A juíza Maria das Graças Alfaia
Fonseca, titular da Vara de Crimes Contra Crianças e Adolescentes de
Belém, confirmou ter sido procurada no gabinete dela pelo juiz Carlos
Alberto Flexa de Oliveira, semanas antes do pedido de prisão do
empresário Antônio Carlos Vilaça, acusado de fazer parte de um esquema
de abuso sexual de crianças e adolescentes. No encontro, o juiz indagou
a juíza sobre o andamento do caso.
“Ele veio em meu gabinete. Chegou muito
cansado por causa da subida de escada. Perguntou como estava o caso do
Vilaça. Deixei que ele falasse e não comentei nada. Depois disse a ele
que não podia falar nada sobre o caso porque os autos ainda não haviam
chegado à minha mão”, disse a juíza.
Segundo ela, não houve influência
alguma por parte do juiz no andamento do processo. “Tanto que logo
depois que os autos chegaram até a mim, percebi que estavam presentes
todos os requisitos para decretar a prisão e foi o que fiz. A prisão foi
decretada no dia 23 de abril de 2010”, disse a juíza. Além de Vilaça,
foi pedida à época a prisão de Leonilda Moreira, Caroline Alves de
Souza e Carlos Alberto Ferreira Pimentel, também acusados de abuso
sexual de menores.
O caso ganhou nova repercussão depois
que o jornal Folha de São Paulo publicou, na edição de sábado passado,
04, reportagem que indica ter havido proteção ilegal ao empresário
Antonio Carlos Vilaça por parte de autoridades paraenses. Vilaça é
proprietário de empresas na área de construção civil, mineração e
transporte. O empresário nega as acusações de prática de abuso sexual
em menores.
SEGREDO
O inquérito corre sob segredo de
Justiça, mas as informações acabaram vazando. Segundo a Folha de São
Paulo, os documentos do inquérito mostram que o empresário teria
recorrido ao deputado Wladimir Costa, ao juiz Carlos Alberto Flexa e ao
delegado Edivaldo Lima, para obter informações e influenciar as
investigações do caso. Costa e Lima negam as acusações. O juiz informou,
por intermédio da assessoria de imprensa, que não iria se manifestar
sobre o assunto.
A reportagem diz ainda que a jornalista
Micheline Ferreira, de O Liberal, teria cobrado R$ 100 mil do
empresário para não publicar matéria sobre o caso. A jornalista negou a
acusação. A assessoria do Tribunal de Justiça do Estado informou que,
durante todo o caso Seffer, deputado acusado na CPI da Pedofilia,
Micheline Ferreira buscou diversas vezes informações sobre as denúncias
contra Vilaça, num procedimento comum para repórteres.
As investigações sobre o caso foram
feitas a partir de grampos telefônicos, solicitados pela juíza Graça
Alfaia, a partir de novembro de 2009. As investigações indicariam o
envolvimento sexual de Vilaça com cinco meninas e adolescentes dos
municípios de Barcarena e Abaetetuba e pelo menos três de Belém.
Caso não consta na CPI da Pedofilia
A prisão de Vilaça só foi feita depois
da mudança de delegado no caso. Quando o inquérito passou às mãos da
delegada Socorro Maciel, o empresário foi preso, embora não tenha
ficado muito tempo na cadeia. “O caso está sob sigilo de Justiça. Eu
concluí os autos, enviei à 3ª Vara Criminal de Abaetetuba e de lá subiu
para o Supremo Tribunal Federal. Não posso falar mais nada”, disse a
delegada, referindo-se às investigações do abuso às meninas de
Abaetetuba. O caso foi parar nas mãos do juiz Deomar Alexandre Barroso.
A informação do gabinete do juiz é que ele não se manifestaria por telefone sobre o assunto.
Em Belém, o deputado Arnaldo Jordy
(PPS), que tomou a frente às apurações da CPI da Pedofilia, não quis
falar com o DIÁRIO. A pergunta, cuja resposta não parece ser
esclarecedora é por que as acusações contra Vilaça não constaram da CPI,
já que o empresário chegou a ser preso. A assessoria do deputado
justificou a ausência de Vilaça porque a denúncia feita contra ele teria
chegado até a CPI no período das investigações. (Diário do Pará)
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