Vigilante Ruiter Cândido da Silva, delator cujo depoimento resultou na Operação Simulacrum, afirmou que os "chefões" da Polícia Militar tinham conhecimento dos supostos falsos confrontos que resultaram em mortes de suspeitos.
Em seu depoimento, que o portal teve acesso, Ruiter expõe nomes como o do coronel Jonildo Assis, ex-comandante-geral da Polícia Militar, coronel Paulo César, ex-comandante do Batalhão da Rotam, coronel Esnaldo, ex-comandante do CR1, e coronel Roque, ex-comandante do Bope. Na época dos supostos confrontos, Paulo César e Roque comandavam as unidades especiais.
Durante seu relato prestado na sede do Ministério Público de Mato Grosso, na tarde do dia 11 de agosto de 2021, o vigilante afirmou que os nomes supracitados possuíam "ciência das situações acima narradas pelo interrogando (Ruiter), ou seja, das execuções travestidas de 'mortes em confronto com agentes do Estado' por policiais militares de cada um dos batalhões".
Ao longo de seu depoimento, prestado na presença dos promotores de Justiça Samuel Frungilo e Vinicius Gahiva Martins, assim como dos delegados Marcel de Oliveira e Olímpio da Cunha, o delator explicitou que as ações dos policiais eram feitas almejando ganhos pessoais em suas carreiras e valorização dos batalhões em que estavam lotados.
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Com detalhes sobre o modus operandis de todas os 6 supostos confrontos, o vigilante levou ao conhecimento do Ministério Público nomes de militares - para além dos oficiais que estavam no comando - assim como apresentou informações sobre seus próprios ganhos.
Ruiter afirmou durante seu relato que todo o suposto esquema teve início com um roubo realizado na casa de seu sogro, que é irmão do coronel Esnaldo. Na época do fato, o coronel teria dado "carta branca" para o vigilante ajudar a prender os responsáveis pelo roubo, uma vez que Ruiter teria contato frequente com bandidos.
Tendo aceitado o "convite" do coronel, o vigilante teria passado a manter contato com o soldado Jhonatan, lotado à época na Inteligência do 24º Batalhão da Polícia Militar. Em posse do contato, Ruiter confirmou ter auxiliado diretamente os policiais na busca por suspeitos que teriam interesse em cometer crimes.
A reportagem entrou em contato com a comunicação da Polícia Militar questionado a instituição sobre o relato do vigilante. Contudo, até a publicação da matéria, não houve resposta por parte da corporação sobre o apontamento de que as então lideranças internas da PM teriam conhecimento sobre os fatos na época dos confrontos. O espaço segue aberto para manifestação.
Operação Simulacrum
Deflagrada na manhã de quinta-feira (31), a Operação Simulacrum cumpriu 115 mandados judiciais - sendo 81 de prisão e 34 de apreensão - contra policiais militares. As prisões se deram baseadas "provas robustas" de que os agentes da segurança pública teriam forjado confrontos policiais para execução de suspeitos.
Os assassinatos, segundo informações da decisão que baseou a operação, teriam sido realizados com o intuito de benefícios pessoas dos militares, incluindo promoções de cargo, assim como para os batalhões aos quais estavam lotados.
Os crimes detalhados na operação ocorreram entre 2017 e 2020, tanto em Cuiabá quanto em Várzea Grande. Ao todo, 64 policiais foram presos na ação, que ocorreu após depoimento de Ruiter prestado ao MPMT.
Manifestação da Polícia Militar
A última manifestação da Polícia Militar sobre o caso foi feita na quinta-feira (31). No informe, a corporação saiu em defesa de seus agentes e repudiou o que chamou de "exposições desnecessárias". A PM também aponta que não é detentora dos referidos autos e não têm subsídio para individualizar a ação citada. Confira o relato na íntegra a seguir:
"A Polícia Militar de Mato Grosso informa que está acompanhando o desencadeamento da Operação Simulacrum da Polícia Civil em que mandados judiciais de prisão e busca e apreensão estão sendo cumpridos.
A instituição esclarece ainda que nunca coadunou com eventuais desvios de conduta de seus integrantes, porém, não temos conhecimento ainda da totalidade do conteúdo das investigações por parte da Polícia Civil, contudo, os policiais militares que ora figuram nesses mandados possuem boa reputação institucional e relevantes serviços prestados à sociedade mato-grossense.
Desde o início da operação a instituição através da Corregedoria - Geral e dos Comandos Regionais envolvidos estão acompanhando todas as conduções e oitivas. As associações ASSOADE, ACS, ASSOF disponibilizaram equipes jurídicas para acompanhar nossos policiais militares.
A PMMT repudia exposições desnecessárias e abusivas de seus membros, que sequer tiveram direito de defesa e reafirma o compromisso de estar ao lado dos policiais militares garantindo suas prerrogativas em todas as ações legitimas cometidas em serviço e em defesa do cidadão; é imperioso informar que a prisão é medida excepcional, que os investigados são policiais militares com vínculo funcional, têm residência fixa e que nunca se furtaram a responder aos questionamentos da Justiça.
Eventuais excessos serão questionados nas esferas competentes com a certeza de que a instituição é a principal interessada na elucidação do fato e de suas circunstâncias.
Outro fator preocupante é o pré- julgamento e execração pública de homens e mulheres que juraram defender a sociedade mesmo com o risco da própria vida.
A instituição ressalta que está colaborando com os trabalhos e fornecendo todo o suporte necessário para que ocorra o deslinde da referida operação da melhor forma possível".
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