Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas em debate

URUAÇU

85% das brasileiras que se prostituem no exterior são goianas

Euclides Oliveira
Valdir Monteiro: Goiás representa 85% do tráfico de mulheres
Valdir Monteiro: Goiás representa 85% do tráfico de mulheres

Uruaçu já ocupou o noticiário nacional por ser uma das cidades brasileiras que mais “exportavam” pessoas há cerca de dez anos, em meados de 2003. As vítimas, em sua maioria, eram mulheres que acabaram se tornando prostitutas em países europeus, acreditando nas promessas de um “bom emprego” e de “vida fácil” fora do Brasil. Em novembro de 2010, o controvertido assunto foi amplamente discutido na cidade pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NFTP) do Ministério Público (MP) de Goiás. Quase três anos depois, o tema voltou a ser tratado no município – entre a manhã e a tarde da sexta-feira (21) – no plenário da Câmara Municipal de Uruaçu. Desta vez, o debate foi encabeçado pela Secretaria de Estado de Políticas Para Mulheres e Promoção da Igualdade Racial (Semira) – órgão do Governo de Goiás – com apoio da Prefeitura de Uruaçu e do Ministério da Justiça.
“Uruaçu, infelizmente, continua sendo uma cidade de origem e de destino para o deslocamento indevido de pessoas. Esse é o levantamento do Ministério da Justiça, juntamente com a ONU (Organização das Nações Unidas). Ao nosso ver, ainda faltam políticas para que as pessoas, dentro de sua própria região, possam desenvolver os seus sonhos. Essa circunstância faz a pessoa a entrar ´no sistema´ e acreditar no que é proposto, para realizar esse sonho. A pessoa, então, acaba indo embora correndo assim um risco muito grande. A questão com maior incidência ainda é a exploração sexual. Porém, a maioria das mulheres viaja sabendo exatamente o que irão fazer no exterior, embora a prostituição não seja crime no Brasil e em outras partes do mundo. Mas, quando a mulher é explorada, configura-se o crime. Há também a questão do ´casamento servil´, quando a pessoa acha que resolverá seus problemas casando com alguém da Europa, mas acaba sendo escravizada lá fora”, comentou o coordenador da Comissão Executiva de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Semira, Valdir Monteiro da Silva, em entrevista exclusiva ao DN antes do evento.
Segundo Valdir, outra preocupação da Semira diz respeito aos travestis goianos que também são submetidos a situações de vulnerabilidade e de cárcere privado em países europeus. Esse grupo, a exemplo das mulheres, contrai dívidas ainda no Brasil com a compra da passagem aérea e roupas, por exemplo. De acordo com ele, o relato de uma das últimas pessoas que voltou da Europa para Goiás é surpreendente. “Essa mulher nos relatou que estava sendo obrigada a manter 30 relações sexuais por dia, em média, somente com uma única alimentação. Trata-se de uma situação de crueldade em que a pessoa tem, inclusive, seus documentos recolhidos; que fica com medo por estar num país estranho, sem saber onde buscar informações. Apesar disso, existem ONGs internacionais que nos repassam informações e nos ajudam, independentemente da atuação dos consulados do Brasil no exterior”, completou o representante da Semira. Segundo Valdir, 85% das mulheres brasileiras vítimas do tráfico internacional de pessoas são originárias do Estado de Goiás, justificando a realização do seminário em 10 cidades até o presente momento.
“Queremos ofertar o conhecimento para que todos possam denunciar essa situação”, completou. Valdir evitou dizer qual a “colocação” que Uruaçu ocupa neste triste ranking, uma vez que o governo federal está atualizando as estatísticas dos municípios em que o problema é mais visível. Espanha; Suriname; Suíça; e Holanda são os países que mais abrigam brasileiras para a prática da prostituição e outras formas de “trabalho” sem as mínimas condições de dignidade humana. A prefeita Solange Bertulino (PMDB) foi representada no evento pela coordenadora do Centro de Referência da Mulher de Uruaçu, Celma Amâncio Pimenta Barbosa; e pela secretária municipal da Promoção Social, Ana Maria de Oliveira Araújo.

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