Inocência roubada: a triste realidade do abuso sexual em Várzea Grande MT

‎"Tinha mais ou menos 10 anos de idade. Era de manhã quando brincava pela casa, subi no primeiro andar, meu irmão (nove anos mais velho) estava deitado na cama, me chamou e pediu para que eu espremesse espinhas que ele tinha nas costas. Ele estava de short e sem camisa. Espremi duas ou três espinhas meio sem jeito e ele me pediu para fazer o mesmo em mim. Disse-lhe que não tinha nenhuma e ele me pediu para ver, insistindo. Eu permiti. Percebi que rapidamente ele desceu a mão e alisou por entre as minhas pernas. Eu me assustei e corri, enquanto ele dizia: 'Peraí, peraí, vem cá!'. Desci os degraus mais que depressa e quando cheguei embaixo, minha irmã (seis anos mais velha) estava entrando em casa. Eu resolvi que ia contar tudo a ela. Não consegui, as pernas tremeram, esbarrei em minha timidez, fiquei com medo de que achasse que eu o tinha provocado. Tive medo! Foi aí que começou meu inferno que dura até hoje."


Esse espantoso relato foi dado por uma pessoa que resolveu contar seu caso de abuso através da Internet. E infelizmente não se trata de um caso isolado. Ela é apenas mais uma que pertence a estatística de cerca de cem mil meninos e meninas que vivem essa assustadora realidade e são vítimas de abuso e exploração sexual anualmente no Brasil.

Números da Organização Mundial do Trabalho (OIT) revelam que 1,8 milhão de crianças e adolescentes são abusados sexualmente no mundo, a cada ano. No Brasil, a quantidade de denúncias deste crime no "Disque Denúncia 100" triplicou nos últimos dois anos em relação a 2005 e 2006, segundo informa a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência. Em 2007 e 2008, as denúncias relacionadas a casos de turismo sexual no Brasil chegaram ao espantoso número de 11.365, sendo que, nos anos anteriores, esse número não passava de 3.600.

O apresentador do programa Cadeia Neles, vereador Toninho de Souza revelou no seu programa que o conselho tutelar de Várzea Grande já registrou aproximadamente 1.000 casos de violência contra a criança e adolescente em 2010.

Uma luz no fim do túnel

Desde o início do mandado, Toninho do Gloria abraça a bandeira de luta contra a pedofilia, divulgando e relembrando semanalmente os números estarrecedores da violência sexual contra crianças e adolescentes...

Pedofilia, aborto, infanticídio, legalização das drogas e prostituição infantil serão os principais temas que serão debatidos em 2010 em MT. O Evento esta sendo organizado pela ONG MT Contra a Pedofilia presidida pelo vereador várzea-grandense Toninho do Gloria e que faz parte do programa “Todos Contra a Pedofilia” do Senado Federal.

Desde o início do mandado, Toninho do Gloria abraça a bandeira de luta contra a pedofilia, divulgando e relembrando semanalmente os números estarrecedores da violência sexual contra crianças e adolescentes: O número de estupros aumentou 315% em 2009 em Cuiabá e Várzea Grande, de acordo com dados da Polícia Judiciária Civil. Em 2008 foram 19 casos contra 79 ocorrências no ano seguinte. Somente nos 2 primeiros meses de 2010 ocorreram 60 casos. Todas as vítimas tinham menos de 14 anos, diz Toninho do Gloria, é que apenas 5 a 10% dos casos são registrados.

O presidente da ONG MT contra a pedofilia Toninho do Gloria e coordenador da Jornada, defende que a pedofilia deve ser uma bandeira de toda sociedade e passa pela quebra de um tabu: a educação sexual nas escolas. “Só assim nossas crianças estarão preparadas para quando forem abordadas por pedófilos.”

A Jornada Estadual Contra a Pedofilia tem uma extensa programação:

30/04 – As 14:00 horas, em Várzea Grande – Lançamento da Jornada 2010Contra a Pedofilia/Seminário ‘Todos Contra a Pedofilia.
06/5 – As 19:00 horas A Caravana da Jornada Estadual Contra a Pedofilia na Escola Nadir de Oliveira em Várzea Grande.
13/05 – As 14:00 horas Caravana da Jornada Estadual Contra a Pedofilia na Escola Estadual Mercedes de Paula.
20/05 – As 14:00 horas a Caravana da Jornada Estadual Contra a Pedofilia Escola Estadual Prof Adalgisa de Barros
27/ 05 – As 19:00 horas a Caravana da Jornada Estadual Contra a Pedofilia na Escola Estadual Pedro Gardés do município de Várzea Grande .

Toninho do Gloria convida todos os moradores e visitantes das referidas localidades a participarem da Jornada: “o meu grito é para que todos acordem e entrem conosco nessa luta, antes que sejamos pegos de surpresa com uma situação desta dentro de nossa casa” finalizou o parlamentar.
Um mal criado em casa
Assim como na situação descrita no início da matéria, os casos de abuso sexual a crianças e adolescentes ocorrem, em sua grande maioria, dentro das famílias. Através de pais, padrastos, madrastas, além de agregados como tios e avós.

Atualmente a estrutura familiar vem ganhando novos modelos. Muitos familiares acabam morando na mesma casa por dificuldades financeiras ou por diversos outros motivos. Isso sem contar na formação de novas famílias, unindo-se a outras famílias, como no caso de pais separados, o que pode propiciar os casos de abusos. Mas, sendo assim, como podemos identificar os agressores?

Pais: como reconhecer a vítima e o que fazer diante do problema?

Por ser classificado como um ato de violência, o abuso pode gerar um fator de risco para o desenvolvimento. As sequelas deixadas nas vítimas de abuso sexual podem ser tanto físicas quanto psicológicas. Em relação às sequelas físicas, são deixadas pela agressividade que existiu durante o abuso, compreendendo hematomas, cortes, fraturas pelo corpo e órgãos genitais. Porém o índice é menor quando comparado às marcas psicológicas.

Estas compreendem vários sintomas que podem ser manifestados ou não pela vítima, como baixa autoestima, tristeza, baixo rendimento escolar, desatenção, medo, insegurança, apatia, sentimentos de menos valia, dificuldades na fala, comportamentos regredidos (como voltar a querer dormir com os pais, ou chupar o dedo), isolamento e agressividade.

Os pais podem identificar se a criança ou adolescente pode estar sendo vítima de abuso sexual através destes comportamentos e alguns outros como: isolamento e introspecção, pesadelos (distúrbios do sono), mudanças nos hábitos alimentares, fazer xixi na cama, dor e feridas sem explicação nos genitais, possíveis sintomas relacionados a DST, ganhos de presentes sem motivos, acessos de raiva, revolta com atitudes dos pais, medo de intimidades (abraços, carícias), comportamentos e brincadeiras erotizadas, confusões de papéis, auto-mutilação ou promiscuidade.

"A intensidade desses sintomas depende de como cada vítima vivenciou o abuso. E cada pessoa reage de modo diferente", explica Toninho do Gloria. Cabe então ao psicólogo que auxilie o mesmo para elaborar o trauma vivido e assim ter uma melhor qualidade de vida. Se a vítima não for cuidada psicologicamente pode apresentar vários comportamentos no futuro, como agressividade, recusa do contato com outras pessoas, comportamentos depressivos, insegurança nas relações, possível desvirtuamento de valores.

Os casos de abuso sexual vêm crescendo gradativamente no Brasil. Assim, a população têm recebido mais informações e está mais ligada sobre o que é e como ocorre. A delegada Ana explica que as pessoas estão mais abertas para discutir esses temas com mais naturalidade hoje em dia. "A consciência vem maturando na sociedade em relação a educação sexual para prevenir os abusos".

E a psicóloga Sabrina complementa. "Uma vez informados, devemos fazer o nosso papel individual na defesa da criança e adolescente, não permitindo que a violência permeie a vida destes".

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