‘Tirei duas geladeiras do ombro’, diz Selma sobre rompimento com chapa de Taques

Florentino/Olhar Direto
‘Tirei duas geladeiras do ombro’, diz Selma sobre rompimento com chapa de Taques
A pouco menos de um mês para as eleições, a juíza aposentada Selma Arruda (PSL), que anunciou no mês passado a sua independência e "afastamento" dos demais integrantes da coligação encabeçada pelo governador Pedro Taques (PSDB), diz estar se saindo muito bem e que desde então vem sentindo o seu palanque muito mais leve, sem a presença de políticos investigados. 

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Em entrevista ao Olhar Direto, a magistrada aposentada falou sobre a rejeição de seu candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), com o público feminino, os desentendimentos com o deputado Nilson Leitão (PSDB), o apoio recebido do ex-ministro Neri Geller (PP) e algumas de suas propostas.

Veja abaixo alguns trechos da entrevista:


Olhar Direto - Nos últimos dias vimos em pesquisas uma grande rejeição do eleitorado feminino ao candidato a presidência Jair Bolsonaro (PSL) e manifestações em redes sociais contra sua candidatura. A senhora tem literalmente vestido a camisa dele em seus discurso. Como pretende defende-lo para as mulheres?

Selma Arruda - Estas são acusações clichês, entraram nesta onda de dizer que ele é machista, mas nós temos um movimento pró-Bolsonaro feminino que é muito bonito. Em relação a esta página do Face, eu tenho a informação de que era uma página que já era formada. Foi comprada e intitulada como mulheres contra Bolsonaro. Não vejo resistência nenhuma de mulheres em relação com o Bolsonaro nesta questão de ser machista ou misógino.




O.D. – Acredita que pode perder voto das mulheres por apoiar declaradamente o Bolsonaro?

S.A. - As mulheres bolsonariasas são femininas e não feministas. Nós não apoiamos estes movimentos. Sentimos muito o apoio feminino. A campanha para o Bolsonaro é voltada muito para a família, então é óbvio que nas famílias existem mães, filhas, mulheres que compõe esta família. Não sinto resistência.



O.D. - O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sinalizou que a senhora pode ter que trocar o seu nome na urna e que não poderá usar o título de juíza. Como a senhora vê isso?

S.A. - Foi o voto de um dos julgadores, que aliás era advogado do Silval Barbosa, o Ulísses Rabaneda. O voto dele é neste sentido, mas irá ao pleno. Acho que só Selma Arruda nesta altura da campanha este nome não faz diferença. Embora é estranho que não se pode usar juíza Selma Arruda, mesmo juiz sendo um cargo vitalício. Mas pode se usar Procurador Mauro, que é um cargo também. Pode só para um lado, mas para o outro não pode né. Na minha opinião é um ponto de vista bem equivocado.



O.D – Após o rompimento com a chapa do governador Pedro Taques (PSDB), a senhora pensa em indicar outro nome para o Senado?

S.A. - Não estou indicando nenhum outro nome, deixo sempre o eleitor orientado. Para governador me perguntam muito e eu sempre deixo o eleitor orientado no sentido que pesquise. É fácil, basta usar o Google e checar quem é ficha limpa, quem já fez alguma coisa e quem tem um passado que não recomenda voto.




O.D. – O deputado Nilson Leitão (PSDB) disse que o seu rompimento com a chapa foi algo isolado e que seu partido, o PSL ainda o apóia. Isso é verdade?

S.A. - A minha decisão foi isolada, não foi uma decisão do partido. Isso eu deixei bem claro desde o começo. Se ele está recebendo apoio do PSL bom para ele. Eu recebo apoio, inclusive de vários candidatos do PSDB, do PDT, do Podemos, do Pros. Esta eleição está diferenciada e as pessoas não estão respeitando as coligações.

O.D. - Como ficou sua relação com o PSL após seu anúncio de rompimento?

S.A. - O deputado Victório Galli até tentou argumentar comigo que na política 2 + 2 nem sempre são 4. Mas eu entendo como regra de vida que 2 + 2 tem que ser 4. Isso eu faço na política e fora dela. Se não for assim não me serve, não consigo me adaptar. A política da forma como ela é feita é de forma errada. As pessoas as vezes criticam, dizem que eu não sei fazer política, mas se for a política como ela é feita atualmente acho que não é uma boa política. Não sei fazer e não vou fazer. Espero me eleger e cumprir meu mandato fazendo a política limpa.

O.D.- Alguns candidatos no Estado estão pegando carona dizendo que apóiam Bolsonaro e reproduzindo seu discurso. Como a candidata enxerga esta tentativa de aproximação?

S.A. - Eu espero que o eleitor consiga entender o que é oportunismo nesta hora e o que é o candidato da base que vai para a sustentação do Bolsonaro. É aquela história, o filho bonito todo mundo quer assumir a paternidade. O Bolsonaro está ‘bombando’ nas pesquisas em Mato Grosso e ai aparecem candidatos que já tem candidatos a presidente que não é Bolsonaro, mas se dizem apoiadores dele.

O.D. – O deputado Nilson Leitão tem dito que o eleitor tem que escolher para o Senado uma pessoa que tem experiência na política e que o cargo não pode haver pessoas que vão ser testadas lá. A senhora concorda com isso?

S.A. - Eu realmente estou debutando na política e vejo que no quadro atual da política brasileira, a experiência não é bem um elogio. A experiência é mais um demérito da forma como a política é feita atualmente. Ma eu digo o seguinte, sou candidata a um cargo legislativo e de lei eu entendo. Com certeza muito mais que o Nilson Leitão.

O.D. - Qual é o seu posicionamento em assuntos como a PEC do Teto e reforma trabalhista?

S.A. - A PEC do Teto é muito nociva, principalmente em relação a saúde, essas questões que são emergenciais, não tem como congelar por 20 anos. É uma coisa inimaginável e nós temos uma demanda cada vez maior. Com relação a reforma trabalhista eu já sou um pouco mais flexível, acho que o Estado tem que deixar de ser paternalista e permitir que os empresários consigam se adaptar aos seus deveres, quanto os empregados também consigam mais chances de emprego na medida em que a reforma trabalhista flexibiliza esta relação.

O.D. - Em entrevistas recentes, o economista Paulo Guedes, tido como o ‘guru’ de Jair Bolsonaro defendeu a volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e depois voltou atrás explicando que defendia uma espécie de imposto único. A senhora concorda com ele?

S.A. - O imposto único é uma das bandeiras do PSL. Acho que não é factível, pelo menos neste momento. Precisamos dar alguns passos antes de chegar lá. Mas o ideal seria a pessoa pagar um imposto único, souber o que pagou e ter um estado enxuto que não exigisse tanto. Hoje temos um custo Brasil muito alto, de 35%, enquanto outros países são muito mais competitivos por que o custo é muito menor. No Estados Unidos é 16%, no Paraguai é 8%. Então, precisamos reduzir isso e para isso o Paulo Guedes e o Jair Bolsonaro defendem a necessidade de enxugar o estado extinguindo secretarias, ministérios, deixar enxuto para poder cobrar menos impostos.

O.D. - Nesta semana o TRE garantiu os 30% do tempo de TV na sua coligação. A senhora ficou satisfeita?

S.A. - Eu acho que a decisão foi lúcida, justa, inclusive contra o parecer do Ministério Público por que o magistrado teve a visão correta da situação. Não pretendo mais mexer em relação a este assunto, já estamos na reta final da campanha. A campanha tomou um volume muito grande nos últimos dias e eu não quero mais perder meu tempo com rusgas, nem com brigas e nem com nada disso. Agora é ir para rua e principalmente tomar a frente da campanha do Jair Bolsonaro. Depois que ele sofreu aquele atentado, nós nos vimos na obrigação de tomar frente na campanha por que ele está impossibilitado. Está no hospital e não tem como se manifestar em debates e nem ir para rua. Precisamos retomar a campanha dele, fazer o maior esforço possível para que ele seja eleito no primeiro turno.

O.D. – Mato Grosso tem municípios muito ricos como é o caso de Lucas do Rio Verde, Primavera do Leste e outros pobres como Jangada. Qual seria uma solução para acabar com esta desigualdade?

S.A. - Existem municípios que são pobres, mas tem o potencial turísticos enormes. Então a gente pode investir no turismo nestes municípios e compensar com isso aqueles outros municípios que tem o agronegócio como ponta e o IDH enorme. Sabemos que o turismo é o segundo maior meio de riqueza mundial. Não existe nenhum lugar em Mato Grosso que não seja turístico. Temos cachoeiras, trilhas, todo tipo de biodiversidade que podemos explorar neste sentido. Produzimos algodão aqui em Mato Grosso. Poderíamos levar para uma destas cidades mais pobres uma fábrica de tecidos para que o algodão produzisse aqui fosse processado. Nós mandamos muita matéria prima para fora e ainda temos que importar. Podemos investir e trabalhar esta matéria. Mas isso ficará a cargo do governador e não de um senador.

O.D. – Qual o seu posicionamento sobre a Lei Kandir?

S.A. - Sou contra a Lei Kandir na medida em que só se dá incentivos ao agronegócio. Eu acho que os incentivos devem ser dado também para outros setores da economia. Se você incentivar outras atividades poderemos fazer com que o produto final saia daqui. Para isso precisa de incentivo, mas precisamos rever toda esta carga tributária, por que não adianta o governo dar incentivo e depois ter que cobrar imposto de outra categoria por que não deu conta de se pagar os seus próprios encargos. Então o passo número um é enxugar e o passo número dois é dar incentivo por que entra dinheiro e conseqüentemente desenvolvimento.

O.D – Como está sendo sua campanha sem o aporte do PSDB?

S.A. - Eles nunca me deram suporte, pelo contrário. Eles queriam que eu desse suporte para eles, usando o nome do Bolsonaro e o meu nome. Eles tinham esta intenção. Aporte eu não tive nem financeiro, nem moral e nenhum outro tipo. Mas a campanha agora está muito mais leve por que eu acabei me desvencilhando daquilo que estava me incomodado, que era este envolvimento dessas pessoas com atos ilícitos. Então agora a campanha tomou um corpo muito grande e um formato muito interessante. Não temos cabo eleitoral, temos voluntários. Estou mandando material para o Estado inteiro sem ter cabo eleitoral. É uma campanha na qual as pessoas aderem por acreditar naquilo que estamos fazendo, que está sendo dito.

O.D. – Então a senhora quer dizer que tirou um peso dos ombros declarando sua independência?

S.A. – Eu tirei duas geladeiras de cada ombro.

O.D. – Foi veiculado na mídia que um vereador cassado por corrupção participou de uma carreata da senhora em Sinop. Isso não te incomoda?

S.A. - Não sabia, mas também não tenho como filtrar. As vezes pode vir até um criminoso pedindo adesivo ou participar da carreata. Nós não temos muito controle sobre isso.

O.D. – No dia que anunciou sua independência na campanha, a senhora relatou um suposto acordo envolvendo o também candidato ao Senado Procurador Mauro (Psol), Pedro Taques e Nilson Leitão. Isso realmente aconteceu?

S.A. - Chegou para mim uma informação de várias fontes de que a princípio o Nilson Leitão não queria me aceitar na coligação e era de interesse do governador que eu entrasse na coligação. Então eles teriam feito um acordo de deixar que eu entrasse e incentivaram o Procurador Mauro que disputasse o Senado ao invés de Governo. Isso seria benéfico para o Pedro Taques, que eliminaria um concorrente e para o Nilson Leitão que me enfraqueceria aqui na capital. Esta informação me veio com detalhes de que teria havido uma reunião entre eles. Não tenho nada contra o Procurador Mauro, mas isso para mim foi muito decepcionante. Pode ser que não tenha acontecido, mas a informação chegou para mim de várias fontes.

O.D. – No último fim de semana a senhora esteve com o ex-ministro Neri Geller (PP). Houve mesmo uma manifestação de apoio dele a sua candidatura?

S.A. - Eu cheguei a Sorriso, lá é onde mora o meu primeiro suplente, o Beto Possamai. Fiz reuniões, caminhadas e o Dilceu Rossato, que é um grande apoiador de nossa candidatura me apoiou firmemente. Pela noite, me convidaram para uma reunião de um candidato a deputado estadual de outra chapa e o ex-ministro estava lá. Tivemos um encontro muito cordial, inclusive falei que para ele que eu devo ir a Barra do Garças e ele se colocou a disposição para nos apoiar e para mim é uma honra ter o apoio de uma pessoa com tamanha estatura política.

O.D. – Quais propostas a senhora irá levar para o congresso além do combate a corrupção?

S.A. - Nós precisamos de uma urgente reforma na educação. O modelo nosso de educação é equivocado e não permite que as pessoas aprendam a raciocinar e a escolher os seus próprios caminhos. É um sistema na minha visão, oco e sem conteúdo. Eu acredito que o sistema de educação apregoado por Olavo de Carvalho é o melhor, isso vais ser visto nos primeiros meses de Jair Bolsonaro na presidência. Precisamos de uma reforma política urgente. Vimos agora um derramamento de milhões nesta campanha, os candidatos usando dinheiro para interesses próprios e pessoas morrendo nos hospitais. Não é moral o que está sendo feito, o Estado financiando campanhas políticas e deixando de custear saúde e outras coisas mais importantes. Esta é a primeira coisa que temos que acabar com estes fundos de financiamento de campanha com dinheiro público. Acho que a tendência daqui para frente é que as campanhas sejam mais virtuais e cada vez menos espalhafatosas fisicamente falando. O pacto federativo tem que ser revisto para podermos mudar a forma dos tributos que se arrecada. Mato Grosso por exemplo arrecada muito e recebe pouco de volta. Isso é um absurdo. Acredito que a reforma tributária junto com a revisão do pacto federativo vão ser o primeiro grande passo para começar se desenvolver, junto com o combate a corrupção.

O.D. – Em sua opinião o que precisa ser mudado na Lei da delação premiada?

S.A. - Precisamos aprimorar urgente a lei da delação premiada. Precisamos tornar mais graves as penas. Os políticos lá no congresso para dizer que endureceram as leis no combate a corrupção aumentam a pena máxima e o juiz dificilmente aplica a pena máxima para alguém. O que temos que aumentar é a pena mínima, por que se tem uma mínima de cinco ou oito anos, o político irá pensar duas vezes antes de cometer um delito desse.

O.D. - A senhora precisará votar em alguém além do voto próprio para o Senado. Já tem alguém em mente com o perfil semelhante ao seu?

S.A. - Tenho sim a minha definição, mas o voto é secreto.

O.D. - Caso seja eleita, se sente segura em deixar o cargo para seus suplentes, em uma eventual licença?

S.A. - O Beto é uma pessoa muito honesta, muito querida em sua cidade. É uma pessoa transparente, tenho toda segurança que se eu precisar dar uma janela para ele, como devo dar, ele é uma pessoa em quem eu confio de olhos fechados, assim como a Cleire, minha segunda suplente.

O.D. – Faça suas considerações finais aos eleitores.

S. A. - 
 No dia 7 de outubro nós temos uma decisão importantíssima para tomar no nosso país. Estamos em um momento muito crucial, pois estamos em uma crise muito grande em todos os sentidos. Sempre gosto de deixar no final uma mensagem de que o eleitor acorde por que existe solução, e vote consciente. No caso do Senado são dois. Se a pessoa já tem o seu primeiro voto eu peço que vote em mim no segundo voto. Se a pessoa não tem ninguém eu peço o primeiro voto. Sabemos que 70% dos eleitores vão votar em Jair Bolsonaro e ele precisará de apoio efetivo no congresso para ele poder aprovar os projetos que tem. As pessoas podem pensar que é só votar 17 e anular o resto. Se ocorrer isso é uma armadilha enorme para o Bolsonaro. Se ele não tiver base no governo, é muito provável que no final do primeiro ano ele sofra um impeachment pela bancada contrária, ou ele seja tido como um presidente incompetente. Então é necessário que as pessoas compreendam que o congresso tenha pessoas que apóiam Jair Bolsonaro.