“Os candidatos deveriam estar mostrando feitos e não promessas futuras”, diz Procurador Mauro em entrevista

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Foto: Mary JurunaCandidato de um partido de esquerda, o procurador da Fazenda, Mauro César Lara de Barros (PSOL) alega estar confiante em sua chegada ao segundo turno e na vitória no pleito eleitoral deste ano. Mauro faz duras críticas à atual gestão municipal e alega que Chico Galindo (PTB) não concorreu à reeleição pela certeza de que sua gestão foi desastrosa para Capital.
É contrário a concessão da Sanecap e à entrega das unidades de saúde as OSS, sobre a Copa do Mundo, ele assegura  que sua gestão irá fiscalizar a aplicação dos recursos, para que o legado do evento não seja apenas  obras mau feitas e dinheiro desviado.
Confira entrevista na íntegra:

Circuito Mato Grosso: Na última eleição para o senado (em 2010), o senhor obteve 98 mil votos em todo Estado, sendo 50 mil na Capital. Qual a expectativa para eleição deste ano?
Mauro Lara:
 A análise de conjuntura do partido é de que esta eleição será decidida em segundo turno e nossa expectativa é de que estejamos neste segundo turno. Acreditamos que temos chances reais de vencer as eleições.

CMT: Mesmo o senhor já tendo dito que não confia em pesquisas de opinião, onde encontra motivação para concorrer, já que aparece em último lugar nas pesquisas?
ML: 
Na verdade, a gente tem uma motivação passada. Porque se você procurar nos informes da eleição de 2010, nenhuma pesquisa indicou que teríamos essa votação expressiva aqui em Cuiabá. A gente tira essa motivação do contato com a população, e dessa certeza igual tivemos na votação passada, onde obtivemos um número superior de votos com relação àquilo que era apontado nas pesquisas. Sabemos que a pesquisa é utilizada pelo adversário com instrumento de marketing, o que acaba tirando votos que de repente determinado candidato poderia ter. Temos eleitorado que nos acompanha, que acredita nas nossas ideias e é daí que tiramos nossa motivação para continuar nessa luta.

CMT: O senhor concorre em uma chapa pura. Acredita que sem o apoio de demais siglas é possível vencer esta eleição?
ML:
 Acredito perfeitamente que é possível e justamente por isso, nem buscamos as coligações, pois entendemos que não há afinidade ideológica ou programática com elas. Não é que não conseguimos nos conciliar com essas pessoas, o fato é que nós nem buscamos porque não temos afinidades com essas demais candidaturas.

CMT: O senhor diz que não existe ‘afinidade ideológica’. Qual a ideologia que o PSOL defende?
ML: 
O PSOL é um partido de esquerda que busca colocar o Governo à serviço dos interesses do povo. O partido tem nacionalmente como ‘mote’, o combate à corrupção, assentado em alguns pontos que vão exatamente contra o que os demais partidos fazem.

CMT: Que pontos seriam esses?
Foto: Mary JurunaML: 
Por exemplo, primeiro ponto do combate à corrupção: o financiamento das campanhas. O PSOL tem financiado as campanhas basicamente com a contribuição de militantes, filiados, simpatizantes. Não estamos aqui recebendo contribuição de bancos, de grandes empresários e empreiteiras, pois entendemos que isso é o início da corrupção. Porque os grandes financiadores das campanhas já esperam colher benefícios do Governo lá na frente, quando a pessoa se estiver eleito. Outro ponto é a questão do loteamento dos cargos, que a gente acompanhou aí na formação dessas coligações, onde as pessoas estavam loteando o poder público e esse não é nosso modo de fazer política. Outro ponto importante é o fortalecimento do controle interno através de uma auditoria.. Sem controle interno, não se combate a corrupção, é necessário ter uma carreira de auditores, controladores efetivos, para evitar a corrupção. E Isso é uma coisa que nossos adversários não defendem. Por fim, o relacionamento com a Câmara dos Vereadores. Hoje o que a gente vê é que existe o poder executivo, o legislativo, que acabam vivendo um consórcio: o legislativo não fiscaliza, o executivo não executa, porque está todo mundo contemplado com algum cargo. Os vereadores estão ali para aprovar as matérias de interesse do prefeito e por fim as coisas não funcionam. No nosso governo, temos como proposta que isso não aconteça, que ali exista uma relação republicana entre o poder Executivo e o Legislativo, onde o legislativo fique na função de legislar e fiscalizar o executivo.

CMT: O senhor fala muito dessas alianças que foram traçadas visando apenas à campanha eleitoral. Os debates serão uma oportunidade de falar sobre isso e enfraquecer os adversários?
ML: 
Com certeza, acreditamos que as entrevistas, os debates e o horário eleitoral vai ser um momento de colocar isso para população e apresentar o tipo de campanha que estamos fazendo. Uma campanha com pouca estrutura, não é milionária, mas é decente. Queremos fazer as coisas para de fato melhorar a vida das pessoas e não apenas por interesse próprio, vaidades ou mesmo para atender os interesses das pessoas que estão nesse grupo coligado.

CMT: A gente percebe que a maioria dos candidatos está saindo nessa caminhada às ruas, visitando as feiras, num contato mais próximo e diário com a população. Não percebemos que o senhor adota essa mesma postura, como pretende conquistar os votos?
ML:
 Nós estamos iniciando esse trabalho, sem tanto destaque quanto os candidatos milionários, mas também estamos participando de reuniões, indo aos bairros e tocando nossa campanha sim. Sem alarde é verdade, mas estamos com a campanha nas ruas.

CMT: Caso eleito, o senhor já disse que tem a saúde como uma das prioridades. Quais as ações precisam ser feitas nessa área?

ML: 
Acreditamos que o principal hoje para Cuiabá é a construção de um novo Hospital, com 500 leitos, sendo 100 vagas de UTI. Isso ficará a um custo aproximado de R$ 250 milhões. Durante nossa carreira política, nós somos sempre confrontados por um discurso no sentido de “ah de onde vai vir esse recurso?”. O recurso existe. O orçamento de Cuiabá hoje é de R$ 1,4 bilhões, quer dizer, recurso existe, depende da maneira como você vai priorizar as coisas. Se existe vontade de fazer, você consegue alocar os recursos para realizar uma obra desse porte. Outra questão importante é a criação de uma carreira de médicos e enfermeiros de dedicação exclusiva. Hoje existe um conflito de médico, que ao mesmo tempo, trabalha no SUS e na iniciativa privada e que acaba priorizando seu atendimento na rede privada, que é mais lucrativo e o trabalho realizado no SUS é deixado para trás. Dentro da saúde pública o caminho é fazer um grande concurso público, para colocar nessas vagas que hoje são ocupadas por prestadores de serviço, pessoas que de fato sejam efetivadas e que façam parte de uma burocracia municipal e que não fiquem sujeitas a manobras.

CMT: Voltando na questão da saúde, a posição do senhor é contrária à entrega das unidades as OSS? Qual a solução defendida pelo senhor?
ML: 
Entregar para iniciativa privada é uma posição neoliberal, uma posição que o PSOL é nacionalmente contra. O serviço público do lixo e do transporte coletivo aqui na Capital é privatizado há décadas e nem por isso é um serviço de qualidade. Então, a privatização não é o caminho. O correto é fazer um trabalho com seriedade e honestidade para colocar esse serviço público a favor do povo.

CMT: Além da saúde, que outra área deve ser prioridade do novo prefeito da Capital?
ML:
 Acho que o transporte público. Independente do VLT – que vai ser importante -, não podemos admitir que em pleno século XXI as pessoas sejam transportadas como gado. Em 1995 pegava ônibus para ir par faculdade, se passaram quase 20 anos e tudo continua a mesma coisa. Ou seja, uma tremenda incompetência dos sucessivos gestores. O transporte parou no tempo e não podemos admitir isso. E acreditamos que a solução seja a revisão e fiscalização de termos contratoados hoje vigente.

CMT: Na questão da CAB, o senhor afirmou que caso eleito vai buscar reverter esse processo e buscar explicações sobre a forma como aconteceu essa concessão. O senhor acredita que possa ter havido alguma ‘maracutaia’?
ML: 
Na verdade, o processo é confuso, foi feito às escondidas e a gente acredita que existem sérios indícios de que esse processo foi levado a cabo com a lesão do interesse público.  A única diferença que o cidadão cuiabano está sentindo entre o trabalho que a Sanecap desenvolvia e a CAB está desenvolvendo hoje, é que as tarifas aumentaram. A gente sabe que a concessão da Sanecap houve um propositado sucateamento, no sentido de ‘vamos piorar o trabalho, para que possamos ter argumentos para privatizar’. Não é a primeira vez que isso acontece no Brasil, é sempre a mesma tática, primeiro sucateia o serviço, depois usa a desculpa que o único caminho é privatizar. Sabemos que o processo foi lesivo ao patrimônio público e enquanto prefeito vamos buscar à reestatização da Sanecap.

CMT: Falando da gestão do prefeito Chico Galindo, qual a sua avaliação?
ML:
 Acredito que a avaliação se resume aquilo que ouvimos da população, que está descrente com a gestão. Os serviços públicos estão com qualidade baixa e o maior indício de que a administração não é bem avaliada é que o prefeito no exercício do mandato teria possibilidade de ser candidato à reeleição não foi porque sabe que a população não aprova a atual gestão e que ela é desastrosa para Cuiabá.

CMT: Qual a aposta do senhor e do partido para vencer essas eleições?
ML:
 A gente aposta na força dos militantes e acreditamos também que vamos ainda conseguir falar muito com a população pelo rádio, pela TV, nas ruas. Os candidatos que aí estão deveriam estar mostrando seu currículo de realização, mas na verdade estão mostrando promessas para o futuro, quando na verdade já ocuparam cargos públicos e não conseguem ao menos mostrar realizações. Vamos colocar nossas ideias para a população e estamos torcendo para que elas entendam e apostem nessa mudança. Porque esses outros que aí estão são apenas “mais do mesmo”.

CMT: O senhor nunca ocupou cargo público, como acredita que está preparado para administrar a Capital?
ML: Ocupo cargo público porque sou procurador concursado, mas nunca ocupei nenhum cargo político eletivo. Sou formado em direito pela UFMT, fui gestor governamental do Estado aprovado em concurso, fui Procurador Federal em 2003, também aprovado em concurso público, sou procurador da Fazenda Nacional desde 2003. No cargo que ocupo, dentro das especificidades, também faço a administração pública. Tudo isso acho que nos referenda a participar da eleição e dizer que estamos preparados. O cargo de prefeito não é apenas de pessoas ricas, milionárias, acredito que o cidadão comum, o servidor público como eu está preparado para gerenciar uma cidade como a nossa.

Camila Ribeiro – Da Redação
Foto: Mary Juruna

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