O Governador Silval Barbosa (PMDB), idealizador da candidatura e o principal apoiador político do candidato derrotado do PT à prefeitura de Cuiabá, Lúdio Cabral, está vivendo um pesadelo. Ele apostou todas as suas fichas na coligação Cuiabá, Mato Grosso Brasil, representada pelos partidos PT e PMDB. Sabia, com certeza, os riscos que corria. Deve portanto, ter um plano "B".
Agora, com a derrota de Lúdio frente a vitória de Mauro Mendes (PSB), terá, que volver o olhar para a recuperação financeira do caixa do Estado e, de quebra, restaurar o prestígio político para a eleição de 2014, quando deverá disputar uma cadeira no Senado ou na Câmara Federal.
A coligação, lançada de última hora, surpreendeu o meio político, dentre outros fatores, por desprezar até então, candidatos com alta cotação para o cargo e ainda, por apresentar na cabeça da chapa, o próprio Lúdio Cabral, um militante do PT desde 1997, eleito vereador por Cuiabá em 2004 e reeleito em 2008. Porém, um candidato sem grande expressão política, mesmo dentro do Legislativo.
A estratégia de Silval Barbosa, inicialmente incompreendida por muitos, se justificou tão logo começaram as primeiras ações da campanha. O mote? O alinhamento entre os Governos Municipal, Estadual e Federal como prerrogativa essencial à governabilidade da Capital.
A estratégia ganhou as ruas e conquistou o eleitorado. A campanha que teve início com Lúdio Cabral em quarto lugar - com apenas 4% das intenções de voto, chegou ao patamar de 42,27% no primeiro turno e assegurou ao candidato a colocação na disputa da segunda etapa do pleito eleitoral.
No embate com Mauro Mendes no primeiro turno, Lúdio Cabral levou o segundo lugar com uma diferença do concorrente, inferior a 2% dos votos válidos. Uma arrancada vigorosa da coligação defendida pelo Governador que colocava a vitória como uma conquista praticamente certa.
Governo desgastado
Silval Barbosa esqueceu, no entanto, que seu governo é frágil e não estava cumprindo sequer os repasses da Saúde aos municípios do Estado, entre eles Cuiabá, cuja dívida acumulada em meses obrigou instituições como a Santa Casa, a fechar o complexo de UTI. As condições do MT Saúde, plano dos servidores públicos, se deterioram de forma aguda e a passagem da bola para A Assembléia Legislativa não foi oportuna e mal disfarça o odor de uma negociata. Além disso, fornecedores estavam sem receber e obras essenciais foram paralisadas por falta de pagamento.
Tudo isso veio a público e de forma explícita começou a delinear um novo cenário para o pleito eleitoral. Lúdio Cabral é médico, defendeu a Saúde entre prioridades e como podia aceitar o que o Governador estava fazendo com os municípios, indagavam os concorrentes.
A mando de Silval, oportunamente, o Estado rebateu com novas ferramentas. Estrategicamente, desviou a atenção da população para as obras do VLT e acelerou o mais que pode o início dos trabalhos em dois locais referenciais: a rotatória da UFMT, na avenida Fernando Correa e a rotatória do Zero Km, na Avenida da FEB, em Várzea Grande. E ainda, carreou a mídia, principalmente a televisão, com centenas de inserções sobre um mundo ideal protagonizado pelo VLT. O imaginário popular foi estimulado e a tese do realinhamento, reforçada com a parceria do Governo Federal nas obras.
Mas isso não foi suficiente frente ao desgaste do governo que sofria ataques ferozes dos adversários, principalmente na área da Saúde. Pesquisas internas do partido apontavam o risco de possível derrota para Mauro Mendes.
Além das disputas judiciais novos fatos foram agregados à campanha de Lúdio Cabral. O ex presidente Lula e a presidente Dilma Rouseff ofereceram apoio ao petista na propaganda eleitoral do rádio e da TV. Novo reforço veio com a visita de Lula à Cuiabá na reta final da campanha.
Se por um lado os esforços estavam sendo recompensados com a preferência do eleitor, por outro, punham votos a perder. No vale tudo para conquistar votos, erros estratégicos foram cometidos, a exemplo da dose de exploração do episódio do beijo, conhecido como "beijo da discórdia".
O uso do fato na mídia inicialmente reuniu eleitor, mas depois, provocou repulsa em muitos, conforme Turma do EPA pode constatar em manifestações na coluna própria dos leitores e pela manifestação espontânea de seus leitores nas mídias sociais onde sobressaiu o "Cuiabá vota para prefeito e não para miss" . O episódio foi explorado pelo PT além da sua capacidade de provocar indignação e acabou causando efeito inverso.
Outros exemplos que se encaixam, registrados nos últimos momentos de campanha, foram o flagrante de um carregamento de dinheiro pela Polícia Federal, estimado em R$ 8 milhões e a apreensão de 500 camisetas estampadas com a inscrição Federal, no mesmo tipo de letra da logomarca da Polícia Federal.
A investigação dos dois episódios está em curso e não há, ainda, uma conclusão sobre a autoria de nenhum deles, porém, a campanha adversária alegou de forma veemente se tratarem de ações da campanha de Lúdio Cabral.
O dinheiro seria para a compra de votos e as camisetas seriam usadas no dia da eleição por militantes com o objetivo de intimidar eleitores.
O Governador Silval Barbosa foi acusado pelos adversários de usar a máquina do Estado em favor da campanha petista e deverá responder à acusação na Justiça, segundo a coligação concorrente.
Se o Estado já se encontrava em situação delicada antes das eleições, com o Tesouro Estadual impossibilitado de honrar compromissos básicos, os meses que virão poderão trazer um cenário ainda pior, inclusive com atraso na folha de pagamento dos servidores do Poder Executivo.
Pobre Mato Grosso rico!