Abuso sexual de crianças: ajudando a superar

Confessou o crime o principal suspeito de ter abusado sexualmente de entre 40 a 50 crianças de zero a 4 anos em uma rede de creches em Amsterdã. O abuso de várias vítimas pelo homem de 27 anos foi registrado em fotos e vídeos. O caso abalou a Holanda no início dessa semana. 

Para os pais o choque é ainda maior. Eles levam as crianças para uma creche confiando que estão seguras e depois descobrem que lá acontecem coisas estranhas, afirma Carlijn de Roos, do Centro de trauma psicológico de Leiden. Há um protocolo fixo para assistir as vítimas de um caso moral como esse de Amsterdã. Imediatamente após saber de um caso de abuso sexual é importante que os pais sejam bem informados, diz De Roos, que presta assistência à vítimas de abusos.

“Se isso é descoberto, como agora, então é importante que os pais primeiramente ouçam da maneira mais precisa possível o que aconteceu. Porque o que eles querem saber é: o meu filho foi vítima?", diz De Roos.
Sinais
Crianças entre 0 e 4 anos que são traumatizadas por abusos não podem falar sobre isso; eles são muito novos para conhecer as palavras para contar o que aconteceu. Mas é possível reconhecer alguns sinais do comportamento das crianças. “Elas podem, por exemplo, ter dificuldade para dormir, terem medo de estar sozinhas, agitação ou agressividade, não comer bem, ou voltar a reagir como em uma fase anterior da infância. De uma hora pra outra não estão mais lúcidos ou param de falar”.

Para os pais é importante que eles tenham controle sobre estes sinais e busquem assistência a tempo. “Quanto antes, melhor”, explica De Roos. Mas ao registrar estes sinais é com freqüência difícil distingui-los entre uma possível reação a um abuso sexual e um comportamento rebelde que é normal para uma criança dessa idade.
Calma
Ao mesmo tempo, a preocupação não pode estar acima de tudo e para a criança é importante que o dia-a-dia continue o mesmo, como sempre.
“Um importante conselho é voltar a rotina o mais rápido possível. Fazer as coisas comuns que eram feitas antes do abuso. Ou seja, comer na hora de sempre, o mesmo ritual na hora de dormir. As crianças reagem à inquietações, se as coisas acontecem diferente do que estão acostumadas”.

Hábitos previsíveis dão às crianças tranqüilidade e o sentimento de segurança, diz De Roos. Nem sempre a terapia é necessária, mesmo se a criança apresenta reações ao abuso. “A maneira como a criança reage é normal para algo ocorrido que é totalmente anormal. É importante que os pais também possam desabafar imediatamente, com pessoas da família ou amigos e, em último caso, com profissionais. Para que depois do primeiro choque eles estejam rapidamente à disposição da criança”.
Terapia
Francien Lamers, professora de pedagogia (ortopédica) da Universidade Livre de Amsterdã, acredita que os pais e as crianças que vítimas de pedofilia têm o direito de uma conversa com um assistente logo após a descoberta do abuso. “Não para saber o que aconteceu, mas para ver se a criança apresenta problemas comportamentais”.
Caso depois seja decidido que a terapia é necessária, quinze sessões durante quinze semanas são suficientes, diz Lamers. Meio ano após a terapia as coisas voltam ao normal com pais e crianças. Dependendo do que aconteceu e da capacidade de resistência de pais e filhos, o tratamento pode ser até mais curto, complementa De Roos.
Perda do pai
Se o abuso é descoberto em tempo, se a assistência está rapidamente à disposição e quando acontece fora da família, os danos podem ser limitados, diz Lamers.

O abuso sexual acontece fora da família. Se os pais podem cuidar bem da criança e eles mesmos podem superá-lo, então a criança tem muitas chances de se recuperar. “Mas se o abuso sexual é feito pelo pai, então você não tem mais pai”.

A maior parte dos abusos infantis é cometido dentro da família e a chance de danos permanentes é muitas vezes maior.
Homens como exemplo
Em abusos contra crianças, os autores são, na maioria, homens. De Roos e Lamers acreditam que crianças que sofreram tais abusos devem ter contato com homens que trabalham em creches. “A maioria dos homens são bons.”

Dos 55 mil trabalhadores de creches na Holanda, apenas 1% é homem. Alguns especialistas acreditam ser muito importante que mais homens trabalhem em creches e no ensino fundamental por que eles podem servir de exemplo para as crianças.

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