Pré-candidato a prefeito no município afirmou que a arrecadação deve ser regularizada e os débitos do Executivo, renegociados, assim como fez o governo do Estado
Nome: Wallace Guimarães
Estado civil: casado
Profissão: médico
KAMILA ARRUDA
Da Reportagem
Ao contrário do prefeito Tião da Zaeli (PSD), outra liderança política de Várzea Grande, deputado estadual Wallace Guimarães (PMDB), acredita que a dívida do município pode ser paga, sim.
Segundo ele, o Executivo municipal acumula cinco itens de inadimplência que podem ser regularizados após análise aprofundada da capacidade de endividamento e arrecadação. Com isso, o peemedebista, que é médico, quer voltar a firmar convênios estaduais e federais, principalmente para a construção e instalação de unidades de pronto-atendimento (UPAs). A intenção é desafogar o pronto-socorro e fornecer melhor qualidade de atendimento à população.
Além disso, Wallace acredita que o município deve construir um novo pronto-socorro, com melhor capacidade estrutural e transformar o “velho” em maternidade, para atender gestantes e crianças.
O deputado é o único parlamentar que representa a “Cidade Industrial” no Legislativo mato-grossense e acredita que o município pode perder muito com isso, já que boa parte de suas emendas são encaminhadas a Várzea Grande. Contudo, afirma que poderá contribuir mais como prefeito.
Diário de Cuiabá - Como estão as articulações para a eleição em Várzea Grande?
Deputado Wallace Guimarães - O diretório regional oficializou meu nome como pré-candidato do PMDB na sexta-feira [1º] e o regional deve homologar na segunda [4]. Até porque nós também já temos o entendimento com o doutor João Virgílio, que também era pré-candidato, pois através das pesquisas quantitativas e qualitativas ficou demonstrado que meu nome é o que tem maior probabilidade de ganhar as eleições no município de Várzea Grande.
Diário – Então, houve uma pesquisa de intenção de votos?
Wallace - Foi feita uma pesquisa e automaticamente isto foi passado para as mãos de um analista político. Este analista político vai referendar o meu nome para o diretório regional na segunda-feira. A pesquisa é para consumo inteiro, por isso a gente acaba não antecipando o resultado e não foi registrada para ser divulgada. Então, não posso expor os números, até porque a pesquisa em termos de números não é o mais importante. O mais importante é a demonstração qualitativa de que o nome hoje, que suportaria um embate mais aflorado, mais caloroso, seria o meu.
Diário - Houve um embate interno entre o senhor, João Virgilio e Nico Baracat?
Wallace - O Nico já havia se afastado há mais de um mês. Ele afastou quando chegou o momento em que teria que fazer a desincompatibilização. Foi quando o governador Silval Barbosa o chamou e solicitou que ele permanecesse na Secretaria de Cidades. E aí, automaticamente atendendo a este pedido, numa missão de total importância para o Estado e também para o município de Várzea Grande, ele preferiu ficar na secretaria. Já o doutor João, eu e ele temos uma parceria muito grande, mas lógico que eram dois pré-candidatos que iriam disputar uma prévia, e isso é importante para fortalecer o partido. O ruim é quando o partido não tem ninguém querendo ser candidato. O nosso teve a felicidade de ter quatro nomes, e aí dentre esses quatro nomes culminou na decisão do meu.
Diário - Estamos a apenas cinco meses das eleições. Qual análise o senhor faz do cenário político atual?
Wallace – Olha, o que a gente pode dizer é que a cidade em si se encontra em um momento de dificuldade, em uma carência quase que geral sobre o aspecto, principalmente, estrutural, sobre a questão de saúde, lazer, educação e segurança. Ou seja, é uma cidade que precisa de um choque de gestão, de um candidato a prefeito que, primeiro, seja competente, preparado, e que também goste muito da cidade. Várzea Grande é uma cidade que vem sofrendo, ao longo de muito tempo, pela falta de planejamento estratégico. Muitas vezes a pessoa que está administrando, o gestor, tende a não fazer mais. Quando não faz mediante um planejamento, acaba fazendo malfeito. E aí vêm os custos desnecessários. Hoje, eu, Wallace, se tudo acontecer como se está planejando e eu me tornar prefeito da cidade, com certeza vou trabalhar muito em cima do planejamento estratégico de médio e de longo prazos. Tentar transformar o município de Várzea Grande em uma cidade saudável e com perfil educador, porque acredito que as duas coisas se somam. Quando se fala em cidade saudável é no sentido de não nascer nenhuma avenida sem uma pista de caminhada e ciclismo, que, além de estar relacionado à saúde, também engloba a questão da segurança e trafegabilidade, a questão da mobilidade urbana que está sendo tão falada. Além disso, com essa opção, muitas pessoas vão preferir ir para o serviço andando ou de bicicleta, o que consequentemente irá diminuir o trânsito, o efeito estufa, os problemas com a questão ambiental. O transporte de massa tem que ser trabalhado porque é um transporte de qualidade, eficiente, barato e que faz com que você não precise pegar o seu carro para se locomover. E a gente vê que, para ter uma cidade transformada, principalmente no caso de Várzea Grande, temos que investir em duas situações básicas. A primeira coisa que você tem que pensar é na questão de gestar e, o segundo, no profissional. Hoje, você tem que qualificar o seu servidor, os seus colaboradores, porque a prefeitura nada mais é do que uma prestadora de serviço da sociedade. E ela deve estar preparada, com uma equipe qualificada, promovendo uma verdadeira economia de mercado, que é fazer com qualidade, porém com baixo custo, que é não desperdiçar o dinheiro público, porque ele é escasso.
Diário - Como o senhor pretende realizar todos esses investimentos se a prefeitura está endividada e nem pode receber recursos estaduais e federais, pois está sem certidão negativa?
Wallace - Temos que pagar a dívida. Agora, a questão é como pagar a dívida. Primeiro, nós temos que saber a dimensão real da dívida, porque tem dívidas com diversas instituições. Ao total, são cinco itens de inadimplência que existem na prefeitura hoje, e vamos ter que buscar alternativas para pagá-los. A cidade não tem regularização fundiária e, se não tem, ninguém paga imposto, e se ninguém paga imposto, o município não arrecada. É o que eu falo: se não tem planejamento, não tem como caminhar. Temos que ver também a capacidade de endividamento do município. Hoje me parece que o município deve quase que um orçamento inteiro, aproximadamente R$ 300 milhões. Então, levando em consideração a capacidade de endividamento do município, nós temos que buscar alternativas, mesmo nas linhas de financiamento, se for necessário. Mas são nessas horas que você tem que promover a criatividade, para buscar alternativas para sair da inadimplência, e, saindo, buscar investimentos com recursos estaduais e federais. Esta dívida foi construída a longo prazo, então não tem como a gente, em passos de mágica, pagar. Mas temos condições de refinanciá-la e sair da inadimplência. O Estado, por exemplo, tem mais de R$ 2 bilhões de dívidas e não está inadimplente.
Diário - Várzea Grande irá perder o único deputado estadual que tem caso seja eleito prefeito...
Wallace - Naturalmente que sim. Eu vejo que Várzea Grande perdeu uma oportunidade de eleger cinco deputados estaduais. Uma cidade que tem 172 mil eleitores, e nesta faixa daria para ter 20 mil votos cada deputado e ainda teria 72 mil eleitores para distribuir votos aos candidatos de fora. Como prefeito, essa também pode ser uma alternativa, porque os prefeitos que passaram não tiveram essa visão. Elegendo deputados estaduais e federais da cidade automaticamente estaria buscando investimentos. E como não pensaram assim, deixou uma sobrecarga para mim, mas, às vezes, só eu não tenho condições de, em detrimento dos deputados das demais regiões, estar buscando essas oportunidades de investimento. Mas eu me propus a estar à disposição da prefeitura, mas quando nos deparamos com a situação da inadimplência fica difícil ajudar. Eu estou mandando para lá agora R$ 490 mil de emenda. No meu primeiro mandato, os meus primeiros R$ 2 milhões de emenda foram colocados no Hospital Metropolitano. Mas você não é deputado só de Várzea Grande, eu tive mais de 2.300 votos em Poconé, então você também tem que alocar recursos em outras regiões. Hoje, o pensamento da maioria dos deputados é trabalhar em cima da gestão, fazendo frente às secretarias e também ao governo, buscando trazer melhorias para a cidade. O governador Silval Barbosa talvez seja o governador que vai quebrar todo essa paradigma de que os governadores investem pouco na Baixada Cuiabana. O Blairo Maggi, por exemplo, é outro. Falavam que ele só investia nas regiões que ele tinha fazenda, que ele tinha plantação, mas ele foi um dos que mais investiram na Baixada Cuiabana, principalmente na questão estrutural. Ele fez a ligação asfáltica de Barão de Melgaço a Santo Antônio; da Guia, a Rosário Oeste e a Jangada; fez o asfalto do Sesc Pantanal até o Pantanal. Deixou apenas dois municípios que serão feitos agora pelo Silval. E o governador Silval, juntamente com o Blairo, com o pensamento de dois estadistas, trouxe a Copa do Mundo para Cuiabá. E a Copa não veio apenas com a visão de cinco dias de futebol, veio pelas questões estruturais, pelo legado que vai deixar e pela visibilidade que vai trazer para cá.
Diário - O que o senhor vai fazer como prefeito que não faz como deputado?
Wallace – Primeiro, que quem tem o orçamento na mão é o prefeito. Quem tem que ser criativo, quem tem que promover a economia do município é o prefeito. Nós podemos sugerir, reivindicar, legislar, mas a prerrogativa de dizer o que vai ser feito no município é do prefeito. Ele que tem a capacidade de buscar investimentos, todas essas missões são de responsabilidade do prefeito. Infelizmente, não é do deputado. O deputado tem como sua principal função fiscalizar o Executivo, as ações da governabilidade. A outra é legislar, fazer projetos de leis que vão ao encontro da necessidade da população e do Estado. Hoje em dia, virou praxe os candidatos falarem que vão melhorar a administração e impulsionar a cidade.
Diário - O que o senhor pretende fazer de diferente dos outros?
Wallace - Quem vive de passado não consegue enxergar o futuro. Na minha gestão, você nunca me viu, e não vai ver, tecendo críticas destrutivas a nenhum prefeito, nem à cidade e nem à pessoa do prefeito. Minha posição é sempre somar, com críticas construtivas, tentar buscar alternativas para resolver os problemas. Enfim, auxiliá-lo. Tenho a consciência de que vou herdar coisas do passado, mas todas elas têm soluções, umas mais rápidas, outras mais demoradas. Acredito que o gestor tem que estar preparado, consciente, conhecer a cidade, tentar ser criativo para buscar recurso e trabalhar com pessoas qualificadas. É aquela coisa: tentar fazer muito com pouco, porque fazer pouco com muito é muito fácil.
Diário - O senhor já tem um plano de governo?
Wallace - Estamos acabando de elaborar nosso plano de governo. Baseia-se em uma cidade saudável e também educadora.
Diário - Como médico, tem projetos específicos para a área da saúde?
Wallace - É justamente por conta da saúde que eu tenho como um dos títulos da minha gestão uma cidade saudável. Várzea Grande hoje tem apenas 25% de cobertura do Programa Saúde da Família, que trata a promoção da saúde. O Ministério da Saúde preconiza 62%, ou seja, está muito aquém do necessário. Tem apenas 12% do esgoto tratado, então não tem como você pensar em saúde sem saneamento. Eu sei que é muito fácil falar, mas não fui eu que tive a oportunidade de promover essas mudanças com R$ 154 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento [PAC 1]. Aplicaram apenas R$ 70 milhões e o restante está até hoje parado na Caixa Econômica Federal, que me parece que foi destravado agora. Mas já se passaram os quatro anos e quase nada foi feito. Tudo bem, os dois prefeitos tinham problemas, mas eles também tinham o recurso na mão. Então, eu vejo que Várzea Grande hoje, em termos de saúde curativa, precisa ou de um grande hospital, pois o pronto-socorro já não está conseguindo atender à demanda, ou se transforme em hospitais diferenciados, ou seja, atender várias unidades, cada uma assumindo uma especialidade. Como, por exemplo, transformar o pronto-socorro em um hospital-maternidade, que atenderia gestantes e crianças, e construir outro para atender os adultos, traumas, etc. Não dá mais para ficar fazendo pequenos reparos, trocando azulejos dentro do hospital, porque isso não vai aumentar sua capacidade. Você tem que ser audacioso e transformar o pronto-socorro igual se faz em São Paulo e em muitos outros estados. O pronto-socorro não tem mais para onde ser ampliado, nem verticalmente nem na questão estrutural, por conta do espaço físico. E também temos que buscar a parceria do governo federal para construir unidades de pronto-atendimento (UPAs).
Diário - A questão de coligação já vem sendo discutida?
Wallace - A instabilidade que estava sendo criada em torno de eu ser ou não o candidato do PMDB fez com que nós conversássemos com muitos e não decidíssemos nada, mas aqueles que estávamos afinados com a possibilidade de me apoiar precisavam de uma posição mais concreta. Conversamos bastante com PT, PR, PDT, PHS, PNM, PCdoB e PP.
Diário – Destes, quais são os mais próximos?
Wallace - Dentro do bloco dos 11 partidos, temos pelo menos cinco ou seis partidos que têm uma afinidade por mim e pelo PMDB. O PT tem afinidade até pela questão nacional: somos coligados nacionalmente. O PR também, o PDT, mas ainda precisamos nos sentar e discutir melhor, até porque estamos em cima da hora. Ou decidimos agora este arco de alianças e, a partir daí, decidimos quem será o vice, ou a eleição passa e não se constrói.