por Thayanne Magalhães
Uma
pesquisa realizada pelo professor doutor Liércio Pinheiro, coordenador
do curso de Psicologia do Centro Universitário Cesmac, aponta que em
Alagoas foram registrados 1.043 ocorrências de abuso sexual infantil no
período entre 2001 e 2009. O estudo pretende fazer uma análise dos casos
recentes no Estado, mostrando os tipos de abuso sexual recorrentes, o
perfil dos agressores e vítimas e os municípios que concentram os
maiores números de ocorrências. Em Maceió é onde se registra mais
ocorrências.
Durante a pesquisa foi notificado que a maioria das vítimas é do sexo
feminino, conforme a tendência mundial, e estão na faixa etária entre 7
e 14 anos, predominantemente. O crime mais praticado é o estupro e,
segundo foi observado na pesquisa, a cada ano o número cresce. “Isso não
quer dizer necessariamente que a incidência de casos está aumentando. O
que está avançando é o nível de conscientização e esclarecimento da
sociedade que tem tolerado cada vez menos esse tipo de crime”, afirma o
professor.
Pinheiro explica também que a cada denuncia de abuso sexual infantil,
há 15 outros casos omitidos em média. “Como os casos de abuso sexual
são quase sempre perpetrados por pessoas que fazem parte da família da
vítima, quase sempre são abafados dos registros oficiais”, reflete o
professor. No estudo, Liércio constatou que os principais responsáveis
pelas agressões sexuais contra as crianças e adolescentes em Alagoas são
os pais biológicos e os padrastos.
Registros em Maceió
O conselheiro tutelar, Marcelo Alves, disse que o fato dos casos de
abuso sexual infantil estarem sendo cada vez mais divulgados pela mídia,
tem dado encorajado os familiares a denunciar. “O numero de denúncias
tem aumentado, porque a sociedade está realmente ficando mais consciente
por conta da divulgação dos casos e das campanhas de conscientização”,
afirma.
“É importante que essas crianças tenham acompanhamento psicológico e
que a família procure ajuda tanto do Conselho Tutelar, quanto das
autoridades responsáveis pela segurança da criança,” concluiu Marcelo.
Crianças e adolescentes que sofrem agressão sexual podem desenvolver quadros de psicopatologias
Segundo o professor Liércio Pinheiro, o abuso sexual infantil tem
sido encarado como um grave problema de saúde pública nos países
desenvolvidos, devido aos altos índices de incidência – independente do
perfil sócio-econômico do agressor – e das sérias consequências para o
desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da vítima e de sua família.
“A familiaridade entre a criança e o abusador envolve fortes laços
afetivos, tanto positivos quanto negativos, colaborando para que os
abusos sexuais incestuosos possuam maior impacto cognitivo e
comportamental para a vítima e sua família”, diz o psicólogo. Pinheiro
explica ainda que, apesar da complexidade e da quantidade de variáveis
envolvidas no impacto do abuso sexual na criança, essa experiência é
considerada um importante fator de risco para o desenvolvimento de
psicopatologias.
Entre os principais transtornos desenvolvidos pelas vítimas, estão os
quadros de depressão, transtornos de ansiedade, alimentares,
dissociativos, hiperatividade, déficit de atenção e transtorno de
personalidade borderline. “A psicopatologia mais citada é o transtorno
do estresse pós-traumático. Isso sem mencionar as crenças de caráter
disfuncionais, envolvendo sentimentos de culpa, sentimento de
inferioridade e desconfiança em relação aos outros”, explica.
O papel da mãe
A primeira pessoa a ser procurada pela criança ou adolescente
molestado que se sentem preparados para denunciar o abuso, segundo a
pesquisa, é a mãe da vítima. “Sabe-se que a criança vítima de abusos
sexuais tem necessidade fundamental de ser acreditada e por isso é
fundamental o papel da psicólogos e da sociedade em reconhecer e
compreender o fenômeno em toda sua complexidade”, explica Pinheiro.
O psicólogo disse que a criança que passa por este trauma não deve
ser deixada sozinha e que é fundamental o carinho da família e o
acompanhamento de profissionais especializados.
Com Assessoria Cesmac