Em apoio ao blog Mães do Brasil, o Portal Todos Contra a Pedofilia MT publica a partir de hoje uma série de cartazes de crianças desaparecidas
Quem vai procurar nossas Madeleines?
As incertezas que pairam sobre o desaparecimento da menina britânica Madeleine McCann, 4 anos, cujo paradeiro não se tem notícias no mundo há 157 dias, também permeiam há quase dez anos uma história cercada de mistérios que ainda desafia as autoridades policiais do Rio Grande do Norte. O sumiço de cinco crianças no bairro Planalto, Zona Oeste de Natal, no intervalo de três anos, é um caso até hoje insolúvel e com poucas pistas.
Enquanto no caso Madeleine os pais chegaram a ser apontados como possíveis responsáveis, na história do Planalto não há suspeitos. Nas duas situações foram disseminadas diversas teorias, mas nada substancial e concreto para o trabalho de investigação da polícia. A família McCann mantém apelos pela continuidade das buscas, afirmando que ela está viva. As mães do Planalto também não perderam a esperança de ter os filhos de volta.
Perto de completar nove anos desde o primeiro sumiço, ocorrido em novembro de 1998, a investigação sobre os desaparecimentos no Planalto passou pelas mãos de dez delegados, teve várias diligências, mas produziu pouco resultado. O inquérito chegou a ser remetido à Justiça, mas voltou à polícia para novas diligências. O caso está sob responsabilidade das delegadas Adriana Shirley, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), e Sheila Almeida, atualmente no comando da delegacia de Caraúbas.
‘‘Não temos elementos suficientes para atribuir a ninguém o suposto crime contra as crianças’’, afirma Adriana Shirley, que juntamente com Sheila Almeida e dois promotores formam a última comissão especial designada para o caso. Devido à complexidade do inquérito, a delegada preferiu não estimar um prazo para a conlusão das diligências, mas garantiu que irá cumprí-las o mais rápido possível. ‘‘Trabalhamos com esse objetivo.’’
Para a delegada, a maior dificuldade na elucidação do Caso Planalto é a falta de testemunhas-chave, principalmente por causa do tempo. Entre as linhas de investigação, a polícia trabalha com as possibilidades de venda das crianças para adoção ilegal, doação de órgãos e homicídio. ‘‘São cinco crianças diferentes, cinco circunstâncias diferentes e cinco barracos diferentes. A investigação demanda tempo’’, acrescenta.
O mistério no Planalto começou em novembro de 1998, quando Moisés Alves da Silva, de 1 ano e 7 meses, foi levado do barraco onde dormia com os pais e os irmãos. Em janeiro do ano seguinte, Joseane Pereira dos Santos, 8 anos, foi raptada da casa de uma vizinha. O terceiro sumiço aconteceu em janeiro de 2000, com o rapto de Yuri Tomé Ribeiro, 2 anos. Três meses depois, o garoto Gilson Enedino da Silva também desapareceu. O último caso aconteceu em dezembro de 2001, quando a pequena Marília da Silva Gomes, de 2 anos, foi levada do barraco onde dormia com a mãe, os irmãos e o padrasto.
Dez delegados já presidiram inquérito
Complexo e de difícil elucidação, o Caso Planalto passou pelas mãos de dez delegados e poucas vezes a polícia obteve subsídios importantes para chegar a possíveis responsáveis. Ausência de testemunhas-chave, informações divergentes e falta de estrutura são alguns pontos que emperraram as investigações. Uma comissão especial criada em 2003 deu um fôlego a mais à apuração, com a aquisição de estrutura física, mas nada que solucionasse o caso.
Os primeiros delegados que atuaram no caso respondiam exclusivamente pelo distrito policial de Cidade Satélite (11ªDP), responsável pela região. Um deles foi Francisco Quirino Filho, que participou do inquérito quando a quinta criança desapareceu. Ele contou que na época a principal dificuldade foi a falta de estrutura da delegacia. ‘‘Tudo o que tínhamos em mãos foi por água abaixo porque nossa viatura quebrou e não recebemos outra.’’
Francisco Quirino, que atua na 12ªDP, diz que chegou a fazer várias diligências no Planalto e acha ter se aproximado das pessoas envolvidas que supostamente levaram as crianças. ‘‘Acho que as investigações fizeram o grupo ou casal que provavelmente raptaram as crianças pararem com as investidas’’, acredita o delegado, lembrando que vários depoimentos apontaram um casal suspeito envolvido com os sumiços.
DIFÍCIL
O subsecretário de Segurança Pública, Maurílio Pinto de Medeiros, que atuou no caso dando apoio aos delegados que presidiram o inquérito, acha difícil que o desparecimento das crianças seja resolvido. ‘‘Normalmente aparecem pistas. Levaram essas crianças sem ninguém vê e não deixaram pistas’’, avalia, lembrando que no Brasil são registrados desaparecimento de crianças diariamente, mas em Natal foi um caso excepcional. ‘‘Em Natal foi diferente porque foi em um só setor, como se fosse uma coisa dirigida’’, diz Maurílio Pinto. Ele conta que uma mulher chegou a ser presa no município de Santo Antônio, mas nenhuma prova foi produzida e ela foi solta. Para o delegado, a melhor forma de encontrar pistas em casos como o do Planalto é oferecer recompensa por informações. ‘‘Os familiares me procuraram, mas eu não dei muitas esperanças’’, completa Medeiros.
PARADO
Quatro anos após ser iniciado, sem qualquer resposta sobre os desaparecimentos, o inquérito do Caso Planalto chegou a ficar parado, inclusive sem delegado nomeado. Em julho de 2002, o então procurador geral de Justiça, Paulo Leão, cobrou providências da polícia quanto à paralisação das investigações. Até então, sete delegados já haviam trabalhado no caso. O procurador designou um promotor de justiça.

Em pouco tempo, a Delegacia Geral de Polícia (Degepol) nomeou o oitavo delegado. Entretanto, Manoel Alves pediu licença médica e sequer iniciou investigação. O caso continuou alguns dias sem delegado, até a nomeação de Kalina Leite, que na época respondia pela Delegacia de Defesa da Criança e do Adolescente (DCA). Kalina deu ritmo à investigação, mas precisou sair da função para assmuir o cargo de secretária adjunta.
No ano seguinte, em 2003, o então secretário de Defesa Social, Cláudio Santos, determinou que a Degepol designasse uma comissão especial com mais dois delegados para auxiliar o caso. Desde então, o inquérito está sob responsabilidade das delegadas Adriana Shirley e Sheila Almeida. Outros delegados que atuaram no caso foram José Torres Teixeira, Elói Carvalho Xavier, Antônio Carlos Nogueira e Stênio Pimentel.
Lindalva jamais perdeu a esperança
Um bilhete deixado na porta de casa foi a última pista falsa que Lindalva Florêncio Costa, 49 anos, recebeu sobre o paradeiro da filha Joseane Pereira dos Santos, a segunda criança desaparecida no Planalto, em janeiro de 1999, aos oito anos. O papel descrevia um suposto endereço do local onde a menina estaria morando. Isso já tem três anos. Mesmo assim, a esperança de encontrar a filha se mantém viva na mente de Lindalva.
‘‘Fiquei num alvoroço quando esse bilhete apareceu aqui em casa. Passamos vários dias rondando os bairros da Zona Norte, mas o endereço não existe’’, lembra a mãe de Joseane, que no dia 22 de janeiro completa 17 anos. Outros alrmes falsos frustraram a esperença dela ao longo de quase nove anos. ‘‘Lembro como se fosse hoje o dia em que ela sumiu. Foi o dia mais triste da minha vida’’, completa Lindalva, cabisbaixa e com a voz embargada.
Joseane Pereira, apelidada de Biba, tinha o hábito de dormir na casa de um vizinho de Lindalva para fazer companhia a uma mulher identificada por Sandra. No dia do sumiço, a menina voltou do Caic, onde estudava, passou em casa e depois se dirigiu ao barraco de Sandra. Pouco tempo depois, Sandra foi à casa de Lindalva e deixou a menina sozinha dormindo no barraco. Quando retornou, disse que Joseane já não se encontrava mais no local.
Lindalva Costa conta que a vizinha chegou a ser presa, mas acabou sendo liberada por falta de provas. Ela critica o trabalho da polícia e lamenta a morosidade no caso. ‘‘Eu não vejo nada nessa polícia. No começo era um alvoroço danado, depois parou tudo’’, afirma, lembrando que há mais de um anos não recebe informações sobre a investigação. ‘‘Esse caso foi um mistério para todo mundo, mas eu não perco a esperança.’’
O que mais desconforta Lindalva é não saber como a filha está vivendo. ‘‘Se pelo menos eu soubesse que ela está em boas mãos aliviaria o coração.’’ Um dos irmãos da menina, Emanuel Everaldo Pereira dos Santos, 18 anos, também mantém a esperança viva que um dia Joseane voltará ao convívio do lar. ‘‘Se ela não tivesse viva, o corpo já tinha aparecido’’, afirma Emanuel, descartando a possibilidade de a irmã ter sido morta.
Estudante do Caic de Cidade da Esperança, Joseane era bastante conhecida na região do Planalto. Quando desapareceu, os vizinhos se mobilizaram e procuraram seu paradeiros nas redondezas. Segundo a mãe, ela não fazia outro percurso que não fosse entre a escola, sua casa e a casa da vizinha.
Mais um aniversário sem a presença de Yuri
Na próxima sexta-feira, Dia das Crianças, o pequeno Yuri Tomé Ribeiro ganharia uma festa de aniversário para comemorar 10 anos de vida. Isso é o que planejava sua mãe, Maria Sueli Tomaz, 30 anos, que ganha a vida como carroceira no Planalto. Mas a vontade de cantar parabéns para o filho vem sendo adiada desde que Yuri desapareceu, há sete anos, quando dormia junto com dois irmãos numa cama do barraco de Sueli.
Yuri foi a terceira criança a sumir no Planalto. Apesar do pequeno barraco, Sueli conta que não viu como o filho desapereceu. ‘‘Ele sempre acordava de madrugada para mamar, mas nesse dia eu acordei e ele não estava na cama’’, lembra a mãe, que apesar o tempo não perdeu a esperança de ter de volta o filho. ‘‘Eu sei que é difícil, mas eu tenho fé em Deus que meu filho vai voltar a morar com a gente’’, diz emocionada.
Assim como outras mães que passam pelo mesmo problema, Maria Sueli desacredita no trabalho da polícia para ter o filho de volta. ‘‘Acho que faltou interesse da polícia’’, diz ela, lamentando não ter nenhuma informação que possa levar à elucidação do caso. ‘‘Não tenho suspeita de nada.’’ Na época do desaparecimento de Yuri, a polícia chegou a deter o pai do garoto, Severino Lima Cardoso, conhecido como ‘‘Nino Gato’’, que estava separado de Maria Sueli, mas acabou solto por falta de provas.
Fonte: Diário de Natal e Ministério da Justiça
Leia também artigo anterior: