Polícia acredita em crime passional

Informações como os casos amorosos do jornalista e o fato de o assassino estar de bicicleta reforçam tese de crime cometido por algum morador ciumento

Otmar Oliveira/A Gazeta

Auro Ida foi secretário de Comunicação da prefeitura de Cuiabá e comandou o setor na Câmara Municipal

RENÊ DIÓZ E ADILSON ROSA
Da Reportagem

A polícia suspeita que a morte do jornalista Auro Ida, de 53 anos, ocorrida na noite da última quinta-feira, tenha sido encomendada e por motivos passionais. Ida foi executado com seis tiros de pistola calibre 380 mm quando conversava dentro de seu Fiat Palio prata com a namorada, Bianca Naiara Corrêa de Souza, 19 anos, em frente à casa dela na avenida A do bairro Jardim Fortaleza, periferia de Cuiabá. Por volta das 23 horas, um homem surgiu numa bicicleta mandando a garota sair do carro. Em seguida, ela ouviu seis tiros.

Auro Ida trabalhou por 30 anos no jornalismo mato-grossense. Além de grandes redações, foi secretário municipal de Comunicação e, mais recentemente, comandou a Comunicação da Câmara Municipal.

O laudo de necropsia aponta que o jornalista foi executado com quatro tiros nas costas, um na boca e outro na nuca, como se fosse para confirmar a morte. Em seguida, o criminoso fugiu com a bicicleta em direção a uma rua escura. Segundo policiais da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o crime seria passional (motivado por paixão), pois a vítima teria se relacionado com várias mulheres no bairro, o que poderia ter provocado ciúmes.

A primeira suspeita voltou-se para o ex-marido de Bianca, Rubens Alves de Lima, 29 anos, que se separou há cerca de três meses e não de forma amigável. A mãe de Bianca, Márcia Correia, disse ontem de manhã que a filha “saiu da relação só com a roupa do corpo” e entrou na Justiça para receber alguma partilha.

Porém, a polícia não constatou nada que o ex-marido. Segundo o delegado que foi interrogá-lo na lan house que ele mantém há cerca de sete anos no Jardim Fortaleza, não há indícios de participação como o autor, tampouco mandante. “O ânimo dele, naquele momento, não denunciava nada”, frisou. Rubens falou com a reportagem à tarde e se mostrou indignado com a suspeita (ver box), mas também levantou a possibilidade de o jornalista ter provocado ira de outros do bairro.

Rubens se pergunta por que está sendo colocado como suspeito enquanto o bairro sabe que Auro se relacionou com várias outras mulheres cujos namorados, maridos ou ex-maridos teriam motivos para persegui-lo. “Tem menina aqui que é problema”. Ele argumentou que, se fosse buscar uma vingança pelo fim do relacionamento com Bianca, “teria que matar um monte”, uma vez que ela não se relacionou somente com Auro após o fim do casamento.

Já Bianca afirmou à reportagem não ter noção alguma sobre uma possível ligação do ex-marido com o crime, mas reconhece que Ida, já freqüentador do bairro antes do namoro, tinha se relacionado antes com outras mulheres da região. “Eram vários casinhos”, comentou. A filha mais nova de Ida inclusive mora com a mãe no bairro.

Por outro lado, Vânia Soares, 26, amiga de Ida que o apresentou a Bianca, não faz ideia de quem poderia ter premeditado a morte do jornalista. Recentemente, Vânia afirmou não saber de nenhum outro relacionamento de Ida, que em nove anos de amizade também nunca se disse ameaçado ou coisa parecida. Nem na última quinta-feira, quando ele foi à casa de Vânia.

INVESTIGAÇÕES - Para o delegado Antônio Carlos Garcia, titular da DHPP, o crime seria de mando, por motivos passionais. “É o que apontam as investigações iniciais, mas pode mudar no decorrer do trabalho”, explicou. Garcia acredita que o criminoso seja algum morador da região, caso contrário não fugiria numa bicicleta, opinião compartilhada pelo capitão Marcelo Moraes, da Base Comunitária da Polícia Militar, que atendeu a ocorrência na noite de quinta-feira. “A forma de locomover ajuda a definir de onde veio a pessoa”, resumiu, completando que a região do bairro onde o jornalista foi executado não possui iluminação pública, o que favorece o assassino na hora de se esconder.