Prefeito de Cuiabá por dois anos de meio, Chico Galindo (PTB) faz um balanço da sua gestão e destaca o que o futuro gestor pode fazer para a Capital
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Da Reportagem
A dois meses de deixar o cargo, o prefeito de Cuiabá, Chico Galindo (PTB), admite que seu principal erro à frente do Palácio Alencastro foi não ter se comunicado mais com a população. Para ele, esta foi a grande falha de sua administração e também o principal motivo de seu alto índice de rejeição.
O petebista afirma que muitas pessoas não viram os projetos que estavam sendo executados pela prefeitura e, por isso, acham que ele não fez nada. “Me arrependo de não ter me comunicado mais. Só quem está vendo essas reformas nas creches e nas escolas são as pessoas dos bairros, os outros não sabem e acham que eu não fiz nada. Por isso, tínhamos que ter comunicado mais”.
O chefe do Executivo, que votou e torcia pela vitória do empresário Mauro Mendes (PSB) no pleito deste ano, afirma que a “sociedade aprovou a realidade” elegendo o socialista como o novo prefeito da Capital.
Para ele, o vereador Lúdio Cabral “pecou” ao declarar que iria romper o contrato de concessão dos serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto com a CAB Cuiabá. “A sociedade não aceitou um candidato dizendo que iria rasgar um contrato, que iria trazer de volta algumas coisas. Esse tipo de comportamento a sociedade não aceita mais. Tem que respeitar”.
Galindo também fez uma avaliação do PTB após a eleição, um balanço do período em que comandou a prefeitura e confidenciou seu futuro político.
Diário de Cuiabá - Gostaria que o senhor fizesse um balanço das eleições em Cuiabá, tanto do primeiro quanto do segundo turnos.
Prefeito Chico Galindo - Eu acho que foi uma eleição tranquila, se você analisar no aspecto do povo, que nos dois momentos votou sem nenhum problema. Além disso, este ano todos os candidatos estão de parabéns, pois não jogaram os famosos santinhos nas ruas. Eu me lembro de que na eleição minha e do Wilson [Santos] eu até chutei os santinhos, chegou a sair nas primeiras páginas do jornal. Era muito santinho e material impresso de campanha. Então, a democracia está instalada no Brasil. A agilidade do Tribunal Regional Eleitoral também foi fantástica. Neste sentido, a eleição transcorreu muito bem. Agora, na primeira etapa nós tínhamos seis candidatos. Mas já no primeiro turno polemizou e ficaram Mauro e Lúdio - e isso prejudicou os demais candidatos. Ficou Mauro e Lúdio, Lúdio e Mauro desde o primeiro turno.
E aí teve uma diferença mínima de votos e os dois foram para o segundo, que, no meu ponto de vista, também transcorreu normal. As polêmicas políticas, as discussões de ambos os lados, enfim, mas, se você for analisar, foi tranquilo. E a sociedade aprovou a realidade. Agora que acabou o processo eleitoral, eu posso falar. A sociedade não aceitou um candidato dizendo que iria rasgar um contrato, que iria trazer de volta algumas coisas. Esse tipo de comportamento a sociedade não aceita mais. Tem que respeitar. Agora, não é por isso que eu vou dizer que ele saiu menor do que entrou. Muito pelo contrário, o Lúdio está de parabéns e pode se considerar vitorioso. De 4% ter 45% no final, é espetacular. Então, ele tem que agradecer a Deus. É claro que ele queria vencer, mas ele, de qualquer forma, é um vencedor.
Esta eleição o fortaleceu em nível estadual. Ele era um vereador e, hoje, o cacife dele é maior, politicamente dizendo. Mas eu acho que ele não levou por falha. A sociedade não aceita mais este tipo de coisa. Tudo bem ele querer mudar, mas não desrespeitar o poder. O poder é contínuo, agora, Chico, Pedro, Manuel, Joaquim. É contínuo!
Diário - O senhor acredita que o PTB saiu fortalecido na Capital e no Estado?
Galindo - Eu queria fazer uma pesquisa em nível nacional para ver se outro partido saiu vitorioso como o PTB aqui. Sem ter candidato a prefeito, fizemos a maior bancada de vereadores da Câmara. E isso me conforma, porque eu sou o presidente do PTB e a população acreditou e votou nos vereadores do PTB. Isso quer dizer que a rejeição que colocaram aí para mim não está tão grande assim. A maior prova é isso, a maior bancada de vereador da Câmara, sem ter candidato a prefeito. Já em nível estadual nós melhoramos também. Nós não tínhamos nenhum prefeito no interior e fizemos dois. Temos agora 11 vice-prefeitos e mantivemos os 50 vereadores. Então, nos fortaleceu bastante, tivemos inúmeros candidatos e, se somassem o numero de votos do PTB, seria bem maior do que na eleição passada.
Diário - Após o término de seu mandato de prefeito, qual são os seus planos políticos. Pretende disputar a eleição de 2014?
Galindo – Eu, primeiro, vou encerrar este meu mandato e, depois disso, agora em janeiro, vou cuidar da minha família. Ela cuidou de mim esses dois anos e meio. Agora eu vou cuidar dela, das minhas netas e ficar no aconchego familiar. Aí que eu vou refletir se vale a pena continuar na vida pública. Eu, particularmente, adoro, então a tendência é de que eu deva continuar, mas eu quero refletir, eu sou uma pessoa de pensar, de planejar. E eu também dou tempo ao tempo, não planejo uma coisa antes de concluir outra. Então, tenho focado na prefeitura até dia 31 de dezembro. Em janeiro, fevereiro, eu vou planejar e, aí, sim, vou divulgar minha decisão. Até março, eu decido. A tendência é de que seja para deputado estadual porque não quero sair do meu Estado, quero ficar aqui.
Diário - Qual o motivo que te levou a não disputar a reeleição no pleito deste ano?
Galindo - O foco é a vontade de, pelo menos, mostrar para a sociedade que Cuiabá tem jeito. Se eu tivesse sido candidato, o Poeira Zero não tinha nem saído do papel, porque quando a campanha começou ele ainda estava começando. As pontes de concreto, eu não tinha feito nenhuma, e o recapeamento não teria andado. As reformas não iriam ser concluídas até dezembro, ou seja, um terço das unidades de educação e um terço das unidades de saúde não estariam concluídos. Nenhuma UPA [Unidade de Pronto-atendimento] seria concluída. Vou conseguir terminar uma, a outra não vai ser possível. A policlínica do CPA não seria possível. Se eu fosse candidato, essas obras não iriam andar. Então, eu foquei, por isso que eu não poderia ser candidato à reeleição. Mas, com certeza, daria trabalho se fosse.
Diário - Um balanço desses dois anos e meio de mandato. Na sua visão, qual foi sua principal realização como prefeito de Cuiabá e o que deixou de fazer à frente do Palácio Alencastro?
Galindo - Extremamente positivo, pelo desafio e pela coragem que eu tive. O desafio de mexer no bolso do cidadão, aumentando a planta genérica, que, consequentemente, aumenta o IPTU, porque, sem isso aí, nós não estaríamos nem cumprindo com a folha de pagamento hoje. Então, tinha que ter aquela coragem, porque fazia mais de 13 anos que ninguém tinha feito. A melhor ação da minha vida para Cuiabá - e o tempo vai provar isso - foi o saneamento, a concessão da água e do esgoto. Essa minha atitude foi extremamente importante. E também mostrar que, com austeridade e sem medo de tomar determinadas atitudes, você pode retornar para a sociedade 200 quilômetros de recapeamento, as reformas que eu já citei.
Enfim, o balanço que eu faço é extremamente positivo. Em dois anos e meio um prefeito realizar isso, e não deixar um centavo em dívida e não financiar nenhum centavo. Agora, a única coisa que faltou foi tempo para concluir os projetos, porque você primeiro tinha que fazer a gestão da prefeitura, organizar a casa, e foi o que eu fiz. Agora, infraestrutura foi o grande legado que eu deixei. Sem infraestrutura, você não avança na Saúde e nem em outras áreas. Ela é a base para depois você qualificar profissionais e dar condições de trabalho melhores.
Diário - Existe alguma coisa de que o senhor tenha se arrependido neste período?
Galindo - Me arrependo de não ter me comunicado mais. Eu tive essa semana no Altos da Glória e Umuarama e vi que pouco fiz naquela região. Mas tinha vários presidentes de bairro lá. Eu comecei a mostrar e pontuar as obras que a prefeitura realizou nessa localidade que muitos não sabiam e, a partir daí, começaram a entender o tanto de obras que fizemos pela cidade. Então, a comunicação seria muito importante. Só quem está vendo essas reformas nas creches e nas escolas são as pessoas dos bairros onde estamos fazendo. Os outros não sabem e acham que eu não fiz nada, por isso tínhamos que ter comunicado mais.
Diário - O senhor acredita que isso pode ser um dos motivos do seu índice de rejeição?
Galindo - Sem dúvida! Mas eu acredito que já diminuiu bastante. Pelo menos as últimas pesquisas mostraram uma queda importante e, com as eleições, eu acho que valorizou o Chico Galindo, porque no final todos estavam dizendo que iriam dar continuidade em muitos dos nossos projetos.
Diário - Em que estado o senhor vai entregar a prefeitura para Mauro Mendes (PSB) em 1° de janeiro?
Galindo - Em condições muito boas. Em 2012, tudo o que nós fizemos nós ou já pagamos ou vamos pagar. O orçamento de 2013 vem com R$ 65 milhões a mais para o SUS, porque nós aumentamos o teto, mais o incremento que eu fiz na receita própria. Tem como o futuro prefeito dar continuidade aos trabalhos, no sistema dele, na maneira dele. Ele não vai ter aquele resto a pagar que sempre vem ano-a-ano nos últimos 20 anos. Ele vai estar com uma prefeitura em ordem, mas com muito a fazer. O dinheiro da receita da prefeitura não é o suficiente para a demanda. Ele tem que avançar ainda mais na receita, tem que continuar segurando todos os centavos para não ir para o ralo, e ele tem essa experiência, ele é empresário.
Diário – E no que diz respeito à dívida, o senhor disse que não irá deixar nenhum débito referente ao seu mandato, mas com relação aos anteriores?
Galindo - Em 2000, o prefeito Roberto França renegociou a dívida que tinha. Na época, o governo federal mandou somar todas as dívidas, somou tudo que tinha, que é a chamada dívida pública, na qual gastamos R$ 50 milhões, R$ 60 milhões por ano para rolar, onde temos um mínimo de capital e 90% de juros. Ou seja, não acaba nunca. Até o ano passado era proibido discutir uma nova renegociação com o governo federal. Agora já abriu para os Estados, tanto que Mato Grosso foi o pioneiro a quitar a dívida. E deve também abrir para os municípios. Com isso, o próximo prefeito vai ter condições de renegociar, para pagar menos juros, parcelar em 20 anos e, neste período, liquida ela. Ela está em R$ 600 milhões. Este é um ponto positivo. O segundo tem um passivo ainda a ser pago, que vem de todas as gestões anteriores, que é natural, sempre fica um pouco. No entanto, é um número que você pega na mão, pelo pequeno que é. Antigamente, você não tinha essa noção, você não sabia a quantia. Agora, eu posso afirmar que em 2012 não terá isso. Se Mauro continuar isso aí, daqui quatro anos a prefeitura já pode ter renegociado todo este passado. Agora, o dinheiro em caixa vai depender das obras. Tomara que não fique um centavo, porque se não ficar dinheiro é porque nós fizemos bastante. Ao invés de eu fazer dez quilômetros de Poeira Zero, eu poder fazer 15 eu vou pagar os 15. Agora, se eu não conseguir, vai ficar dinheiro para o outro fazer. Eu vou tentar realizar tudo, mas alguma coisa fica.
Diário - A Lei Orçamentária Anual (LOA) já foi elaborada e encaminhada para a Câmara Municipal. O senhor irá chamar Mauro Mendes para participar das discussões? Caso ele tenha alguma sugestão, ela será aceita?
Galindo - Eu já o convidei. A LOA do próximo ano não é do prefeito Chico Galindo. Quem vai ser prefeito a partir de 1° de janeiro é ele, então é ele quem tem que discutir. É claro que, com a experiência que nós temos, vamos ajudar. Ele mesmo falou que precisa do nosso apoio. Ele vai poder mudar tudo se quiser, virar ela de ponta-cabeça, já falei até na Câmara. É ele quem vai ser o prefeito. Ele vai ter carta-branca.
Diário - Qual será a maior dificuldade que ele vai enfrentar à frente do Palácio Alencastro?
Galindo - Acredito que seja quebrar a cultura que ainda tem que ser quebrada. Temos muitas coisas para serem quebradas. Como, por exemplo: tem cidadão que tem piscina em sua casa e paga tarifa social em água - isso tem que ser quebrado, e já começou. É uma coisa que parece simples, mas tem que ser quebrada. Esses dias conseguiram quebrar o asfalto nosso feito pelo Poeira Zero para fazer gato. Então, é uma cultura que nós ainda temos. Outro exemplo, o [projeto] Belo Jardim que nós fizemos, acabou, depredaram. Isso não é todo mundo claro, é a minoria, mas são barreiras que precisam ser quebradas. Eu tive coragem de fazer a concessão, de aumentar o IPTU, e o Mauro também tem que ter essa coragem.
Diário - Um dos projetos do futuro prefeito é oferecer desconto no IPTU para os empresários que contratarem jovens e mulheres. Na situação em que a prefeitura se encontra, isso é possível? E com relação à inadimplência, ainda há muitos contribuintes que não recolhem os impostos?
Galindo - Eu sou favorável em ampliar a receita, e tem muita coisa para ser feita em Cuiabá. Infraestrutura, dar melhor qualidade de vida para o povo cuiabano, entre outros. Qual é o montante deste incentivo que ele pretende dar? O que é isso? Eu não sei. Se for muito, eu afirmo que não é o momento. A ideia é fantástica, é importante gerar emprego para a mulher e para o jovem, mas ele vai ter que ver a receita que ele tem e a demanda que ele tem. Se a receita é pequena e eu tirar mais um pedaço, dificulta eu realizar toda a minha demanda. Agora, ele pode fazer isso no último ano de mandato. Isso é um plano, e o plano dele não é fazer de imediato, penso eu.
Acredito que, primeiramente, ele vai conhecer a máquina. A ideia é boa, mas eu ia primeiro avaliar receita e despesa para depois proporcionar estes incentivos. Com relação à inadimplência, vou dar um exemplo do IPTU. Nós recebemos 50% em 2012. Nós lançamos R$ 149 milhões e recebemos apenas R$ 70 milhões, falando em números redondos. O restante não pagou. Já imaginou mais R$ 70 milhões nos cofres? É muita diferença. Eu não tive tempo, fiz três licitações para uma empresa fazer o trabalho de cobrança, porque nós não sabemos fazer isso, mas não consegui fechar o processo licitatório. Por conta disso, eu criei o fundo. Com ele, Mauro vai poder pegar tudo isso, negociar e dar para um banco privado para que ele faça essa cobrança. Ele vai ter a sorte de ter em mãos as opções para resgatar este dinheiro. Aí, sim, com mais dinheiro ele pode implantar projetos tão bons quanto esse de incentivos.
Diário - Com relação à Câmara de Vereadores, o futuro prefeito disse que vai enviar projetos de interesse da sociedade e, se não aprovarem, os vereadores vão ter que se explicar com a população. Como tem que ser a relação entre o Executivo e o Legislativo?
Galindo - Tem que discutir. O prefeito não pode ser autoritário, eu vou mandar e eles que respondam. Não é assim que funciona. Todos os projetos que eu faço eu discuto com a Câmara, e eu tenho certeza de que ele vai fazer o mesmo. Um empresário sabe que tudo tem que conquistar, não impor, e eu tenho certeza de que ele não vai impor com a Câmara. Ele vai discutir, receber as críticas como eu recebi e corrigir muitos pontos, quando necessário. A maneira que ele se expressou pode ter parecido imposição, mas eu tenho certeza de que ele vai ter uma boa relação com a Câmara.
Diário - Um dos pontos mais críticos de sua gestão foi a concessão da Sanecap. Já faz seis meses que a CAB assumiu os serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto da Capital e muita gente tem reclamado de falta de água, inclusive em locais em que isso não costumava acontecer. Quais providências estão sendo tomadas quanto ao problema?
Galindo - Existe um processo licitatório e um contrato, onde dizem quais os direitos e deveres da CAB e da prefeitura. Lá está muito claro que os primeiros seis meses eram destinados à elaboração do plano de ação. Eles tinham que ter apresentado na quarta-feira (31). Depois deste plano em mãos, nós vamos avaliar se é isso mesmo que nós queremos. Nossa meta é, em três anos - agora restam apenas dois anos e meio -, universalizar a água e mais nove e meio no tratamento de esgoto. Somente com o plano de ação em mãos que nós vamos poder começar a cobrar. Agora, eu não posso sequer cobrar. Mesmo fora da prefeitura, no ano que vem, eu vou ser o maior cobrador. Não fui eu quem escolheu a CAB, ela venceu um processo licitatório, e o sucesso da CAB é o meu sucesso. Se a CAB for mal, eu errei em fazer a concessão e eu acho que essa foi a melhor ação que eu pratiquei na prefeitura. Eu vou cobrar. Se o próximo prefeito não cobrar, eu vou cobrar ele e a CAB. Agora, a falta de água, se você pegar o histórico dos períodos de seca, sempre tem maior falta de água. Temos mais de 100 poços semiartesianos e eles secam. São eles que salvam hoje. Mas essa falta neste período sempre teve, e este ano a seca foi maior que o ano passado. Então, consequentemente, os problemas aumentaram. Mas não é culpa da CAB, e sim o sistema que aí está.