na realidade, eu tive uma votação expressiva porque havia três candidatos em potencial. Se tivesse apenas um candidato disputando comigo, com certeza eu seria eleito com mais de 55%, 60% dos votos, mas diante desse cenário era natural que se dividissem os votos entre os três. Enfrentei dois candidatos, com todo o respeito, com menos potencialidade eletiva, mas disputei contra o prefeito atual, que estava com a máquina da prefeitura na mão, e contra uma das maiores forças políticas de Mato Grosso, e não só de Várzea Grande, que é a família Campos, que conta o senador Jayme Campos e o deputado federal Júlio Campos. E consegui ganhar com 35% dos votos. Modéstia à parte é voto para não acabar mais, já que disputei com duas potencialidades dessas, né? Além disso, eu e o Tião acabamos dividindo um pouco os votos em oposição à dona Lucimar Campos e mesmo assim ainda tive 35%.



Diário – O que o senhor tem a dizer sobre essas denúncias de que teria havido fraude na eleição do município?

Wallace – Isso é uma incoerência e até uma falta de sensibilidade, porque eleição não é um meio de vida. Você disputa por um determinado tempo e tem que saber perder. Eu já perdi e já ganhei eleição. Perdi uma eleição para prefeito por 500 votos e agora eu ganhei por três mil votos de frente. Quando eu perdi, fui lá e parabenizei meus adversários. Desejei boa sorte, que fizessem um bom trabalho, e sempre procurei ajudar na medida do possível. Nunca teci uma crítica infundada. As minhas críticas eram construtivas. Agora, felizmente todos sabem que não houve fraude eleitoral. O que houve foi talvez fraude documental e mesmo assim foram documentos jogados em um determinado ponto para que alguém achasse e fizesse uma avaliação. Mas a Justiça Eleitoral sabe muito bem disso. Fez um trabalho decente, respeitoso, com a Polícia Federal acompanhando. A minha equipe de fiscais foi muito bem treinada, até mesmo porque eu sempre falei que minha campanha era com pé no chão e o coração na frente. Fizemos do pouco o muito. Dos poucos recursos que tínhamos, procuramos trabalhar com eficiência. Nossa militância era bastante aguerrida. Nenhum partido me cobrou um centavo para vir me apoiar. As ajudas que demos aos vereadores foram mínimas, mas todos colocaram o coração na frente. Ganhamos a eleição por um terço dos votos porque a população entendeu que era o momento do Dr. Wallace. Falar em fraude eleitoral é até um atentado contra a democracia. Uma eleição tão bonita, tão perfeita, falar em fraude eleitoral...



Diário – O senhor ainda tem o projeto de construir um novo pronto-socorro municipal?

Wallace – Com certeza! Agora, recursos para isso são muito difíceis. Temos que tentar buscar em nível federal e contar com a parceria do Estado e do município. Mas nós queremos, na saúde, tentar melhorar aquilo que já tem e está funcionando mal. As policlínicas, por exemplo, colocá-las para funcionar a contento, de preferência com médicos atendendo 24h. Ampliar o PSF. Nós temos estrutura física construída suficiente para atender 28% da população e estamos atendendo hoje 16%. Temos que fazer o máximo de esforço para contratar equipes e colocar para trabalhar. Temos uma UPA em fase de licitação e vamos tentar licitar o mais rápido possível para que até o final do ano que vem a tenhamos funcionando com três pediatras e três clínicos, melhorando a qualidade de vida da população.



Diário – Como o senhor imagina que será sua relação com a Câmara Municipal, que tem o histórico de “mudar de humor” de forma repentina?

Wallace – Eu tenho certa experiência porque também fui vereador, presidente da Câmara e sou legislador ainda. Tenho experiência de uma convivência saudável, harmoniosa com a Câmara Municipal. Eu, como legislador, entendo que a Câmara deve ser completamente independente para fazer seu trabalho corretamente, porém em harmonia com o Executivo. Como eu pretendo fazer uma administração com bastante transparência e desenvolvendo projetos que vêm ao encontro com a necessidade da coletividade, acredito que teremos uma convivência muito boa.



Diário – Como será a participação da prefeitura de Várzea Grande nas obras da Copa do Mundo de 2014?

Wallace – Efetiva! Precisamos realmente estar juntos para que aconteça da melhor forma possível. Dizer que estamos contentes com o que está aí, claro que estamos, mas Várzea Grande precisa de muito mais. Várzea Grande precisa, por exemplo, de uma revitalização da rota do turismo. Nós queremos e vamos conversar com o governador e com a Secopa para colocar nas obras da Copa. As obras de desbloqueio ainda não foram iniciadas no município. Nós já estivemos com o governador conversando isso. Nesta semana estaremos na Secopa conversando com o presidente, Maurício Guimarães, discutindo a questão das obras de desbloqueio, porque quando fez o transporte da mobilidade, que são veículos de peso como ônibus e até caminhões para as pequenas ruas de Várzea Grande, aquelas ruas não foram preparadas para receber esse alto fluxo. Com o início da chuva agora isso vai virar uma calamidade. Precisamos do braço forte da Secopa e do Estado agora para que possa, de imediato, fazer a revitalização dessas ruas, senão vai ser um transtorno. A prefeitura vai acompanhar isso de perto. Teremos uma equipe de gerenciamento de todas as obras municipais e também das obras da Copa.
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