O Programa Poeira Zero, lançado em clima de pré-campanha eleitoral pelo prefeito Chico Galindo como a realização de um sonho da população cuiabana, pode não sair do papel se a Delta Construções S.A. for incluída no Cadastro Nacional de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS).
A empreiteira está sendo investigada na Controladoria Geral da União (CGU) pela prática de influência política e suposto esquema de distribuição de propina, chefiado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira e com a participação de políticos e servidores públicos. A previsão era de que as obras tivessem início em 30 dias. Porém, caso a CGU confirme as denúncias envolvendo a empreiteira, cerca de 200 mil pessoas, muitas há mais de 30 anos entre lama e pó, ficarão a ver navios por mais algum tempo.
O contrato com a Delta, assinado no dia 23 de abril passado, inclui serviços de pavimentação e drenagem de águas pluviais em 24 bairros da capital, perfazendo 106 km de asfalto. Por esse serviço a prefeitura vai investir R$ 54,1 milhões provenientes do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).
A possibilidade de o asfalto prometido por Galindo não chegar aos bairros soa como um tormento na vida daqueles que há décadas sonham com melhores condições de vida. É o caso Maria Elza dos Santos, 54, dona de casa e moradora da Rua Raimundo Pinheiro, no Bairro Pascoal Ramos, um dos 24 bairros do Poeira Zero. “Convivo há 30 anos com poeira e lama. Deficiências que fazem parte da minha vida, mas enquanto não acontecem os serviços, não consigo manter a casa limpa. O pó no nariz incomoda. Para garantir um pouco de sossego, mantenho as portas e janelas fechadas. Se as obras do Poeira Zero não chegarem aqui vamos continuar na mesma”.
Pedro Augusto,46, construtor e morador da Rua Tamoios, no Parque Ohara, não esconde o descontentamento. “Não temos sossego, os caminhões passam em alta velocidade e levantam mais poeiras. Fiquei feliz com a instalação da placas informando as obras, colocadas há uma semana, mas até o momento ninguém apareceu. Só acredito vendo, pois foram inúmeras promessas de melhorias, porém elas só acontecem no período eleitoral. Não tenho expectativas, pois há 26 anos enfrentamos poeira e muita lama. Se as obras forem suspensas a deficiência vai continuar sem data para ser amenizada”.
No Bairro Nossa Senhora Aparecida 2, a doméstica Luzia Maria, 54 anos, revela outro problema sério no Poeira Zero. “Eu e minha família vivemos de forma precária, sem o asfalto e rede de esgoto. Muito pó e sujeira, nada para limpo. Não estou otimista com as obras, porque fomos informados que seremos retirados do local que é uma área verde. Se os serviços de pavimentação forem realizados de verdade, teríamos uma vida mais digna. Caso as obras sejam suspensas vamos continuar tristes e esquecidos”.
Em pior situação vivem moradores do Sol Nascente, vizinho do Bairro Planalto, a exemplo de Bruna de Souza, 27, moradora da rua H2 Quadra18. “No período da seca a falta de asfalto e a poeira são muito ruins. Quando chove a água fica sem vazão e empossada na via. Infelizmente aprendi a conviver com essas deficiências. Caso as obras do programa venham a acontecer vai melhorar vida de todos. Mas se forem suspensas, vamos continuar na esperança de dias melhores, pois a esperança é a última que morre!”
Devassa
O vereador Lúdio Cabral (PT) se prepara para fazer uma devassa no contrato firmado entre a Prefeitura de Cuiabá e a Delta Construções S.A, vencedora da licitação do programa Poeira Zero e que nesta primeira beneficiaria 24 bairros da Capital.
“Já protocolei o pedido de cópias de toda documentação e que será submetida a uma avaliação minuciosa de nossa assessoria jurídica. Se falhas forem detectadas, poderemos entrar com uma ação para suspender a licitação”, declarou o vereador ao Circuito Mato Grosso, disposto a recorrer ao Tribunal de Contas, ao Ministério Público e a uma ação judicial diante de indícios de irregularidades.
TCE faz auditagem
Já está em andamento no Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso uma força-tarefa com a missão de fazer uma auditoria geral nos contratos da Delta com órgãos públicos de Mato Grosso. Seis relatorias estão trabalhando no levantamento por determinação do presidente do TCE, conselheiro José Carlos Novelli e a do governador Silval Barbosa (PMDB).
O outro lado
O prefeito Chico Galindo dá garantias de que o escândalo envolvendo a Construtora Delta não afetará as obras do Poeira Zero.
Contratos suepeitos
Não é de hoje que a Construtora Delta vence licitações da Prefeitura de Cuiabá. A empresa já realiza serviços de coleta de lixo na capital. Começou com um contrato temporário para substituir a Qualix e posteriormente venceu certame e assumiu definitivamente o serviço. Também venceu licitação de locação de veículos de quase R$ 15,5 milhões e agora assumiu as obras do programa Poeira Zero, pelo qual deve levar a quantia de R$ 54,1 milhões.
Com o escândalo envolvendo a Delta e políticos influentes num suposta esquema de lavagem de dinheiro, descobertos a partir da Operação “Monte Carlo”, a empresa passou a ser investigada em processo administrativo aberto na Controladoria-Geral a União (CGU) e cujo intuito é checar a inidoneidade da construtora. A orientação do ministro-chefe da CGU, Jorge Hage para a comissão é no sentido de dar toda a celeridade possível aos trabalhos.
A CGU instaurou o processo baseada não apenas na Operação “Monte Carlo”, com indícios veementes de tráfico de influência, mas também em informações oriundas do inquérito policial relativo à Operação “Mão Dupla”, realizada em 2010 pela CGU, Polícia Federal e Ministério Público Federal.
Sandra Carvalho – Da Editoria
Fotos: Mary Juruna
http://www.circuitomt.com.br/editorias/geral/14395-sonho-de-cuiabanos-pode-ir-por-terra.html
