
Orla de Copacabana, no Rio: para o NYT, a condição social das vítimas ou a capacidade de estragar a imagem do Rio são relevantes na hora de elucidar os crimes


São Paulo – O nova-iorquino The New York Times fez uma reportagem especial em vídeo que afirma que as autoridades brasileiras só despertaram para a onda de estupros no Rio depois que uma norte-americana de 21 anos foi vítima do crime, no final de março. Na ocasião, jornais do mundo inteiro noticiaram o estupro e colocaram em cheque o preparo da cidade para a Copa do Mundo de 2014.
Mas o New York Times vai além e não se refere ao Mundial, e sim ao fato da discussão sobre estupro na cidade ter estado “muda” até o caso da estudantes americana.
"A razão, alguns especialistas argumentam, é que as vítimas anteriores eram em grande parte pobres ou da classe trabalhadora, o que reflete uma das longas lutas do Brasil: a extrema divisão de classes da sociedade", diz o repórter no vídeo (veja no fim desta matéria).
O jornal elegeu como personagem principal a carioca de 22 anos que foi vítima de estupro, na mesma van da estudante dos Estados Unidos, apenas alguns dias antes.
“A polícia não ligou para dar continuidade à denúncia ou fazer qualquer prisão. Uma semana depois, quando uma estudante americana foi estuprada na mesma van e causou manchetes internacionais, a polícia especial do Rio para turistas rapidamente identificou e prendeu três suspeitos”, diz a matéria, publicada na última sexta-feira.
O NYT questiona também a decisão da Prefeitura de tirar as vans apenas da rica Zona Sul da cidade. O governo afirmou na época que se tratava de um plano antigo e não ligado ao caso.
Foi a própria brasileira estuprada que reconheceu a semelhança entre os casos e procurou a polícia novamente, que antes lhe haviam dito, segundo ela, que casos assim em geral acabavam em estatística. No final, eram os mesmos criminosos.
A mensagem final do NYT é passada por essa vítima: “Teve que acontecer com ela para que alguém me ajudasse. Podia (o dela) ter sido evitado se tivessem dado atenção ao meu caso?”, questiona a garota, que nunca tinha tido uma relação sexual antes.
O vídeo do jornal foi acompanhado de um texto que termina de maneira espinhosa.
“Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, chamou o assalto à estudante americana de "atrocidade", mas ressaltou que não esperava que isso afetasse a imagem do Rio, que ele disse estar passando por um "forte momento com grandes eventos e investimentos”.




O crime aconteceu na noite desta terça-feira (28). A denúncia foi feita pelo pai da vítima por volta das 20 horas.









