Dilma diz que constrangimento a Evo Morales atinge a 'toda a América Latina'


E SÃO PAULO
DE BRASÍLIA
Após mais de 15 horas de silêncio sobre o incidente envolvendo o avião do presidente boliviano, Evo Morales, a presidente Dilma Rousseff afirmou, em nota, que o constrangimento imposto à Bolívia "atinge toda a América Latina".
O avião de Evo não teve a permissão de países europeus como França e Portugal para sobrevoar seu espaço aéreo e foi obrigado a aterrissar na Áustria. Segundo o governo boliviano, os países suspeitavam de que estava a bordo Edward Snowden, que revelou o esquema de monitoramento telefônico e on-line feito pelo governo americano.
Para a presidente, a ação dos europeus "compromete o diálogo entre os dois continentes e possíveis negociações entre eles". Ela expressou sua "indignação e repúdio" e exigiu "pronta explicação e correspondentes escusas por parte dos países envolvidos nesta provocação".
Segundo Dilma, o retenção do avião presidencial é "grave desrespeito ao Direito e às práticas internacionais" e "causa surpresa e espanto" a ação de "certos governo europeus" que anteriormente "denunciavam a espionagem de seus funcionários por parte dos Estados Unidos, chegando a afirmar que essas ações comprometiam um futuro acordo comercial entre este país e a União Europeia".
Mais cedo, em telefonema ao colega boliviano, David Choquehuanca, o chanceler brasileiro, Antonio Patriota, condenou a "atitude arrogante" dos países europeus.
O governo brasileiro se manifestou bem depois dos presidentes da Argentina, Venezuela, Equador e Uruguai --que, desde ontem, condenam o episódio de forma bastante dura.
Brasília e La Paz têm passado por um momento delicado em suas relações, abaladas pelos impasses sobre o salvo-conduto ao senador de oposição Roger Pinto, asilado na embaixada brasileira há um ano, e sobre a libertação de torcedores brasileiros presos em Oruro.
A Unasul convocou para amanhã um encontro de alto nível --para chefes de Estado e ministros-- em Cochabamba, na Bolívia, para discutir o tema.
O Brasil será representado pelo assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e o secretário-geral do Itamaraty, Eduardo dos Santos --no lugar de Patriota, que está na Europa.
Veja a íntegra da nota:
O governo brasileiro expressa sua indignação e repúdio ao constrangimento imposto ao presidente Evo Morales por alguns países europeus, que impediram o sobrevoo do avião presidencial boliviano por seu espaço aéreo, depois de haver autorizado seu trânsito.
O noticiado pretexto dessa atitude inaceitável - a suposta presença de Edward Snowden no avião do Presidente -, além de fantasiosa, é grave desrespeito ao Direito e às práticas internacionais e às normas civilizadas de convivência entre as nações. Acarretou, o que é mais grave, risco de vida para o dirigente boliviano e seus colaboradores.
Causa surpresa e espanto que a postura de certos governos europeus tenha sido adotada ao mesmo momento em que alguns desses mesmos governos denunciavam a espionagem de seus funcionários por parte dos Estados Unidos, chegando a afirmar que essas ações comprometiam um futuro acordo comercial entre este país e a União Europeia.
O constrangimento ao presidente Morales atinge não só à Bolívia, mas a toda América Latina. Compromete o diálogo entre os dois continentes e possíveis negociações entre eles. Exige pronta explicação e correspondentes escusas por parte dos países envolvidos nesta provocação.
O governo brasileiro expressa sua mais ampla solidariedade ao presidente Evo Morales e encaminhará iniciativas em todas instâncias multilaterais, especialmente em nosso continente, para que situações como essa nunca mais se repitam.
Dilma Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil