PREFEITO DE CAMPO GRANDE É ACUSADO POR PEDOFILIA, ESTELIONATO E CORRUPÇÃO


 Prefeito da capital e seu “braço direito” teriam arquitetado esquema que supostamente arrecadou recursos para comprar votos favoráveis à cassação de Alcides Bernal, na Câmara de Vereadores, ao custo superior a R$ 20 milhões; interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça sul-mato-grossense e depoimentos de testemunhas também dão conta sobre a possível existência de gravações em vídeo nas quais Gilmar Olarte teria sido flagrado em práticas sexuais com menores de idade.

“Conforme evidenciado no período de investigações, Ronam Edson Feitosa de Lima, ocupante de cargo comissionado na Prefeitura Municipal de Campo Grande e pastor evangélico da igreja denominada Assembleia de Deus Nova Aliança, estaria, em razão de sua função pública, solicitando valores a empresários em troca de supostos benefícios a serem concedidos pela Administração Pública Municipal, a exemplo da concessão de uso de terrenos, vantagens em processos licitatórios e nomeações em cargos comissionados; tal conduta criminosa seria avalizada por Gilmar Antunes Olarte, então vice-prefeito de Campo Grande e também pastor evangélico da Assembleia de Deus Nova Aliança”.
A acusação foi lançada pelo Procurador-Geral de Justiça de Mato Grosso do Sul, Humberto de Matos Brittes, e o promotor de Justiça Marcos Alex Vera de Oliveira, integrante do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), responsável pela investigação do que seria um dos maiores golpes da história política recente no Estado – a suposta arrecadação de recursos junto ao empresariado campograndense para pagar na Câmara Municipal votos favoráveis à cassação do ex-prefeito Alcides Bernal.

“Noutro versar, tem-se que os fatos trazidos à baila no Procedimento Investigatório Criminal nº 02/2014-Gaeco dão conta de que parte dos recursos angariados pelos investigados Ronam Edson e Gilmar Olarte seriam destinados ao financiamento de vereadores, para fins de captação de votos na comissão processante que julgaria o então prefeito Alcides Bernal e que, efetivamente, gerou sua cassação”, prossegue o Ministério Público Estadual (MPE) noutro trecho do requerimento na qual foi postulada a prisão temporária do homem considerado “braço direito” de Gilmar Olarte.

A reportagem do jornal Centro-Oeste Popular e do Brasil Notícia – portal do grupo na internet, sediado na Capital Federal – teve acesso, com exclusividade, aos autos do Procedimento Investigatório Criminal nº 02/2014/Gaeco. A peça inquisitória se encontra sob sigilo em razão de haver nela interceptação de comunicações telefônicas.

“No caso em exame tem-se claro que existe uma associação criminosa, voltada à prática de delitos graves, cuja característica do modus operandi e dos delitos cometidos pelos agentes tem por base a utilização de comunicação telefônica, para o comando de suas ações”, asseverou o promotor de Justiça Marcos Alex Vera de Oliveira, do Gaeco, ao postular autorização para os “grampos”, prontamente deferida pelo juiz de Direito Aluizio Pereira dos Santos.

As revelações da investigação promovida pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPE/MS) comprometem, além de Gilmar Olarte e Ronam Feitosa de Lima, diversos agiotas que operam no mercado sul-matogrossense, além de políticos e, principalmente, um grupo empresarial chefiado por grande empreiteiro que há várias administrações fatura alto nos cofres públicos da “Cidade Morena”.

“O esquema contaria, ainda, com a participação de outros indivíduos que atuariam tanto nas articulações para o desenvolvimento do golpe, bem como agiriam como ‘laranjas’ figurando como proprietários de bens que na verdade seriam de propriedade de Ronam Edsom e Gilmar Olarte”, destaca trecho de relatório produzido pelo Gaeco.

“Verificou-se, também, que alguns dos cheques recebidos de terceiros, principalmente pela pessoa de Ronan (que mantém relações diretas com Gilmar), de alguma forma foram parar em mãos de agiotas (...) sob a promessa de recebimento de vantagens em uma futura administração municipal, tais como posse de terrenos e favorecimento na contratação para execução de obras públicas”, prossegue o MPE, que aponta suposto “conluio encabeçado por Gilmar Antunes Olarte, na época vice-prefeito, e perpetrado por Ronam Edsom Feitosa de Lima, na época funcionário da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Turismo e Agronegócio (Sedesc), que estariam agindo com intuito de angariar fundos para financiamento de vereadores e captação de sufrágio, buscando influenciar no resultado da votação da comissão processante que apurou supostas irregularidades praticadas na administração do então prefeito Alcides Bernal, pois a cassação deste acarretaria a ascensão de Gilmar Olarte ao cargo de prefeito; para esse feito, Ronam Edson estaria arrecadando doações de empresários, com promessa futura de favorecimento na administração municipal quando Gilmar Olarte ascendesse ao cargo de prefeito e nessa ocasião utilizaria a estrutura da prefeitura para beneficiar os doadores”, prossegue o relatório do MPE.

R$ 1 MILHÃO POR VOTO

Duas assessoras muito próximas a Gilmar Olarte foram “grampeadas” durante as investigações – Anny Cristina Silva Nascimento Sales e Marly Deborah Pereira de Campos. Ambas trabalharam com o deputado estadual Rinaldo Modesto de Oliveira – vulgo professor Rinaldo – e com a irmã deste, a vereadora campo-grandense Rose Modesto, candidata a vice-governadora de Mato Grosso do Sul na chapa do deputado federal Reinaldo Azambuja.

Em determinada conversa, Deborah Campos revela à amiga: “cada vereador que votou a favor da cassação de Alcides Bernal teria recebido um milhão de reais”. Noutra conversa entre as duas, Anny Cristina “afirma que a vereadora Rose Modesto poderá ser nomeada como secretária de Educação, e revela também que Ronam se reunirá com a referida vereadora para discutirem uma situação onde ela poderá receber sete milhões de reais”.

Depois da cassação de Alcides Bernal – que teve voto favorável de Rose Modesto -, a própria vereadora foi flagrada em conversa telefônica com o prefeito Gilmar Olarte na qual a pauta foi “a discussão de nomes que serão indicados para ocupar cargos públicos”. Detalhe: a linha telefônica usada por ela está em nome do irmão deputado.

Fonte fidedigna revelou à reportagem que os “acertos” não teriam sido apenas financeiros, mas também – e principalmente – barganhados com base na divisão de poder na estrutura administrativa campo-grandense.

PREJUÍZOS

Conforme as investigações conduzidas pelo Gaeco, o esquema supostamente arquitetado por Gilmar Olarte e Ronam Feitosa para arrecadação de fundos destinados a financiar o “golpe” contra o então prefeito Alcides Bernal causou prejuízo a muita gente, desde pessoas humildes até grandes empresários e agiotas. Em Campo Grande, fala-se que o suposto calote beira a cifra de R$ 1 milhão.

Entre os agiotas que teriam trocado cheques para a dupla está Ito de Melo Andrade, dono da Tecmaster Cobranças, empresa que opera também no ramo de fomento mercantil. Ele contou ao Gaeco que seu prejuízo foi de aproximados R$ 100 mil. Disse também que Ronam Feitosa por diversas vezes comprometeu-se a negociar o pagamento, mas nunca honrou as promessas. Em determinada visita ao escritório do agiota, esteve acompanhado pelo próprio prefeito Gilmar Olarte.

Outro que injetou dinheiro no esquema foi um certo Salem Pereira Vieira – ele admitiu em depoimento ao Gaeco que “troca cheques a juros, o que faz na informalidade”. Contou ter trocado R$ 236 mil em cheques para Ronam Feitosa – os valores eram repassados na agência da Caixa Econômica Federal (CEF) localizada à avenida Afonso Pena, na capital sul-matogrossense. “Em três dessas ocasiões em que se dirigiu até a agência da CEF, o declarante presenciou Ronam na companhia de Gilmar Olarte e nessas oportunidades viu Ronam repassar os valores diretamente para as mãos de Gilmar Olarte”.

Salem Vieira também reclama ter sido lesado – seu prejuízo seria de aproximadamente R$ 36 mil, resultado de inúmeros cheques devolvidos por insuficiência de fundos. Ele revelou que haveria cheques de grandes empresários em somas elevadas, mas também muitos de pequeno valor, cujos titulares seriam na maioria trabalhadores humildes – afirmação depois confirmada pelo MPE que localizou muitas pessoas enganadas por Ronam Feitosa, várias delas são fiéis da igreja Assembléia de Deus Nova Aliança, da qual Ronam e Olarte são pastores.

É o caso do empresário Edmundo de Freitas Carrelo, que conheceu Ronam Feitosa quando frequentava a tal igreja, da qual Gilmar Olarte era dirigente à época. Carrelo relatou ao Gaeco que, iludido pela promessa de bons negócios com a prefeitura campograndense, trocou diversos cheques de elevadas quantias e hoje amarga prejuízo de aproximadamente R$ 240 mil. Caso semelhante foi o do empresário Mauro Sérgio Freitas que não conheceu Ronam e Olarte na igreja, mas também foi logrado com a esperança de vantajosos contratos com a administração municipal e hoje reclama dívida de quase R$ 50 mil.

PEDOFILIA E ‘CHUPISCO’

O agiota Ito de Andrade Melo, na esperança de reaver o prejuízo, contratou os serviços do cobrador autônomo Mauro Alessandro Souza Freitas, coincidentemente pastor evangélico. Ao curso da cobrança, Mauro Alessandro apresentou a Ronam Feitosa outro agiota, Salem Pereira Vieira que, conforme antes mencionado, também trocou vultosas somas em cheques para fomentar o suposto esquema – e também acabou no prejuízo.

Em razão disso, Salem e Mauro somaram esforços a fim de receber as dívidas – mas os métodos de cobrança do primeiro seriam pouco ortodoxos, conforme revelou o segundo em depoimento ao Gaeco. Salem teria a intenção de chantagear o prefeito com supostas filmagens nas quais Gilmar Olarte apareceria a praticar conduta sexual nada evangélica.

“Em contato com Salem, este teria dito para o declarante que havia feito diversos vídeos da pessoa de Ronam, falando que os empréstimos contraídos eram revertidos em favor de Gilmar Olarte (...); que Salem disse ainda que possuía um vídeo gravado, onde Gilmar Olarte apareceria mantendo relações sexuais com meninas menores de idade (...); que o vídeo foi feito em uma festa, em uma chácara”, declarou Mauro Alessandro.

Noutro trecho de seu depoimento, ele lembrou que manteve conversa telefônica com a colunista social Sônia Regina Arraes Capistrano – a “Bya Arraes” – que teria afirmado ter “conhecimento da existência do tal vídeo feito por Salem” e confidenciado “ter visto outro vídeo, gravado por uma mulher, onde Gilmar Olarte apareceria mantendo relações sexuais com um menino excepcional”. O tal vídeo seria denominado “chupisco”.

Mauro Alessandro contou também que teria questionado Salem sobre a existência do vídeo, a qual teria sido confirmada. Além disso, conforme o depoimento ao Gaeco, “(...) Salem mostrou para o declarante um vídeo gravado com Ronam, no qual tal pessoa aparece falando sobre um golpe político”. “Também foi informado por Salem sobre a gravação de um áudio onde Ronam apareceria falando do envolvimento sexual de Gilmar Olarte com menores”. Ele disse ainda que, em determinada ocasião presenciou Salem falando ao telefone com Gilmar Olarte sobre o dinheiro que tinha a receber – com o aparelho no modo “viva-voz”, o agiota teria chamado várias vezes o prefeito de “pedófilo”.

Na noite anterior ao depoimento na sede do Gaeco, Mauro Alessandro afirma que recebeu ameaçador telefonema de um tal Fábio Rogério – “que tal pessoa disse para o declarante que se depusesse contra Gilmar Olarte iria sofrer represálias e sua família iria ser castigada”. E, no dia marcado para o depoimento, recebeu a visita de Salem Pereira Vieira “que aparentava estar nervoso e disse para o declarante não fazer qualquer menção à existência do vídeo”.

Mencionada por Mauro Alessandro, a jornalista Bya Arraes é bem relacionada nos meios políticos e empresariais de Mato Grosso do Sul. Contou ao Gaeco ter sido procurada pelo cobrador, que pediu a ela para intermediar contato com o prefeito Gilmar Olarte, a fim de tratar da dívida.

Bya Arraes confirmou a existência de vídeos nos quais Ronam Feitosa fala sobre o “plano político para cassar o ex-prefeito Alcides Bernal”. Tal gravação teria sido mostrada por Mauro Alessandro e Salem Vieira, em visita no apartamento da jornalista.

Ela também falou sobre os “vídeos proibidos” que comprometeriam o prefeito de Campo Grande. “Em determinado momento, Mauro disse para a declarante que iria abrir um vídeo contendo cenas de sexo envolvendo Gilmar Olarte (...) nesse instante, como os filhos da declarante estavam presentes, foi solicitado a Mauro que não exibisse os vídeos”, declarou ao Gaeco a colunista social.

Outra forte evidência de que os vídeos de fato existiriam foi registrada pelo Gaeco ao curso das interceptações telefônicas. No último dia 20 de março, em determinada conversa de Salem Vieira com uma pessoa que os promotores acreditam ser o vereador Derly dos Reis de Oliveira, vulgo “Cazuza” – aliado de Gilmar Olarte -, foi combinado um encontro para a suposta negociação do explosivo material. O encontro de fato aconteceu, no Hipermercado Comper Jardim dos Estados, e foi registrado pelas câmeras arapongas do Gaeco.

Desde que os “rolos estouraram”, Ronam Feitosa anda sumido – a ordem de prisão contra ele foi cumprida na capital paulista. Depois de ouvido pelo Gaeco, foi liberado e pouco tem sido visto – determinada organização campo-grandense denominada ‘Associação de Orientação e Defesa da Cidadania Feminina’ chegou a editar um panfleto no qual questiona-se em letras garrafais: “Por onde anda Ronan?".

Fonte: Diário do Estado

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